"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ISRAEL: O MOMENTO CERTO PARA DANNY DANON?

                     
          Internacional - Oriente Médio 
"Loucura". É assim que Danny Danon retrata a decisão do Primeiro Ministro Benjamin Natanyahu de transferir 104 assassinos para a Autoridade Palestina como "gesto de boa vontade".

Danon (direita) é visto por muitos como uma espinha atravessada na garganta de Netanyahu, como mostra a charge no diário Ha'aretz.
Ele não está sozinho, muitos observadores (inclusive eu) estamos indignados com essa medida. Mas Danon, 42, encontra-se em uma posição única e privilegiada nesse debate, pelo fato de (1) fazer parte do parlamento de Israel como membro do Partido Likud de Netanyahu, (2) ser presidente do Comitê Central do Likud e (3) servir como vice-ministro da defesa de Israel.
 
Visto através dos olhos de um americano, essas críticas lembram a entrevista concedida pelo Gen. Stanley McChrystal em 2010 onde ridicularizava o Vice-Presidente Joe Biden. Mas McChrystal estava de saída enquanto Danon continua ganhando influência e prestígio.
 
A habilidade de Danon em censurar as atitudes de seu próprio primeiro ministro mostra que não se trata apenas de mais um político. Três qualidades se sobressaem: devoção a princípios, maestria em táticas e habilidade de articular seus pontos de vista.

Danon se manteve fiel aos princípios centrais de seu partido e de seu país. Sua oposição moralmente correta quando seu partido comete erros, como por exemplo o congelamento da construção de residências para judeus na Cisjordânia em 2009 ou a aceitação da solução de dois estados, mostra força de caráter. Ele mesmo diz, "não é fácil estar em um recinto com trinta pessoas e só você dizendo não".
 
Sua ascensão nas instituições dos partidos conservadores de Israel revelam habilidade tática: servir como assistente de Uzi Landau, como chefe da World Betar Organization (Organização Mundial Betar), como organizador de manifestações de rua e rival à liderança do primeiro ministro no partido.
 
Essas iniciativas culminaram em seu marcante desempenho na classificação eleitoral de seu partido (alcançando a quinta posição) e os impressionantes 85% dos votos obtidos em eleições para liderar o Comitê Central do Likud.
Com propriedade, o jornal Forward o chama de "mestre da mídia social e convencional" e o Times of Israel o considera "um importante obstáculo à criação do estado palestino".
 
Yitzhak Shamir, o último dos primeiros ministros de Israel com princípios, deixou o cargo em 1992.
Finalmente, a visão: A abrangência de sua articulação encontra-se em seu livro publicado em 2012, Israel: The Will to Prevail (Israel: A Determinação de Triunfar, Palgrave), onde esboça uma visão ambiciosa e contrária à política externa de seu país.
 
Argumentando que a "história nos mostra que Israel frequentemente obtém melhores resultados quando age de acordo com seus próprios interesses... mesmo que isso signifique transgredir os desejos das administrações americanas", conclui que o estado judeu "se sai melhor quando toma decisões baseadas em seus próprios interesses".

Jerusalém, segundo ele, deveria ir atrás de seus objetivos, "com ou sem o apoio de seus aliados". Tal argumentação, muito corriqueira na maioria dos países, é audaciosa no caso de Israel, pequeno e cercado.
A hora de Danon pode ter chegado.
 
Como Netanyahu parece estar fazendo concessões imorais e excessivas à Autoridade Palestina, Danon apareceu como líder dissidente para contestar seu primeiro ministro (lembre-se da "loucura").
 
Se Netanyahu não se sentir mais acolhido dentro de seu próprio partido e deixá-lo para fundar um novo partido (seguindo exatamente os mesmos passos de Ariel Sharon em 2005), Danon será um candidato em potencial para liderar o Likud e vencer a eleição subsequente.
 
Um indício da sua ascensão são os insultos usados contra ele. A ministra da justiça Tzipi Livni inventou o termo "Danonismo" e exigiu que Netanyahu rejeitasse o parlamentar. Gideon Levy, colunista de extrema esquerda do jornal Ha'aretz, desdenhosa e temerosamente escreve "pequeno Danny Danon será grande, a menina dos olhos da direita israelense. … [ele] irá longe".
 
Daniel Pipes testemunhando diante do Comitê de Assuntos de Imigração, Absorção e Diáspora do Knesset, presidido por Danny Danon, em março de 2012.
Visto de uma perspectiva histórica, desde que o taciturno, porém cheio de princípios Yitzhak Shamir deixou o cargo de primeiro ministro em 1992, seus seis sucessores, de alguma forma se envolveram em traição política, corrupção ética e vaidade ilusória.
Sharon (2001-2006) abandonou seu mandato eleitoral, a ponto de sair de seu próprio partido, mesmo quando suas travessuras financeiras lhe impuseram constantes transtornos com a justiça.

Ehud Olmert (2006-2009) teve que renunciar devido a uma série de acusações de corrupção. Focado na ameaça iraniana, Netanyahu tem se saído bem desde 2009, mas sua disposição de soltar 104 assassinos contradiz, de modo preocupante, sua plataforma eleitoral de meio ano atrás.
 
Quanto à questão pessoal, durante as duas décadas pós Shamir, tenho constantemente tentado encontrar alguém com o caráter, energia, qualificação e visão para liderar Israel. Conheço Danon desde 2009 e cheguei a conclusão de que ele possui as qualidades necessárias. Espero e assumo que ele seja fiel a seus princípios e chegue ao ponto de acabar com as recentes políticas desordenadas do estado judeu e colocá-las em conformidade com as diversas conquistas surpreendentes do país. Muita coisa está em jogo.
 
16 de agosto de 2013
Daniel Pipes
Publicado no The Washington Times.

Original em inglês: The Right Moment for Israel's Danny Danon?
Tradução: Joseph Skilnik

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