"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 6 de março de 2012

O COMEÇO DO FIM DAS FARC?

Anúncio sobre o fim de sequestros representa um gesto de paz insuficiente para a manutenção da paz

Em 26 de fevereiro as FARC declararam que parariam de sequestrar. Também prometeram libertar os dez membros das forças de segurança colombiana que mantêm como “prisioneiros de guerra”, alguns dos quais são reféns do grupo terrorista há 14 anos. Se fosse confiável, o anúncio representaria o abandono de uma demanda de longa data de que o governo liberte membros das FARC presos em troca dos reféns políticos e militares do grupo.

As FARC estão de joelhos graças a uma incansável campanha do governo contra a organização ao longo da década. A decisão do grupo de acabar com os sequestros, diz Luis Eduardo Celis, da New Rainbow Corporation, um centro de estudos baseado em Bogotá, é provavelmente um sacrifício tático cuja intenção é ajudar a iniciar conversas de paz com o governo.

Qualquer trégua negociada, contudo, ainda está distante. Primeiro, as FARC têm um problema sério de credibilidade. O grupo fez uma declaração similar de interromper sequestros em 1980, e logo em seguida expandiu as suas operações de sequestro. Em 2000, durante fracassadas negociações de paz com o governo, o grupo anunciou a chamada “Lei 002”, que dizia que qualquer pessoa ou empresa com mais de US$ 1 milhão em ativos tinha que repassar 10% destes para as FARC ou enfrentar a ameaça de sequestro. A guerrilha também sequestrou políticos com o fim de usá-los como moeda de troca com o governo.

Segundo, sequestros não são nem de longe o único meio das FARC ameaçarem a segurança pública na Colômbia. De acordo com o Ministério da Defesa daquele país, em 2011 as FARC foram responsáveis por 77 sequestros, uma queda acentuada em relação à sua média histórica, mas o grupo compensou a diminuição da sua renda de sequestros concentrando-se na sua atividade de extorsão, tráfico de drogas e mineração de ouro ilegal. E no mês passado o grupo atacou dois postos policiais, matando 15 pessoas e ferindo quase cem, a maioria dos quais civis. Em 23 de fevereiro um civil que se recusou a seguir a ordem das FARC de conduzir um burro carregado de explosivos a um acampamento militar disse ter sido torturado ao ter seus dedos esmagados e sua boca costurada com arame antes de conseguir escapar para um hospital.

Logo depois do anúncio das FARC sobre o fim dos sequestros , Juan Manuel Santos, o presidente, declarou se tratar de “um passo importante, ainda que insuficiente, na direção certa”. Para iniciar negociações de paz, ele exigiu que o grupo deixe de fazer recrutamentos forçados, de usar minas terrestres e de atacar civis. Caso Santos consiga exercer pressão o suficiente sobre as FARC para extrair essas concessões, a possibilidade de negociações de paz podem se tornar um argumento poderoso para a sua campanha de reeleição em 2014.

06 de março de 2012
Fontes:The Economist - An insufficient olive branch

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