No seu relatório relativo ao exercício de 2011, publicado a partir da página 115 do Diário Oficial de 6 de março, a direção do BNDES afirma que a crise européia atingiu no ano passado estágio mais dramático, tanto em função de seu contágio para os países centrais (caso da Itália é emblemático) quanto pela ausência de coordenação e liderança política na resolução do problema. A desaceleração da atividade econômica atingiu, inclusive, os mercados emergentes pelas causas já conhecidas: queda de preços das commodities, redução das exportações e piora das condições de crédito.
Trata-se de longo relatório de 84 páginas, mas cujos pontos de inflexão encontram-se em sua página de abertura. O Banco informa ter encerrado o exercício passado com um lucro líquido da ordem de 9 bilhões de reais. Importante o resultado, pois em grande parte de suas operações a taxa que o BNDES cobra – Taxa de Juros de Longo Prazo – é de 6% anuais. O que equivale a juros zero, uma vez que a inflação do IBGE foi de 6,3 pontos.
Mas esta é outra questão. Sempre sustentei – lembrei isso em artigo recente – que é essencial para o jornalismo e os jornalistas a leitura do Diário Oficial. Ele não permite que se possa brigar com os fatos. E dá margem a boas informações e interpretações. Por exemplo: A crise européia atingiu estágio mais dramático em 2011, está no texto do relatório. A conjuntura econômica internacional mudou abruptamente.
No Brasil – assinala – o cenário econômico, no final de 2011, ficou caracterizado pela desaceleração. Com isso, o índice do crescimento do PIB, até o terceiro trimestre de novembro, registra 3,7%. O consumo das famílias, de 5,4 pontos, também apresentou sinais de menor impulso. Vale frisar – digo eu – que tal crescimento perdeu para a inflação de 6,3%. E deve-se acrescentar que, em doze meses, a população brasileira cresce 1,2%. Informação esta do mesmo IBGE.
Somando-se o índice inflacionário à taxa demográfica (total de 7,5), verifica-se que o consumo não cresceu 5,4% em 2011. Diminuiu, na verdade, 2,1 pontos.O relatório desloca-se para as contas externas: déficit de 49,4 bilhões (de dólares). A Balança Comercial foi bem: o saldo de 31,4 bilhões (de dólares). Mas as contas de serviços (seguros, fretes, turismo, remessas de lucros – um dos grandes debates da sucessão de 1960) conduziram à diferença final contra nosso país.
As despesas com cartões de crédito e turismo internacional, incluindo passagens aéreas, acusam um ingresso de 5 bilhões de dólares e uma saída para o plano externo de 21 bilhões de dólares.
É importante a leitura do relatório do BNDES também porque ele apresenta claramente dados efetivos envolvendo a economia brasileira que muitas vezes não saem tão bem iluminados em outras publicações oficiais. Os preços industriais, por exemplo, fecharam praticamente no mesmo nível de 2010. Caíram portanto, considerando-se a inflação do período.
Mas espera o BNDES que a economia interna brasileira avance apesar do cenário internacional adverso. Deve ser impulsionada pela demanda doméstica, por sua vez sustentada pela flexibilidade do crédito. O Banco dá ênfase ao crédito para as pessoas físicas evidentemente como instrumento antiestagnação.
Os assalariados, ao longo da história, digo eu, são sempre os verdadeiros salvadores da pátria. A economia nacional conta conosco. Apesar de tudo. Pois ao primeiro sinal de preocupação, as demissões ocorrem em massa. Não há participação direta nos lucros, mas predomina a indireta nos prejuízos.
É desigual o tratamento. A tesoura corta invariavelmente o trabalho, nunca o capital. Principalmente no Brasil. País no qual os trabalhadores pagam até mais Imposto de Renda do que as empresas.
Pedro do Coutto
12 de março de 2012
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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