Retirada das tropas não pode se render a motivações eleitorais
Celebrando a reputação de seu país como o “cemitério dos impérios”, os afegãos se orgulham de terem expulsado todos os exércitos estrangeiros que se aventuraram em seu território. Ainda assim, o mais recente exemplo, o exército soviético, não foi exatamente derrotado: ele se retirou em 1989, devido à impopularidade da guerra junto à população. Cerca de 25 anos depois, os Estados Unidos e seus aliados correm o risco de um fracasso semelhante.
Nessa semana, Leon Panetta, o secretário de Defesa norte-americano, revelou suas esperanças de que os soldados da Otan no Afeganistão fossem capazes de dar um fim a suas missões de combate com 18 meses de antecedência – no segundo semestre do ano que vem, ao invés do fim de 2014. Ele também expressou dúvidas de que o resto do mundo conseguiria seguir seu plano de pagamento por uma força de segurança afegã de 350 mil homens. Essa mudança é atraente por motivos óbvios. As operações no Afeganistão custam uma fortuna e preciosas vidas. E também não ajuda, o fato de alguns dos responsáveis pelas mortes serem os supostos aliados da Otan: soldados afegãos que mudaram de lado mataram quatro instrutores franceses no mês passado, e um fuzileiro norte-americano nesta semana.
Estima-se que o custo da manutenção de um soldado norte-americano no Afeganistão por um ano seja de US$ 1 milhão – e há cerca de 90 mil soldados lá, juntamente com outros 40 mil de quase outros 50 países. Num momento em que o dinheiro é curto, esses números representam um valor muito alto. Além disso, o governo de Barack Obama tem outras prioridades estratégicas. Quer uma “virada” rumo ao Oriente, para acalmar os nervos dos preocupados com a ascensão da China. E há também as eleições, na França, nos Estados Unidos e em toda parte. Os candidatos querem concorrer como aqueles que trarão os rapazes de volta para casa.
Por três razões, no entanto, sucumbir às tentações eleitorais, mesmo que apenas anunciando a possibilidade de um saída antecipada, é um erro. Em primeiro lugar, limitar o papel combativo da Otan e o poder das forças afegãs ameaça a “transição” para uma guerra de contra-insurgência travada quase que inteiramente por locais. Isso tem dado resultado: a violência diminuiu nas províncias de Helmand e Kandahar; tropas afegãs mais bem treinadas estão vencendo a batalha contra o Talibã, cuja popularidade está em franco declínio. Ainda assim, o prazo de 2014 dificilmente será atingido. Nada sugere que o plano possa ser levado adiante com segurança, ou que o Afeganistão consiga se manter com menos soldados.
Em segundo lugar, 2014 é um ano crucial na política afegã. Forças afegãs serão necessárias para garantir que os votos decidam o sucessor do presidente Hamid Karzai, e sua ausência pode tentá-lo a quebrar sua promessa de não buscar um terceiro mandato, o que é proibido pela constituição. Por fim, assim como houve progresso na aproximação do Talibã nas negociações de paz, rumores de uma saída antecipada somente encorajarão sua intransigência. Eles sempre dizem que os estrangeiros têm os relógios, mas eles têm o tempo. O Paquistão cujo apoio clandestino ao Talibã foi catalogado num relatório da Otan que vazou nesta semana, não terá incentivos suficientes para se voltar contra seus antigos parceiros da jihad.
O preço do fracasso
Uma transição antecipada pode significar que o Ocidente deixará o Afeganistão sem completar seu objetivo primordial – o de evitar que o país seja uma base para a al-Qaeda e outros jihadistas. Além disso, o Afeganistão corre um sério risco de se tronar um pântano que cultiva rivalidades regionais – especialmente entre a Índia e o Paquistão. Em breve, isso se tornará um assunto dos Estados Unidos. Por fim, todo esse cenário mandará uma terrível mensagem ao resto do mundo sobre a validade dos compromissos do Ocidente.
5/02/2012
Fontes:The Economist
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
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A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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