Previdente, esse rapaz. Sabe onde pisa. Como relator do novo Regimento Interno do Senado, Edison Lobão Filho (PMDB-MA), no exercício do cargo que seu pai, ministro das Minas e Energia, deixou vago, decidiu sumir com a palavra ética.
Está no Houaiss: "Ética é o conjunto de preceitos sobre o que é moralmente certo ou errado". Moral "é o conjunto de regras de condutas desejáveis num grupo social".
Há dentro do Regimento um código de ética. É sobre ele que juram os parlamentares na hora em que tomam posse dos seus cargos. Se depender de Lobão Filho, a palavra desaparecerá do código.
Afinal, o que é ética para você poderá não ser para ele, argumenta o senador. "A ética é uma coisa muito subjetiva, muito abstrata". Daí... Daí que Lobão está sendo apenas realista. E menos hipócrita do que seus colegas.
Fraudar notas fiscais para justificar gastos com verba de gabinete é faltar com a ética ou não?
E omitir da Justiça dinheiro recebido para pagar gastos de campanha?
E embolsar grana por fora para votar como manda quem pode?
E retardar a instalação de uma CPI à espera de que seus apoiadores desistam dela em troca de vantagens?
É espantosa a quantidade de políticos que procedem assim impunemente. Quase todos.
Tem uma CPI Mista prontinha no Senado destinada a se lambuzar com o mar de lama que escorre das obras da Copa do Mundo. Poderia estar funcionando. Mas Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, deu um tempo para que seus pares pensem melhor a respeito.
Um pensou e tirou a assinatura: Zezé Perrela (PDT-MG). Outro, João Alberto de Souza (PMDB-MA), topa tirar desde que empregue um dos seus filhos no governo.
Cadê o gigante? Ele não havia acordado?
Foi em junho último que manifestações diárias sacudiram o país. Num único dia, mais de três milhões de pessoas gritaram slogans, enfrentaram a polícia e algumas botaram para quebrar.
Nunca os políticos temeram tanto o povo. A presidente da República falou à Nação. O Congresso prometeu aprovar em regime de urgência um lote de benfeitorias sob o título de Agenda Positiva.
Para aumentar o sufoco dos alvos preferenciais do gigante, o Papa Francisco passou uma semana entre nós dando lições de humildade. E antes de ir embora, aconselhou os jovens a irem para as ruas.
O gigante ganhou na internet até a companhia de um canal exclusivo de televisão só para amplificar seus maus modos. No ar, a Rede Ninja!
Pois cansado - quem sabe? - resolveu dormir outra vez. Para quê? Quanta preguiça!
O que a presidente propôs para amansar o gigante fracassou - reforma política, constituinte exclusiva, plebiscito ou mesmo referendo, dois anos a serviço dos mais pobres para quem desejasse se graduar em medicina.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) qualificou de engodo o pacote de promessas do Congresso concebido sob medida para entorpecer o gigante.
Desde então ministros e políticos voaram nas asas da FAB e ofereceram caronas a amigos e parentes.
Amarildo desapareceu.
A cara de bom moço do PSDB foi seriamente desfigurada pelo escândalo das licitações de trens dirigidas.
O lobista do PMDB na Petrobrás chocou o distinto público com suas histórias medonhas. Uma delas sobre dinheiro para a campanha de Dilma. Outras, que aguardam publicação, sobre gente só um tico menos graúda do que Dilma.
Os Ninjas estão na berlinda de castigo tamanha é a série de depoimentos que abalou sua reputação.
Quanto ao gigante...
Nada mais esquisito.
Faz o maior auê, sai de cena de mãos vazias e se recolhe para pegar no sono.
Não, meu caro, não é hora de deitar em berço esplêndido.
12 de agosto de 2013
Ricardo Noblat
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