"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

DIÁLOGO COM O COMENTARISTA MÁRIO ASSIS SOBRE A SÚBITA MUDANÇA DA LINHA EDITORIAL DA ORGANIZAÇÃO GLOBO

   


A cobertura maciça que a TV Globo vem fazendo a respeito da questão da licitação fraudada em São Paulo, e que envolve a Siemens, é estranha, pelo enorme tempo gasto nos noticiários nacionais – algo incomum, visto que a relação entre Globo e PSDB sempre foi estreita. Aí tem. São matérias que levam quase dez minutos.
E sempre que se fala em Mário Covas, Serra e Alckmin, é dito “governador de São Paulo, do PSDB”. O que não é habitual. Governador é governador, geralmente não se cita o partido dele, salvo quando se trata de questão política.
A TV Globo não prega prego sem estopa, como diziam meus pais. Acredito, salvo melhor explicação, que a Organização Globo foi ou está sendo prejudicada por alguma atitude do governo paulista. Sabe de alguma coisa?
 
12 de agosto de 2013
Mário Assis
 
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A ORGANIZAÇÃO GLOBO SE ACAUTELA

A mudança não ocorre somente na TV, mas também no jornalão e na revista Época. As manifestações de rua assustaram muito a Organização Globo.
Os outros jornais praticamente não noticiaram, mas houve  vários protestos de rua contra a própria Globo, inclusive com quebra-quebra num prédio da emissora, na Rua Jardim Botânico, onde fuciona a área comercial.

Numa dessas manifestações, dezenas de ativistas ligados aos grupos Black Blocs e Anonymous, entraram em confronto com a Polícia Militar. Eles saíram da frente da sede da emissora (a Vênus Platinada), onde estavam concentrados, e bloquearam a Rua Jardim Botânico, uma das principais vias da zona sul carioca.
A Polícia Militar interveio e houve um princípio de tumulto quando um manifestante foi detido e os policiais tentaram dispersar o grupo com jatos de gás de pimenta.

Os jornalistas da Globo não podiam cobrir as manifestações com equipamento que identificasse a emissora. Tinham de disfarçar, diziam ser da TV alemã ou italiana, coisas assim. Mas as outras emissoras também não podiam cobrir, carros foram incendiados, mas o fato é que bateu uma paranóia na Globo, que resolver se “abrir” politicamente, digamos assim.

Os irmãos Marinho estão tentando se adaptar aos novos tempos, sentiram que as coisas podem mudar por aqui. E agora os jornalistas globais estão podendo cair de pau na corrupção e na injustiça social, o que é ótimo, não é mesmo?

A mudança é radical: sexta-feira, por exemplo, o Globo Repórter colocou no ar um programa dramático sobre trabalho infantil e famílias inteiras que vivem excluídas. Porém, o mais surpreendente e sintomático ocorreria ontem à noite, na GloboNews.

Depois do Jornal das Dez, entrou no ar o programa Sem Fronteiras, sob o tema “Manifestações Populares”. Foram abordados vários tipos de protestos, incluindo o Occupy Wall Street e conflitos na Palestina. Todo esse trabalho, para fazer um extraordinário contorcionismo jornalístico e concluir, sem a menor prova, que a própria PM, através de “agentes provocadores”, poderia estar incentivando a radicalização nos protestos de rua no Brasil, sem lembrar que cada Estado tem uma PM diferente, que obedece a um comando próprio, enquanto a radicalização/vandalização demonstra ser um fenômeno nacional, não há a menor dúvida.

Tudo isso indica o grau da preocupação a que chegaram os irmãos Marinho (leia-se João Roberto, que é o chefe de fato da Organização). Traduzindo: os irmãos Marinho estão com tanto receio da radicalização que estão até mandando que seus jornalistas apoiem os radicais, compondo uma espécie de Samba do Crioulo Doido em versão Mídia Ninja.

O quadro está ficando cada vez mais interessante e instigante. Vamos aguardar para ver em que isso vai dar.

12 de agosto de 2013
Carlos Newton

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