"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 13 de março de 2012

PERO VAZ DE CAMINHA E PADRE ANCHIETA TÊM DE SER PROIBIDOS NAS ESCOLAS E BANIDOS DAS BIBLIOTECAS!!!

Como vocês sabem, o Brasil é um país laico. Devemos seguir os bons exemplos que se espalham pelo mundo, nas pegadas desta ONG neoiluminista chamada “Gherush92″, que quer proibir que se ensine a “Divina Comédia” na Itália porque o livro seria “homofóbico, islamofóbico e anti-semita”, e também do Conselho das Magistratura do Rio Grande do Sul, que considera que a exposição de um crucifixo num tribunal vem carregada daqueles valores cristãos que tornam desiguais os homens e promovem a injustiça.

Ora, escolas, especialmente as públicas, são espaços coletivos, onde deve prevalecer a diversidade. Assim, todos os sinais, em qualquer tempo, de que uma religião predominou sobre as outras — afinal, por qual direito divino, por exemplo, o Brasil do século 16 teve uma colonização cristã e não islâmica? — devem ser banidos do ensino em nome da igualdade. Deve ser terminantemente proibido que se mencionem nas escolas alguns textos. Ao longo do dia, eu os citarei e direi por quê.

Começando do começo

A Carta de Pero Vaz de Caminha, primeiro documento escrito em solo brasileiro, tem de ser banida. Fica evidente, como diria hoje em dia um intelectual petista, que o autor puxa a brasa para a sua sardinha — se me permitem empregar um clichê que guarda relação com a culinária portuguesa.

No momento mais perverso da Carta, Caminha sugere que os índios estão naturalmente vocacionados para o cristianismo, o que contraria a moderna antropologia. O fato de Caminha ter escrito aquilo no último ano do século 15, não no 20, não deve intimidar as pessoas que lutam por igualdade, diversidade cultural e um mundo mais justo.
Diz Caminha ao Rei Dom Manuel, que tinha três penas no chapéu:

“Chantada a Cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiramente lhe pregaram, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco a ela obra de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelhos, assim como nós.
E quando veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando assim, até ser acabado; e então tornaram-se a assentar como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim todos, como nós estávamos com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, nos fez muita devoção.”


Tinha início ali, é bom que se diga, uma história de domínio de uma cultura sobre a outra, com base numa pretensa superioridade. Mais: sabe-se que a presença portuguesa no Brasil deriva da expansão mercantil, que trazia mais do que a semente — em certo sentido, era mesmo a sua essência — do capitalismo.
À medida que a mercantilização —- em sentido pleno — invadiu aquilo que de mais próximo se conheceu do paraíso edênico, estavam abertas as portas para o genocídio.

É bem verdade que se produziu cultura antes da chegada dos portugueses e de que há sinais de que os tupis esmagaram povos primitivos, mas isso deve ser conversa dessas revisionistas que insistem em negar o caráter originalmente pacífico e absolutamente integrado à natureza dos povos aqui encontrados pelos portugueses…

Padre Anchieta

Já está claro por que se deve proibir a Carta de Caminha nas escolas. Mas a correção dos desvios cristãos do ensino não deve parar por aí. Mais do que Caminha, Padre Anchieta tem der eliminado até das nossas bibliotecas. O leitor encontra, por exemplo, o Auto de São Lourenço na Internet. Peça de teatro de intenção didática e criada como instrumento da catequese, Anchieta representa os demônios como índios. O “bem”, claro!, é português e cristão. Foi o precursor do método de alfabetização de Paulo Freire no Brasil, só que do lado errado! Este grande e maravilhoso educador de esquerda queria passar conceitos revolucionários e socialistas enquanto alfabetizava; Anchieta pretendia cristianizar os índios, quando o certo, obviamente, seria mostrar a grandeza antropológica do canibalismo aos portugueses.

Olhem como Anchieta é perverso no trecho que seleciono. Guaixará, o mal, vestido de índio, com um comportamento obviamente inconveniente, faz caricatura dos hábitos indígenas. Anchieta era um porco reacionário e cristão. Ter vivido no século 16 não o desculpa, não! Ele não respeitava a diversidade cultural. Leiam:

GUAIXARÁ
Esta virtude estrangeira
Me irrita sobremaneira.
Quem a teria trazido,
com seus hábitos polidos
estragando a terra inteira?

(…)
Guaixará sou chamado.

Meu sistema é o bem viver.
Que não seja constrangido
o prazer, nem abolido.
Quero as tabas acender
com meu fogo preferido

Boa medida é beber
cauim até vomitar.
Isto é jeito de gozar
a vida, e se recomenda
a quem queira aproveitar.


Repararam? Anchieta põe na boca do demônio o que hoje poderia ser uma festa dos “progressistas” da USP, especialmente naquela parte de “beber até vomitar”! Vômito progressista, é evidente!

E estamos só no começo. Há muitas obras sendo ensinadas (em tese ao menos) nas escolas e que estão abrigadas nas bibliotecas que agridem a diversidade, fazem pouco caso do oprimido, referendam a superioridade da cultura cristã e não valorizam os movimentos de resistência.

13 de março de 2012
Reinaldo Azevedo

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