"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
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Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 5 de fevereiro de 2012

MANIPULAÇÃO DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU PARA DERRUBAR KADAI NÃO SE REPETE NO CASO DA SÍRIA

O comentarista Sergio Caldieri nos envia uma importante entrevista do Rússia Today com o embaixador da Índia nas Nações Unidas, Hardeep Singh Puri, denunciando a manipulação das decisões do Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia e revelando que Estados Unidos e seus aliados não estão conseguindo nova manipulação no caso da Síria. O texto é bastante revelador:

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A ONU, A LÍBIA E A SÍRIA

O modo como alguns membros do Conselho de Segurança da ONU manipularam as resoluções do colegiado sobre a Líbia, para justificar o apoio armado a forças que se opunham ao governo lá existente, criou novas dificuldades, agora que se trata do conflito civil na Síria – disse ao correspondente do Russia Today o embaixador da Índia na ONU.

Para Hardeep Singh Puri, o Conselho de Segurança da ONU sofre hoje as consequências do que foi feito na Líbia, quando representantes de nações ali presentes ignoraram completamente decisões contidas nas resoluções que lhes cabia implementar.

“Uma das dificuldades que enfrentamos hoje, na discussão da situação na Síria, é que a experiência do Conselho de Segurança, no caso das Resoluções 1.970 e 1.973 para a Líbia, paira aqui como uma sombra e vicia a atmosfera, quando se discute a Síria” – explicou o diplomata, que lembrou que, apesar dos muitos esforços, o Conselho de Segurança da ONU não consegue, há seis meses, aprovar qualquer documento sobre a crise em andamento na Síria.

O diplomata indiano disse que, nas resoluções sobre a Líbia, o Conselho de Segurança autorizou o uso de força naquele país, mas exclusivamente para conter a violência naquele determinado momento e não para derrubar o governo.

“A ONU teve de envolver-se; a Resolução autorizava a implantar uma zona aérea de exclusão e imediato cessar-fogo. Mas depois, quando tentamos fazer cumprir a ordem de cessar-fogo, outros países – já envolvidos na operação militar – responderam que não considerariam a possibilidade de cessar-fogo, antes de o regime ter sido derrubado. Não estou dizendo que o Conselho de Segurança tenha sido manipulado para derrubar um governo, mas, no final das contas, é o que parece ter acontecido” – disse ele.

E essas ‘interpretações criativas’ de decisões do Conselho de Segurança da ONU não são o pior problema que o Conselho de Segurança enfrenta hoje.

“Há questão mais séria que essa” – continuou o embaixador indiano. – “A resolução 1.973 fala especificadamente sobre embargo de armas. Pelo que se sabe hoje, a resolução foi interpretada como ‘Ok, vocês podem atacar militarmente o governo de Kadafi, e o embargo não significa que vocês não possam fornecer armas à oposição’. Isso é absolutamente inaceitável” – continuou o diplomata.

“Várias vezes pedi a palavra em reuniões do Conselho de Segurança, para lembrar que as palavras têm significados. Quando decidirmos por uma ou outra redação, é indispensável que todos saibamos claramente o que significa cada formulação. Mas o poder armado impôs-se nesse Conselho, alterou o sentido das resoluções aprovadas, e ficou-se com a impressão de que, no momento, aquela seria uma abordagem razoável. No longo prazo, essa violência jamais funciona” – concluiu Hardeep Singh Puri.

05 de fevereiro de 2012
Carlos Newton

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