Saar Szekely, de 27 anos, se tornou o novo galã da edição israelense do reality show graças a suas posições pró-Palestina
No Reino Unido, o Big Brother é conhecido por transformar concorrentes sedentos pela fama – as Nadias, Chantelles e Jade Goodys deste mundo – em celebridades instantâneas. Embora normalmente não seja muito mais intelectual, o equivalente israelense do programa alcançado uma reviravolta surpreendente em 2012, transformando em super-estrela Saar Szekely, um “simpatizante da Palestina”.
Szekely, 27, é o candidato azarão cujo objetivo declarado era o de expressar pontos de vista de esquerda no horário nobre da televisão. Em uma casa cheia de reacionários e com um público predominantemente de direita, a missão de Szekely parecia destinada a ser de curta duração. Mas mesmo com tantas páginas do Facebook clamando por sua aniquilação, o artista de Tel Aviv chegou à final na noite desta terça-feira, 3, e ao longo do caminho se tornou uma espécie de galã.
Entrando na casa, em janeiro, Szekely foi, durante as primeiras semanas, ofuscado pelo excêntricos extremos habituais – um casal recém-casado, uma prostituta, uma “visitante” do Big Brother Argentina. Nove semanas mais tarde, no entanto, suas conversas começaram a ficar mais tempo no ar, e se tornaram o foco do programa.
“Gosto da maneira como ele se expressa”, diz Shelly Malnick, uma espectadora de 23 anos, de Haifa. “Eu não concordo com tudo o que ele diz. Há coisas duras que ele disse sobre os soldados que são realmente difíceis de ouvir. Mas ele não se interessa em brigas – Ele tem um argumentos fortes e nunca foge de uma discussão bem educada. É por isso que a maioria dos israelenses o adora”. Segundo ela, o fato de ele ser “muito bonito” também ajuda. Mais espectadores de esquerda, é desnecessário dizer, estão apaixonados.
Mas foi o desenvolvimento de sua amizade improvável com outro participante, Eran Tartakovsky – um antigo oficial do exército israelense – que, segundo o vice-editor do diário Maariv, Shai Golden, provocou o sucesso de Szekely. “Um abraço de Eran era como dar a ele um selo kosher”, disse Golden.
Eran, que alegou “odiar árabes mais do que eu odeio o câncer” em sua fita de testes, foi o contraponto direitista de Szekely no programa. Mas a manobra saiu pela culatra quando a dupla se afeiçoou: “Eles se aproximaram. Isso deixou o o extremismo de esquerda fora de Saar e colocou o homem na frente”, afirma Golden.
Embora o nível do debate político no Big Brother do Reino Unido estagnou na saga racista envolvendo Shilpa Shetty, ou a violenta “festa dos gritos” de 2004 – com Emma ameaçando “matar” Victor e Jason, e “arrancar a cabeça” de Marco, a versão israelense tornou-se bem mais profunda. Tomando banho de sol com outros participantes, Tartakovsky e Szekely alternavam bate-papos tradicionais com discussões sobre a finalidade do exército israelense e vice-versa. Enquanto outros housemates se retiravam em sinal de protesto, perguntando em estado de choque como ele pode ouvir Szekely “chamar seus amigos de assassinos”, Tartakovsky parecia inabalado.
“Eles têm as conversas mais incríveis, com muita calma, bastante diferente do que se vê normalmente no Big Brother“, diz Ami Kaufman, co-criador da 972 Magazine, que colocou um dos debates políticos virais de Szekely no Twitter. “Eu acho que é uma das únicas coisas que eu gosto sobre este reality show: os diálogos são muito representativos do discurso político que corre por este país. Em termos percentuais, é provavelmente o equivalente ao que está acontecendo fora da casa também. É muito simbólico do que está acontecendo em Israel”.
Mesmo trazendo em outro direitista radical, Tzvi Portal, no meio da temporada não foi suficiente para atiçar o fogo. Szekely era amável com o falastrão Portal, que logo foi expulso.
A animosidade contra Szekely, no entanto, tem sido vocal. O debate postado por Kaufman mostra Szekely se referindo a Ariel (um distrito de Someron) como “uma esmola intencionalmente projetada para impedir a criação de um Estado palestino”. A província respondeu publicando sua própria declaração depreciativa contra ele. A reação se estendeu à sua cidade natal, Ashkelon. “Geralmente”, explica Kaufman, “quando as pessoas descobrem quem são os cinco finalistas, cada uma de suas cidades natais entra em uma grande campanha de votação a favor do “conterrâneo”. Isso não está acontecendo agora em Ashkelon, eles são realmente muito envergonhados de Saar Szekely. Ele não os representa, e realmente não representa muitos israelenses”.
Mas Golden acha que a mistura se tornou um grande sucesso. “Até agora, os reality shows de Israel têm relutado em colocar a política em primeiro plano, porque isso não é o que se chama de bom entretenimento”, diz ele. “Acho que há dois elementos para a obsessão dos israelenses com os realities: escapismo e um substituto para a violência. Colocar Saar foi um verdadeiro risco”.
Yoram Zak, produtor do Big Brother, certamente não se arrepende: “Eu realmente gostei do estilo dele”, comentou. “Quando eu lhe perguntei porque ele queria se juntar à casa, ele disse, ‘Se você vai transmitir esse lixo, o mínimo que posso fazer é trazer algum conteúdo real a ele’. Gostei disso”.
O programa tem recebido alguns dos maiores índices de audiência da história da TV israelense já teve (uma média de três em cada 10 israelenses por noite), sem dúvida, por causa da polêmica criada por Szekely. Embora seja um dos favoritos, o consenso geral é de que seus pontos de vista controversos vão lhe custar a vitória. Mas de qualquer forma, existem vitórias nesta história para Szekely, para o Big Brother e para Israel.
04 de abril de 2012
Fontes:The Guardian - How Israeli Big Brother became a hotbed of thoughtful debate
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A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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