No doce bar “Sereia do Leme”, onde se tomava o melhor chope do Rio, Ary Barroso conversava com amigos, fim de tarde. Estava irritado:
- Não vou deixar que a Mariucha se case com ele. Ele bebe muito.
Edu da Gaita, magrinho, miúdo, silencioso, com sua sonora alma infinita, punha panos quentes:
- Mas, Ary, ele é um bom rapaz. Beber bebemos todos, bebe você.
- Bebo, sim. Mas eu não quero casar com a Mariucha.
Mariucha era a filha de Ary Barroso. Casou com o bom rapaz que bebia.
José Serra, já ministro, estava na fazenda de Pimenta da Veiga, também ministro, perto de Brasília, quando ouviu um barulho lá fora. Pimenta acalmou:
- É uma vaca, Serra. De bezerro novo. Elas ficam agitadas assim.
- Ótimo, Pimenta, vou ver. Preciso conhecer uma vaca. Nunca vi.
Serra levantou-se, abriu a janela e viu, lá fora, na penumbra da noite, o vulto fosco de uma nervosa vaca. Com quase 60 anos, Serra tinha sido secretário de Planejamento de São Paulo, deputado federal líder dos tucanos na Câmara e no Senado, duas vezes ministro, e nunca vira uma vaca.
Ninguém é obrigado a conhecer vaca. Mas, em um país que tem um dos maiores rebanhos do mundo, alguém querer ser presidente da República sem conhecer uma vaca é, no mínimo, uma fraude pública.
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UMA VACA PARA VICE
Gustavo Corção, engenheiro, católico, conservador e escritor talentoso, deu um susto no País com seu primeiro grande livro: – “Três alqueires e uma vaca”. (Depois publicou “Lições de Abismo”, um poderoso romance).
Em 2002, José Serra, candidato dos três piores alqueires nacionais (Fernando Henrique e os banqueiros nacionais e internacionais), estava desesperado atrás de um candidato a vice que disfarçasse sua cara de representante da plutocracia paulista e da agiotagem internacional.
Serra queria o impossível, uma vaca de mentira. Queria que o PMDB lhe indique uma vaca, que nunca viu e imagina que exista: um representante do PMDB governista “que não tenha telhado de vidro”. (Ele falava assim para uso externo. Com a cúpula tucana e o bando de seus mosqueteiros, ele dizia que precisava de “um vice e que não seja corrupto”).
Era melhor ter voltado à fazenda de Pimenta da Veiga. Lá as vacas são de verdade.
17 de fevereiro de 2012
Sebastião Nery
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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