A desaceleração brasileira não foi compartilhada pelos demais países da AL nem pelo resto do mundo
O crescimento da economia brasileira tem se desacelerado acentuadamente desde 2009. A forte expansão de 7,5% de 2010 foi, na verdade, uma recuperação do crescimento negativo do ano anterior.
No biênio 2009-10, o crescimento médio da economia foi de 3,5% ao ano, ou 0,5 ponto percentual abaixo da média do governo Lula. Ou seja, a desaceleração da economia já vem de muitos anos.
Essa é uma situação em que o economista tipicamente fica em dúvida sobre até que ponto o processo é cíclico --fruto, por exemplo, da desaceleração da economia global em razão da crise de 2008. É possível também que haja um componente a mais na história, ligado especificamente ao país.
A dificuldade é que, como geralmente acontece nas questões econômicas, temos de lidar com o complexo problema da inexistência de um experimento controlado.
Em outras palavras, a crise global não aconteceu sozinha. Outros fatores condicionantes do crescimento do Brasil também mudaram desde a sua eclosão. Logo, é muito difícil associar a desaceleração, de forma conclusiva, a esta ou aquela causa.
Sem negar a importância do ciclo internacional, que sempre existiu e influencia sobremaneira os movimentos cíclicos das economias, é importante enfatizar que o grau de desenvolvimento de uma economia depende de sua tendência de crescimento no longo prazo.
A Austrália apresenta renda per capita diversas vezes maior do que a nossa. Não obstante ela estar sujeita aos mesmos movimentos cíclicos da economia mundial aos quais estamos sujeitos (como país também exportador de commodities), ao longo de décadas a Austrália cresceu a taxas médias superiores às nossas. É esse fato que explica a renda per capita superior.
Retomando o fio da meada, a grande questão é saber se a queda do crescimento brasileiro desde 2009 representa um movimento cíclico, acompanhando a tendência da economia mundial, ou se resulta de alguma alteração de política econômica que ocorreu no passado recente.
Penso que a maior parte de nossa desaceleração não é cíclica. A tabela apresenta taxas de crescimento da América Latina, de diversos países da região e do mundo.
O objetivo de comparar o Brasil com outras economias é tentar contornar o problema da inexistência de um experimento controlado. Como as economias latino-americanas são parecidas com a brasileira em diversas dimensões, mas não experimentaram a mesma alteração de política econômica interna pela qual passamos, podemos tentar separar o que é o efeito cíclico (ligado à economia global) da tendência doméstica de crescimento do país.
Na era Lula, o aumento do PIB nacional ficou 0,1 ponto percentual acima da economia mundial e 0,1 ponto percentual abaixo do continente. Já nos três primeiros anos da presidente Dilma, nosso crescimento será praticamente 1,5 ponto percentual inferior ao da América Latina e ao da economia mundial.
Em outras palavras, a desaceleração recente da nossa economia não foi compartilhada pelos demais países latino-americanos nem pelo resto do mundo. Assim, não parece que a intensidade da perda de dinamismo da economia brasileira possa ser atribuída ao movimento cíclico da economia mundial nem ao impacto desse movimento na América Latina.
A desaceleração da economia mundial foi muito menor do que a nossa. Nossos vizinhos, economias com instituições e história que acompanham a nossa em diver- sas dimensões, não sentiram tanto os efeitos cíclicos da crise como sentimos.
Há claras indicações, portan- to, de que há uma redução da tendência de crescimento de nossa economia.
11 de agosto de 2013
Samuel Pessoa, Folha de São Paulo
No biênio 2009-10, o crescimento médio da economia foi de 3,5% ao ano, ou 0,5 ponto percentual abaixo da média do governo Lula. Ou seja, a desaceleração da economia já vem de muitos anos.
Essa é uma situação em que o economista tipicamente fica em dúvida sobre até que ponto o processo é cíclico --fruto, por exemplo, da desaceleração da economia global em razão da crise de 2008. É possível também que haja um componente a mais na história, ligado especificamente ao país.
A dificuldade é que, como geralmente acontece nas questões econômicas, temos de lidar com o complexo problema da inexistência de um experimento controlado.
Em outras palavras, a crise global não aconteceu sozinha. Outros fatores condicionantes do crescimento do Brasil também mudaram desde a sua eclosão. Logo, é muito difícil associar a desaceleração, de forma conclusiva, a esta ou aquela causa.
Sem negar a importância do ciclo internacional, que sempre existiu e influencia sobremaneira os movimentos cíclicos das economias, é importante enfatizar que o grau de desenvolvimento de uma economia depende de sua tendência de crescimento no longo prazo.
A Austrália apresenta renda per capita diversas vezes maior do que a nossa. Não obstante ela estar sujeita aos mesmos movimentos cíclicos da economia mundial aos quais estamos sujeitos (como país também exportador de commodities), ao longo de décadas a Austrália cresceu a taxas médias superiores às nossas. É esse fato que explica a renda per capita superior.
Retomando o fio da meada, a grande questão é saber se a queda do crescimento brasileiro desde 2009 representa um movimento cíclico, acompanhando a tendência da economia mundial, ou se resulta de alguma alteração de política econômica que ocorreu no passado recente.
Penso que a maior parte de nossa desaceleração não é cíclica. A tabela apresenta taxas de crescimento da América Latina, de diversos países da região e do mundo.
O objetivo de comparar o Brasil com outras economias é tentar contornar o problema da inexistência de um experimento controlado. Como as economias latino-americanas são parecidas com a brasileira em diversas dimensões, mas não experimentaram a mesma alteração de política econômica interna pela qual passamos, podemos tentar separar o que é o efeito cíclico (ligado à economia global) da tendência doméstica de crescimento do país.
Na era Lula, o aumento do PIB nacional ficou 0,1 ponto percentual acima da economia mundial e 0,1 ponto percentual abaixo do continente. Já nos três primeiros anos da presidente Dilma, nosso crescimento será praticamente 1,5 ponto percentual inferior ao da América Latina e ao da economia mundial.
Em outras palavras, a desaceleração recente da nossa economia não foi compartilhada pelos demais países latino-americanos nem pelo resto do mundo. Assim, não parece que a intensidade da perda de dinamismo da economia brasileira possa ser atribuída ao movimento cíclico da economia mundial nem ao impacto desse movimento na América Latina.
A desaceleração da economia mundial foi muito menor do que a nossa. Nossos vizinhos, economias com instituições e história que acompanham a nossa em diver- sas dimensões, não sentiram tanto os efeitos cíclicos da crise como sentimos.
Há claras indicações, portan- to, de que há uma redução da tendência de crescimento de nossa economia.
11 de agosto de 2013
Samuel Pessoa, Folha de São Paulo
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