Antes tarde do que nunca
Denúncia profunda acaba de ser publicada em artigo, na Folha de S. Paulo, contra “a avalanche do pensamento único, cujo codinome é neoliberalismo, apoiado por Estados corrompidos pelo sistema financeiro internacional”. Idéia-base calcada em Marx? Lênin? Luiz Carlos Prestes ou Leonel Brizola?
Nada feito. O autor é o professor Delfim Netto, na sua colaboração semanal. Fica desmentida a falácia de que todo mundo é esquerdista na juventude e acaba como adepto do mercado, na velhice. O vetusto mestre, entrado nos oitenta anos, vem demonstrar o oposto. Depois de chefiar a política econômica e a própria economia nacional por duas décadas, com essa simples frase Delfim rende-se à evidência do breve desaparecimento desse pernicioso modelo que por tanto tempo assolou o planeta. Felizmente, agora em vias de escoar pelo ralo.
A crise econômica na Europa não deixa outra alternativa. Os corruptos chegaram ao limite da prática de sustentar o aumento de impostos, a redução de salários, os cortes nos programas sociais e o incentivo ao desemprego como forma de as nações saírem da crise. Quem rasga a cartilha do sistema financeiro internacional é um de seus antigos leitores. Não estamos perdidos, muito pelo contrário…
***
A LÓGICA LUSITANA
Faz tempo que deixaram de circular entre nós as célebres “piadas de português”, que denegriam nossos avozinhos. Em vez delas ouve-se até hoje, nos dois lados do Atlântico, histórias que só fazem justiça à lógica, ao tirocínio e ao valor do povo lusitano, nem tanto quanto o nosso. De vez em quando, porém, assistem-se bissextas recaídas daquela moda ultrapassada.
Não apenas quem tem voltado de Lisboa, mas quantos aqui acessam essa imensidão de canais a cabo de televisão, estranham que em todos os programas portugueses, dos jornalísticos aos de auditório, os de humor e os de esporte, sem exceção, vê-se num dos cantos das telinhas o refrão “Não Há Crise”. Trata-se de um incentivo ao ânimo da população, mas não dá para esconder ser a crise palpável, em Portugal. Como coisa parecida o governo brasileiro adotou nos anos bicudos da ditadura, com o abominável “Brasil, Ame-o ou Deixe-o”, é melhor calar…
***
FILHA ENJEITADA
Até hoje é assim, mas quando do advento da Nova República era pior. Ninguém queria a Funai. Refugavam todos os futuros ministros do presidente Tancredo Neves. Já convidado para o ministério do Interior, num despacho com o presidente eleito, Ronaldo Costa Couto sugeriu descartar-se da Funai, opinando que ela fosse deslocada para o novo ministério da Cultura. Afinal, índios e antropólogos seriam bem acolhidos por José Aparecido de Oliveira.
Tancredo não vacilou um minuto, recusando a proposta com uma observação: “Se eu fizer isso, no dia seguinte o Aparecido estará promovendo um desfile de índios brasileiros pelo Champs-Elissés…
Outra envolvendo a Funai e Tancredo aconteceu quando, às vésperas da posse que não houve, um senador pelo Rio Grande do Sul sugeriu ao presidente eleito um nome para a entidade. Ficando de estudar, como sempre fazia, ao despedir-se Tancredo indagou do senador: “O que você tem contra esse seu indicado?”
***
NOME MAL ESCOLHIDO
Houve tempo em que sempre que um governo não queria resolver determinado problema, criava para enfrentá-lo uma “força-tarefa”. Era um bate-cabeça e uma confusão de ministros, funcionários, acadêmicos e diletantes reunidos semanas a fio. Nenhum resultado prático surgia, mas as reuniões geravam notícias, até manchetes, como se estivesse sendo resolvida a grave questão, logo esquecida.
Precisa cuidar-se a presidente Dilma, ao menos com a denominação de “força-tarefa”, escolhida para designar o grupo de seis ministros e montes de altos funcionários com a missão de remediar os efeitos das chuvas que assolam o país. Eles tem todas as chances de não resolver nada, por conta da superposição de tarefas entre vários ministérios, sem falar no ego de cada um. Melhor faria a presidente se definisse apenas um encarregado, ou uma encarregada para o trabalho. O risco é de não haver nem força nem tarefa.
12 de janeiro de 2012
Carlos Chagas
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário