Não é de hoje que venho sendo excluído de sites e comunidades da Internet. A primeira vez ocorreu há alguns anos. Entrei na comunidade Luís Fernando Verissimo, no Orkut, que reunia fãs do escritor comunista.
Aos poucos, fui comentando algumas incoerências de seus artigos. Os fãs tentaram contestar-me, mas não conseguiam contestar os fatos que eu apresentava.
Decorrência lógica: fui banido da comunidade. O que recebi como uma comenda.
Há alguns outros tantos anos, já nem lembro quando, fui convidado a escrever em um jornal eletrônico, o Mídia Sem Máscara, que pretendia denunciar as mentiras da grande imprensa. É comigo mesmo, pensei, afinal isso eu vinha fazendo há muito tempo, vide meu ensaio Como Ler Jornais. Colaborei com entusiasmo no novo site e disto não me arrependo.
Com o decorrer do tempo, descobri que fora convidado por minha posição radicalmente anticomunista.
Ocorre que não me manifesto apenas contra a opressão comunista. Sou contra todas as opressões. E se o comunismo teve existência relativamente curta – a rigor, apenas sete décadas – há uma outra opressão milenar, que até hoje ainda vige e tem prestígio, a opressão da Igreja Católica.
Milenar é modo de dizer, em verdade tem dois milênios. Bastaram algum artigos denunciando a ditadura vaticana e comecei a provocar mal-estar no MSM. Certo dia, escrevi um artigo mostrando por A + B que Cristo havia nascido não em Belém, mas em Nazaré. Artigo inocente, afinal o local de nascimento do judeu não constitui dogma para os católicos.
Meu artigo foi censurado. Mandei um recado ao editor: não admito censura. Ou meu artigo é publicado, ou não colaboro mais com o jornal.
Não foi publicado, deixei de colaborar. Junto comigo, abandonaram o barco outros colaboradores de talento, e o MSM se revelou um porta-voz ridículo de papistas fanáticos, muitas vezes mais papistas que o papa.
Hoje, investe contra dois fantasmas, o Foro de São Paulo - uma espécie de Woodstock das esquerdas que já morreu à míngua após a derrocada da União Soviética – e a ameaça de uma ditadura gay.
Last but not least, mais um terceiro fantasma, o aborto. Claro que nenhum articulista do castro católico vai admitir que tanto Tomás de Aquino como Santo Agostinho eram favoráveis ao aborto. E que o Papa Pio IX declarou que o aborto constitui um pecado em qualquer situação e em qualquer momento que se realize, apenas no século XIX, em 1869 mais precisamente.
Ou seja, durante dezoito séculos a Igreja nada teve contra o aborto. Hoje, o jornal deixou cair a máscara. Alerta em seu site:
POLÊMICAS INTER-RELIGIOSAS, EM ESPECIAL ENTRE DIFERENTES DENOMINAÇÕES CRISTÃS, SÃO EXPRESSAMENTE PROIBIDAS NESTE SITE. COM TANTOS INIMIGOS RONDANDO, VAMOS FICAR TROCANDO TAPAS EM FAMÍLIA?
Ou seja, nada de criticar religiões. Em 2012, voltamos à Idade Média. Em outro site, fui censurado antes mesmo de começar a escrever.
No início de 2010, fui gentilmente convidado a escrever nas redes do Instituto Millenium de Pesquisa. Enviei meus dados e curriculum ao Millenium. Com uma ressalva: não aceito censura a nenhum artigo que pretender publicar no site Millenium. Se houver hipótese de censura, considere-me excluído do Instituto – disse a Anita Lucchesi, minha interlocutora. Recebi da moça a seguinte resposta:
Não publicamos artigos que contenham defesa ou condenação dos seguintes assuntos:
- Aborto
- Pena de morte
- Células-tronco embrionárias
- Eutanásia
- Suicídio
- Legalização das drogas
- Homossexualismo
- Adoção de crianças por casais homossexuais
Minha resposta a Anita Lucchesi:
Desolé, Anita!
O Millenium não me serve. Não entendo como uma instituição que pretende promover a Democracia, a Economia de Mercado, o Estado de Direito e a Liberdade, não aceite discutir assuntos como aborto, pena de morte, células-tronco embrionárias, eutanásia, suicídio, legalização das drogas, homossexualismo, adoção de crianças por casais homossexuais.
Os propósitos desta instituição são uma farsa. Considere-me excluído dessa arapuca. Suponho que sirva para promover nomes que permanecem ocultos, tipo Armínio Fraga e Gustavo Franco. Não conte comigo para isso.
