Artigos - Cultura
O mundo de hoje não se importa mais com o que as palavras significam, mas apenas com a emoção que elas transmitem.
A sociedade contemporânea, vítima de décadas de propaganda ideológica, está sofrendo de uma mal silencioso, porém terrível: o ressignificar constante dos termos (*). Hoje, já não é possível mais ter certeza se o que falamos está sendo entendido da mesma forma por quem escuta. E o problema não reside apenas em uma questão de nível cultural, mas de imaginário mesmo.
Um exemplo óbvio é o significado que a palavra revolução assumiu na imaginação das pessoas. Ela tem, hoje, uma conotação extremamente positiva. Quando querem elogiar alguém por empreender uma tarefa nova e desafiadora, logo afirmam que o sujeito é uma pessoa revolucionária.
Ser revolucionário tornou-se a característica de alguém corajoso, destemido, que não se detém diante das dificuldades impostas por pessoas conservadoras e sistemas tradicionais. Para o homem comum, ser revolucionário é um elogio e tanto.
Do contrário, a palavra conservador tornou-se uma espécie de xingamento. Sim, não estou exagerando. Basta ver como a expressão é usada nos maiores veículos jornalísticos do país e logo se percebe que ser conservador, para eles, é algo negativo. Ser conservador é manter-se estagnado, subjugado aos sistemas impostos. Ser conservador é ser retrógrado, amante do passado (**).
No entanto, ambas palavras não possuíam, até os tempos modernos, essa conotação. Revolução sempre significou a quebra com os modelos vigentes, o racha com o passado. Ser revolucionário sempre representou ser alguém que desrespeita as conquistas, chegando até a ignorá-las, para empreender algo completamente novo, como se quisesse começar tudo do nada (***).
Por isso, ser revolucionário, antes da modernidade, não poderia ser visto como algo positivo, menos ainda como uma virtude. Era óbvio, para qualquer pessoa, que uma construção, do que quer que seja, deveria respeitar o que já havia sido feito. Não que as coisas não pudessem ser melhoradas e até substituídas algumas vezes, mas era evidente para qualquer um que não se faz nada sem algo anterior que o sustente e lhe dê direção.
Sempre foi muito claro que um revolucionário não apenas atenta contra a ordem moral ou política, mas afronta a ordem da natureza. O que ele pretende é uma impossibilidade.
Por isso, chamar alguém de revolucionário, além de um xingamento, deveria ser demonstração da estupidez do adversário. Seria como chamar alguém de burro por estar tentando colocar um quadrado em um espaço circular menor.
O problema é que o mundo de hoje não se importa mais com o que as palavras significam, mas apenas com a emoção que elas transmitem. E quando as palavras não possuem mais significado certo, tudo é possível e a comunicação impossível.
Notas:
* Estou preparando um artigo sobre o uso dessa prática (ressignificação) pelos treinadores de neurolinguística e seus perigos.
** Escreverei, também, sobre como o conservadorismo pode ser dinâmico e nada tem a ver com retrocesso.
*** Outra ideia a ser trabalhada aqui no blog: como o revolucionário busca substituir Deus, principalmente em sua tentativa de construir um novo mundo
12 de agosto de 2013
Fabio Blanco é advogado e teólogo.
Fabio Blanco é advogado e teólogo.
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