"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 4 de agosto de 2013

A BUSCA POR UMA AGENDA POSITIVA

 

A coincidência de Getúlio se suicidar, Jânio renunciar e Juscelino morrer de acidente em agosto marcou este mês como um período sombrio para todo político supersticioso. E o Congresso voltar do recesso neste momento, quando há uma tensão especial no seu relacionamento com o Planalto, não ajuda a exorcizar o pessimismo de alguns.

A tensão, na verdade, é mais ampla e terminou amplificada pelo fato de o ex-presidente Lula ter resolvido antecipar a campanha eleitoral com o lançamento da candidatura à reeleição de Dilma.

Veio a crise econômica, a alta da inflação, e o mau humor “difuso” entre jovens correu as redes sociais e encheu ruas das capitais com as primeiras manifestações sem o controle das máquinas de protestar do PT, sindicatos e organizações aliadas.

A popularidade dos governantes, com raras exceções, desabou. No caso de Dilma, o mergulho dos índices excitou parte da base parlamentar do governo, atenta a possíveis alternativas nas urnas de 2014, para mudar de barco antes que o da reeleição naufrague.

O abalo injetou tensão também na relação nunca tranquila entre o PT e a presidente. Lulopetistas não escondem o desejo da volta do líder — que diz não querer —, e facções pregam o rompimento com o PMDB, infalível maneira de puxar o tapete da presidente.


É neste cenário que o Congresso retoma os trabalhos, e é bom que trate de formular uma agenda de fato positiva. Um dos pontos de tensão deriva da falsa esperteza de o PT e Dilma tentarem transferir para o Legislativo todo o ônus das manifestações.

Primeiro, pela ideia, afastada por ilegal, da Constituinte exclusiva, substituída, depois, pelo não factível plebiscito da reforma política.

Ao barrar a proposta, de forma sensata e a partir de argumento da Justiça Eleitoral, o Congresso poderia ser acusado de atravancar a modernização da vida política.

Preveem-se, como troco, a derrubada de vetos presidenciais e/ou a aprovação de projetos capazes de abrir rombos nas contas públicas, estas já numa conjuntura pouco animadora.

Não é sensato. As melhores lideranças precisam agir para desintoxicar a atmosfera nesta volta do recesso — de lado a lado. O Congresso tem muito a fazer em reformas tópicas na legislação político-eleitoral, por exemplo.

Como a extinção das coligações nos pleitos proporcionais, criação de uma cláusula de barreira eficaz e o fim do senador sem voto. Falta, também, resolver o futuro da votação secreta em cassações e outros assuntos.

Para melhorar o “ambiente”, o governo anunciou que liberará R$ 6 bilhões em emendas parlamentares. É pedir demais a renúncia ao fisiologismo.

04 de agosto de 2013
Editorial d'O Globo

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