Não vai dar certo essa história de a presidente Dilma mudar seu jeito de ser e passar a reunir-se rotineiramente com as bancadas dos partidos que a apoiam. Porque nada mudou debaixo do sol.
Deputados e senadores saem do gabinete presidencial apregoando que tudo está diferente, que a chefe do governo injeta litros de otimismo nas veias de cada um, que o Brasil está dando certo, voltou a crescer, recebe outra vez montes de investimentos externos e debelou a perspectiva de inflação.
Na verdade, não é bem assim, porque Suas Excelências aproveitam a oportunidade de aproximar-se da chefe para fazer queixas,aliás, muitas delas justas, e obter vantagens como compensação. Além do que, as dificuldades continuam as mesmas.
O povão não deixou as ruas e permanece em estado de rebelião, exigindo não se sabe mais bem o quê, mas invadindo assembleias, câmaras de vereadores, prefeituras e, ninguém se engane, logo de novo estarão nas rampas e salões do Congresso e dos ministérios. Prevê-se para o Sete de Setembro manifestações capazes de ofuscar os desfiles militares, ainda que cautelosamente previstos para a parte da tarde, depois que os soldados tiverem retornado aos quartéis.
Numa palavra, a insatisfação e a indignação permanecem, significando que melosos colóquios entre Executivo e Legislativo pouco exprimem em termos de pacificação nacional. Muito menos a liberação de verbas para emendas parlamentares ou a promessa de envio de recursos para obras de infraestrutura por enquanto realizadas no papel e nos microfones.
Nem o governo nem os políticos dão-se conta do que acontece no país. Não se trata de acomodações, mas de rebelião mesmo, das grandes. A paciência nacional esgotou-se, tanto faz se a administração atual paga pelos pecados das anteriores. A Nação revolta-se contra o Estado, atropelando o Governo, em primeiro lugar.
Os otimistas supõem que tudo possa acertar-se com as eleições do ano que vem, quando o eleitorado rejeitaria a maior parte de seus representantes e passaria o Brasil a limpo. Pode não dar tempo. Nem haver material humano em número suficiente para significar renovação completa.
A rebelião está em marcha, de conseqüências imperscrutáveis.
Mais até pela mudanças das mentes do que das ações. Esgotou-se a estratégia de trocar seis por meia dúzia, quer dizer, para o sentimento nacional são todos farinha do mesmo saco, importando menos se quem governa é o PT, o PSDB, o PMDB ou que outro partido seja.
A onda levantada em junho não dá sinais de desaguar placidamente na praia, cobrindo no máximo nossos tornozelos. É tsunami mesmo, que a boa vontade e a inusitada mudança de postura da presidente Dilma pouco irão alterar.
AGUENTAR O TRANCO
A pergunta que se faz é se as instituições vigentes disporão da força necessária para aguentar o tranco. O Judiciário dá sinais de fraqueza quando o Supremo Tribunal Federal abre as portas para novo julgamento dos mensaleiros, ao tempo em que admite a inusitada situação de parlamentares serem condenados à cadeia e continuarem mantendo seus mandatos.
O Legislativo cultiva o mesmo corporativismo de sempre e nenhuma iniciativa tomou ate agora para reformar de verdade as estruturas políticas e eleitorais.O Executivo enclausurou-se no expediente de liberar verbas para reconquistar apoio, mas em momento algum dispôs de coragem para extirpar métodos fisiológicos em seu relacionamento com o Congresso.
Mas tem mais, muito mais. Os instrumentos legais da sociedade civil pensam voltados para seus interesses. A Ordem dos Advogados do Brasil e as associações de magistrados atacam o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, por ter ele adquirido um apartamento em Miami, mas silenciam diante da mesma morosidade de sempre no julgamento das causas em tramitação nos tribunais. Milhares de reivindicações trabalhistas justas, necessárias e óbvias permanecem dormindo nos tribunais através de influências e expedientes contrários ao Bom Direito.
Entidades centenárias rendem-se a pressões partidárias para silenciar em troca de favores publicitários do poder público.
A proliferação de ONGs fajutas criadas para mamar nas tetas do governo atropelam as sérias e honestas.
Sindicatos omitem-se diante das reais necessidades do trabalhador para partidariamente receberem migalhas ofertadas da mesa dos banquetes do poder.
O Estado encontra-se em frangalhos, tanto quanto as instituições nacionais.
A Nação reage. Ignora-se onde vão dar as coisas, mas seria bom tomar cuidado. Do caos, geralmente brota o caos.
12 de agosto de 2013
Carlos Chagas
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