Com crescimento baixo, dólar e inflação, lucro de 20 grandes companhias fica estagnado. No 1º semestre, ganhos somam R$ 30 bilhões. Resultado representa queda de 0,44% em relação a igual período de 2012
Pressionadas por uma economia que cresce em ritmo mais lento do que o previsto, por uma inflação persistentemente elevada e um câmbio que mais atrapalhou do que ajudou até aqui, o lucro líquido das 20 maiores empresas brasileiras de capital aberto somou R$ 30 bilhões no primeiro semestre deste ano, revelando uma estagnação em comparação aos R$ 30,1 bilhões do mesmo período do ano passado, ou uma pequena queda de 0,44%, segundo levantamento do GLOBO a partir da base de dados da agência Bloomberg News.
São empresas como a varejista Pão de Açúcar, que viu seu lucro encolher 33,85% no primeiro semestre deste ano, frente a igual período, para R$ 278 milhões, em meio ao que os executivos chamaram de cenário desafiador de “inflação alta, juros maiores e perspectivas mais modestas de crescimento da economia”. Ou da fabricante de aviões Embraer, que registrou ganhos 83% menores no semestre, de R$ 51,7 milhões, afetada pela alta de 10% do dólar.
O levantamento desconsidera três gigantes brasileiras: Petrobras, Banco do Brasil e Vale, companhias que distorcem as estatísticas por causa de impactos atípicos em seus resultados. A Petrobras mudou a regra de contabilidade, o que evitou um impacto de R$ 8 bilhões do câmbio no segundo trimestre. Com crescimento baixo, dólar e inflação, lucro de 20 grandes companhias fica estagnado
O BB teve uma receita atípica com venda de ações da BB Seguridade, que fez a maior oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) do país no ano. E a Vale sofreu forte impacto do câmbio. Se as três empresas tivessem sido incluídas no cálculo, o lucro das 20 maiores companhias brasileiras teria crescido 10,26%, de R$ 54,4 bilhões no primeiro semestre de 2012 para R$ 60 bilhões no primeiro semestre deste ano.
Segundo Alex Agostini, economista-chefe da agência Austin Ratings, o ano parece “praticamente perdido” para o crescimento do país e das empresas brasileiras. Ele lembra que a expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens de serviços produzidos pelo país) está agora em 2,21% para 2013, segundo a média das expectativas do mercado no boletim Focus, do Banco Central (BC). Essa expectativa era de 4% um ano atrás.
— Muitas empresas pegaram financiamento para investir e crescer. Mas o que vamos ver é o dinheiro ficar empoçado, ou seja, aplicado em títulos públicos, em vez de direcionado para a atividade produtiva. E isso tem a ver com a inflação elevada, com desonerações pontuais do governo. É uma pena, porque o que precisamos é justamento de investimentos — diz Agostini.
Em 300 empresas, queda foi ainda maior: 2,6%
Para Eduardo Velho, economista-chefe da Invx Global Partners, o mau resultado das empresas não revela apenas a frustração com um crescimento que não se materializou, mas o impacto efetivo dos indicadores desfavoráveis para as empresas. Ele cita o câmbio, que pode ajudar exportadores no médio e no longo prazo, mas que até agora contribuiu para elevar em reais a dívida das empresas em moeda estrangeira.
— No segundo semestre podemos ver uma recuperação de algumas empresas exportadoras, desta vez ajudadas pelo câmbio e pela recuperação de preços de commodities — acredita.
Num levantamento mais amplo, com 300 companhias de capital aberto, o lucro das empresas brasileiras apresentou queda ainda maior, de 2,6%, também realizado a partir de dados da agência Bloomberg News.
Alexandre Póvoa, sócio-diretor da Canepa Asset Brasil, destacou que, neste primeiro semestre, embora a média dos lucros tenha caído, o desemprego permaneceu praticamente estável e encerrou junho em 6%, segundo o IBGE. Isso pressionou os custos das empresas sem crescimento das receitas.
— É um cenário de vendas menores com o mesmo número de pessoas empregadas — destacou Póvoa.
16 de agosto de 2013
Bruno Villas Bôas e Daniel Haidar - O Globo
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