Considero estas exclusões ou censuras como comendas, dizia. Ontem foi mais um desses dias felizes. Nas últimas semanas, andei recebendo via Facebook mensagens de Percival Puggina, escritor, arquiteto, estudioso cristão, analista político e defensor incondicional dos valores do Ocidente, da democracia e da liberdade de expressão. Defensor da liberdade de expressão a tal ponto que tem um blog com esse nome. Em sua última postagem, Puggina manifestava seu desconforto ante a recente proibição de crucifixos nos tribunais públicos do Rio Grande do Sul.
No que era seguido por um considerável ror de leitores também indignados, a meu ver todos jovens, dadas as bobagens sem fundamento histórico algum que postavam. Tentando trazer um pouco de luz ao debate, enfiei minha esquiva colher naquele confuso caldo, e lembrei alguns fatos da História recente.
Lembrei, por exemplo, que a colocação de crucifixos em escolas e tribunais tem origens fascistas. Na Itália, foi determinada na década de 1920 durante o regime de Benito Mussolini. De inhapa, lembrei ainda fato pouco conhecido mesmo por católicos praticantes, o de que a Itália reconheceu a soberania da Santa Sé sobre o território do Vaticano através do Tratado de Latrão, de 1929, celebrado entre o Vaticano e o Duce. Sempre é bom reavivar a memória das gentes. Poucas pessoas sabem hoje que o Vaticano é uma concessão do ditador fascista.
Pra que, Deus meu? Fui alvo de uma saraivada de insultos por parte dos demais leitores, todos atacando este humilde colunista e nenhum contestando os fatos históricos que aventei.
Puggina fez uma intervenção e das mais significativas. Disse que não conseguia imaginar os americanos eliminando o In God We Trust das notas de dólar. Pelo jeito, não falta só imaginação ao escritor, arquiteto, estudioso cristão, analista político e defensor incondicional dos valores do Ocidente, da democracia e da liberdade de expressão, mas também informação.
O lema é controvertido e não faltam americanos que julgam ser necessária uma separação da igreja e do Estado, defendendo a remoção do lema de todo uso público, incluindo moedas e notas de papel.
O argumento é que a liberdade religiosa inclui o direito de acreditar na não-existência de um deus e que o uso deste lema infringe os direitos dos não-religiosos. Sem falar que seria inconstitucional.
Intervenção das mais significativas, afirmei. Pois mesmo discriminando os ateus, o In God We Trust é bem mais abrangente que um crucifixo. Dá guarida a crentes de todas as fés, e não apenas aos seguidores da Igreja de Roma. Foi designado por um ato do Congresso em 1956 e não suspendeu o outro lema, E Pluribus Unum, escolhido pelo primeiro comitê do Grande Selo, em 1776, no começo da Revolução Americana.
Seja como for, o In God We Trust não privilegia igreja nem deus algum. Em algum deus – ou deuses – todas as religiões crêem, e neste sentido, o lema americano é bem mais generoso que o dos tribunais brasileiros.
O crucifixo nos tribunais brasileiros dá a entender que o Brasil tem uma só religião, a cristã. O que está longe de ser verdade.
Claro que não faltou quem me denunciasse como ateu – como se ser ateu fosse crime ou invalidasse qualquer argumento –, condição que nunca escondi e da qual não me envergonho. Houve quem dissesse que escrevi artigo onde afirmava que o papa havia queimado 30 milhões de judeus na Capela Sistina, gesto típico de moleque que não tem argumentos.
Pelo que constatei, nenhum dos debatedores tinha a mínima idéia da origem fascista da imposição do crucifixo em tribunais e escolas. Muito menos sabiam que o Vaticano era uma concessão territorial de Mussolini. Havia até mesmo alguns meninos que acreditavam ter sido Cristo o fundador do cristianismo. Pior ainda, havia quem julgasse que Cristo era cristão.
Enfim, eu estava começando a divertir-me quando, de repente, não mais que de repente, as mensagens todas sumiram de meu FB. Só posso deduzir que fui bloqueado pelo escritor, arquiteto, estudioso cristão, analista político e defensor incondicional dos valores do Ocidente, da democracia e da liberdade de expressão.
Que que é isso, conterrâneo? Justo quando eu me comprazia em exercer meu magistério, você impede meu acesso a jovens que precisam de um pouco de cultura histórica? De minha parte – exceto o prazer de educar católicos na boa doutrina – não perco nada.
Mas essa juventude toda perdeu uma excelente oportunidade de conhecer história da Igreja e do cristianismo.
13 de março de 2012
janer cristaldo
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
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