Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
HISTÓRIAS DO SEBASTIÃO NERY
Um busto para Maluf
Três coronéis mandavam em Patos, na Paraíba: Miguel Satiro (pai do ex-deputado e governador Ernani Satiro), que era do governo; capitão Roldão Meira de Vasconcelos, que comandava a oposição. E João Olinto de Melo e Silva (pai dos irmãos Melo e Silva: o banqueiro Drault Ernani, o deputado Bivar Olinto e o empresário Adelgilson).
Acordavam cedo, muito cedo, e a força deles vinha sobretudo daí. Todas as manhãs, bem cedo, antes de a cidade despertar, os três se encontravam para um papo a três, onde punham em dia os fatos e boatos, segredos e intrigas da cidade. E nada vazava da conversa dos três.
Se a história era inconveniente, nem eles mesmos contavam um para o outro. Um dia, um filho do capitão Roldão, o Manduquinha, violentou a negra Sebastiana, menina levada, que toda a cidade conhecia. Naquela manhã, era só no que Patos falava. De manhã cedo, os três já tinham se encontrado:
- Bom dia, compadre.
- Bom dia. O que é que há de novo?
- E há alguma coisa de novo?
- Que eu saiba, não.
- Os compadres sabem?
- Eu também não sei.
- Nem eu.
E os três velhos, prudentes e convenientes, saíram, cada um para sua casa.
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MARANHÃO
O parágrafo 3 do art. 14 da Constituição de 88 diz:
“São condições de elegibilidade: VI – a idade mínima de a) 35 anos para presidente e vice-presidente da República e senador; b) 30 anos para governador e vice-governador; c) 21 anos para deputado federal, deputado estadual, prefeito e vice-prefeito; d) 18 anos para vereador”.
As Constituições anteriores diziam a mesma coisa. Mas no Brasil sempre se consegue uma exceção, sabe-se lá como. Na Paraíba, em 3 de outubro de 1954, o estudante de Direito José Maranhão, nascido em 6 de setembro de 1936, elegeu-se deputado estadual pelo PTB, com apenas 18 anos.
Ao que se sabe, o único no País, até hoje. Um deputado inconstitucional? Problema da Assembléia da Paraíba.
Justiça se lhe faça: reeleito em 58 e 62, sempre pelo PTB, e em 66 pelo MDB, fez excelentes mandatos, tanto que, em 69, o golpe militar, com o AI-5, lhe cassou o mandato e os direitos políticos.
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GARIBALDI
O povo deu a resposta. Com a anistia, em 79, Maranhão voltou à ação política e em 82, 86 e 90 se elegeu deputado federal pelo PMDB, sempre entre as maiores votações do Estado. Em 94, tornou-se vice-governador na chapa de Antonio Mariz, que morreu em 95 e ele assumiu definitivamente o governo, sendo reeleito em 98. Depois, foi, eleito senador em 2002, voltou ao governo com a cassação de Cassio Cunha Lima em 2009. Fez uma extensa carreira.
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MALUF
A lei do Monopólio Estatal do Petróleo era clara: só a Petrobras podia explorar petróleo. Mas Maluf assumiu o governo de São Paulo em março de 79 (mesmo dia de Figueiredo), era candidato a presidente da República e resolveu criar seu paraíso petrolífero: fundou uma empresa estadual de petróleo, a Paulipetro, contratou um punhado de geólogos de talento e ousadia e investiu na empreitada muitos milhões do governo de São Paulo.
A tese deles era óbvia: se a Petrobras estava encontrando oleo e gás, perfurando a 2 mil, 3 mil metros de profundidade, na bacia de Santos, bastava furar mais fundo, além dos 3 mil metros, chegando a 5 ou 7 mil, e o petróleo tambem apareceria. Mas havia dois obstáculos instransponíveis: só a Petrobras podia perfurar, e buscar petróleo a 5 mil metros ou mais era inviável, na época.
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BUSTO
Maluf teimou, insistiu e a Petrobras foi à Justiça, que o obrigou a desativar e fechar a Paulipetro, por ilegal e aventureira, e pagar uma alta multa por dar prejuízos ao Estado. A Paulipetro entrou no folclore nacional. Mas a história é sempre ela. Quando menos se espera, ela volta.
Em 2008, na mesma bacia de Santos, a Petrobras descobriu o fantástico campo de óleo e gás Tupi, o maior já achado no País, com 8 bilhões de barris de petroleo, entre 5 mil e 7 mil metros de profundidade, e hoje viável economicamente, diante do preço internacional do petróleo, a US$ 100 por barril.
Logo, os talentosos e ousados geólogos paulistas arrebanhados por Maluf tinham razão. Só não tinham a lei nem o tempo a favor deles.
O perigo, agora, é Maluf entrar na Justiça reivindicando uma indenização petrolífera e uma reparação histórica: por exemplo, que o campo Tupi se chame “campo Maluf” ou, quem sabe, um busto na sede da Petrobras.
12 de janeiro de 2012
Sebastião Nery
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