"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 4 de agosto de 2013

SÓ MUDA QUEM QUER


Um efeito imediato as manifestações de ruas já conseguiram certamente. Há um entendimento geral de que é preciso fazer mudanças nas máquinas públicas, seja em âmbitos municipais, estaduais ou federal.
Aquela velha ideia de que o poder público é um guarda-chuva aberto e capaz de abrigar todos os afilhados dos poderosos começa a ser desfeita do ponto de vista dos que têm a caneta.

Os governos de São Paulo e Minas Gerais, ambos comandados pelo PSDB, já tomaram suas iniciativas no sentido de efetuar cortes de despesas e reduzir pessoal. Os críticos vão dizer que há nessas medidas um forte viés eleitoral.
Mas que assim seja, o importante é que o dinheiro público seja tratado com mais seriedade. Independentemente dos motivos que estejam levando à mudança de mentalidade, a nova rota é a desejada e a reclamada nas ruas de todo o país.

O governo federal está demorando mais para reconhecer aquilo que é inevitável. A presidente Dilma Rousseff, ao afirmar que não pretende fazer cortes de pessoal e custeio, está evitando confirmar o discurso oposicionista de que a máquina federal é muito gorda. Estratégia que não parece acertada.

Depois do que ocorreu em todo o país – protestos sequenciais e sempre com um grande número de adeptos –, fica evidente que é mais importante acertar o passo com a sociedade do que medir força com o adversário político. Seria melhor corrigir os rumos neste momento – a mais de um ano da eleição – do que admitir o equívoco durante a campanha eleitoral.

INTENÇÕES CONTAM POUCO

Na política, as intenções contam pouco ou quase nada. As ações são as donas do simbolismo. Os políticos do século passado costumavam dizer que “quem é bonzinho não tem voto”. Atualmente, a máxima é bem outra: “Quem não escuta não ganha eleição”. O protesto já aconteceu, a reclamação foi colocada na mesa, muda de trajetória quem quiser. Mas, certamente, nenhum movimento, seja de inércia ou de aceleração, ficará impune.

Em outubro de 2014, deputados, senadores, governadores e a presidente Dilma Rousseff serão testados. Será a oportunidade de avaliar de fato quem está escutando melhor. O PSDB tem se mostrado rápido e sintonizado com as manifestações, o que, ainda assim, não está impedindo um certo desgaste para Geraldo Alckmin, em São Paulo. Já o PMDB está meio perdido, sem saber se continua o casamento com o PT ou se começa um divórcio para se mostrar mais disponível em 2014. Enquanto isso, Sérgio Cabral vive seu inferno astral no Rio de Janeiro.

O PT da presidente Dilma Rousseff é o partido que demonstra estar mais perdido. Em alguns momentos se aproxima da sociedade e, em outros, prefere reafirmar suas posições, ainda que correndo o risco de ficar navegando contra a maré.

04 de agosto de 2013
Carla Kreefft (O Tempo)

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