A matéria de capa da revista inglesa The Economist do último dia 3 de agosto avisa que o consumo de petróleo, hoje nos 89 milhões de barris (159 litros) diários pode estar perto do seu pico.
Há razões para acreditar que, daqui para a frente, em vez de aumentar, essa demanda comece a cair. Se isso estiver correto, o Brasil corre o risco de deixar muito petróleo sem explorar, enterrado no subsolo.
A primeira razão pela qual o fim da era do petróleo pode estar mais próximo do que o percebido até agora, aponta a Economist, é a grande revolução do gás de xisto atualmente em curso, assunto já comentado várias vezes por esta Coluna. Nos próximos anos, esse gás, obtido por meio do fraturamento das rochas de xisto, não só deverá substituir em larga medida os derivados de petróleo, mas, também, será fator de redução expressiva dos preços do petróleo.
Por enquanto, são os Estados Unidos que produzem a maior parte do gás com essa tecnologia. Mas a novidade está atraindo a atenção e os investimentos de grande número de países.
A Economist prevê, também, que maiores exigências ambientais e o novo interesse do consumidor levarão os fabricantes de veículos não só a produzir motores bem mais eficientes, como, também, a substituir a tecnologia convencional por outras que dispensarão os combustíveis fósseis. Hoje, cerca de 60% do petróleo é utilizado para movimentar a frota global de veículos.
Desde a descoberta do pré-sal na Bacia de Santos, em 2006, a política do petróleo adotada pelo governo parte do pressuposto contrário ao apontado aqui: o de que a demanda mundial de petróleo só tende a crescer e, com ela, os preços. Segue-se que a exploração dessas riquezas não tem pressa. Pode seguir devagar, sem forçar demais a capacidade de investimento da Petrobrás e sem necessidade de abrir demais o mercado para empresas estrangeiras.
Faz parte desse entendimento o novo marco regulatório do pré-sal que obriga a Petrobrás a participar de todos os contratos de exploração na condição de única operadora e com participação mínima de 30%.
Como os recursos da Petrobrás são limitados, o ritmo das licitações terá de ser forçosamente lento. O primeiro leilão do pré-sal, depois das primeiras descobertas, só acontecerá em outubro, sete anos depois. Também faz parte dessa falta de pressa a atual política de represamento dos preços dos combustíveis que produz crescente deterioração do caixa da Petrobrás e, portanto, de sua capacidade de investimento.
Sempre há aqueles que argumentam que, se acontecer, essa suposta inversão do mercado do petróleo é coisa só para os anos 20. O problema é que entre a licitação e o início de produção de um campo de petróleo corre um prazo nunca inferior a oito anos. Este governo corre o risco de ser apontado no futuro como aquele que desperdiçou a oportunidade de aproveitar o petróleo para o desenvolvimento do País.
Nessas horas, soam como proféticas as advertências do xeque Ahmed Zaki Yamani, ministro do petróleo da Arábia Saudita nos anos 70. A quem o acusava de explorar depressa demais as riquezas do país dizia ele: "A idade da pedra não acabou por falta de pedra. É o que pode acontecer com o petróleo".
12 de agosto de 2013
Celso Ming, O Estado de São Paulo
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