"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 8 de abril de 2012

ENCONTRO DO MINISTRO GILMAR MENDES COM O SENADOR DEMÓSTENES TORRES, EM BERLIM, E A OPERAÇÃO SATIAGRAHA

Encontro do ministro Gilmar Mendes, do STF, com o senador Demóstenes Torres, em Berlim, já vem sendo usado como instrumento de intimidação pelos que pretendem ressuscitar a Satiagraha; no entanto, o deputado Miro Teixeira, que soltou a informação, já tira o corpo fora: “Não falei do Gilmar”   (06 de Abril de 2012).

247 – Uma ala poderosa da Polícia Federal, com diversos simpatizantes nos meios de comunicação, não engole há muito tempo o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. Enquanto presidiu o STF, Gilmar criticou os métodos da PF e condenou o que chamou de “Estado Policial”.
Na Operação Navalha, em 2008, essa ala da PF tentou atingi-lo ao vazar para a imprensa que um determinado Gilmar recebia presentes da construtora Gautama – não era Gilmar Mendes, mas sim um certo Gilmar Ferreira. Um ano depois, na Operação Satiagraha, o ministro do STF comprou uma briga definitiva com essa turma, ao conceder dois habeas corpus consecutivos ao banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.
Gilmar também condenou o que chamou de “consórcio” formado entre o delegado Protógenes Queiroz, o procurador Rodrigo de Grandis e o juiz Fausto de Sanctis, que estiveram à frente da Satiagraha. E o golpe definitivo na operação foi a divulgação de um suposto grampo, pela revista Veja, entre o senador Demóstenes Torres e o ministro Gilmar Mendes, que acabou derrubando o então presidente da Agência Brasileira de Inteligência, Paulo Lacerda.

Desde então, Gilmar Mendes está entalado na garganta de muita gente.
Seus críticos, que há tempos martelam a tese do “grampo sem áudio”, o culpam pelo fim da Satiagraha e pela queda de Paulo Lacerda.
Seus defensores o aplaudem pelo que consideram a coragem de ter enfrentado forças poderosas. Com a queda de Demóstenes Torres, Gilmar Mendes voltou a estar na linha de tiro. E a senha foi uma nota publicada pelo jornalista Tales Faria, no Poder Online, do iG, nos seguintes termos:
Demóstenes, Cachoeira e o encontro com "um juiz muito importante" em Berlim
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) prevê que surgirão novas revelações, caso a defesa de Demóstenes Torres insista em anular, no Supremo Tribunal Federal, as provas do envolvimento do senador com o bicheiro Carlinhos Cachoeira já obtidas pela Polícia Federal :
– O que Demóstenes precisa é revelar, antes que uma CPI o faça, os nomes de todos os que se aproveitaram da malha de poder e dinheiro do Cachoeira. Inclusive contar detalhes daquela viagem que ele e Cachoeira fizeram à Alemanha, na qual esteve presente um juiz muito importante do Brasil.
De forma coordenada, os jornalistas que se mostraram mais engajados durante a Operação Satiagraha, passaram a badalar a notícia. Bob Fernandes, do Terra Magazine, que chegou a publicar uma entrevista fictícia com Daniel Dantas, enquanto esteve preso, fez um comentário sobre na televisão sobre como Demóstenes e Gilmar arruinaram a carreira de Paulo Lacerda.
Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif também têm relembrado, com frequência, que a história do “grampo sem áudio”, não pode ser esquecida.

E o fato concreto é que nenhum dos jornalistas citados, até agora, deu o nome do “juiz muito importante” com quem Demóstenes Torres se encontrou em Berlim – como se isso fosse necessário.
Pois o juiz com quem Demóstenes se encontrou em Berlim foi Gilmar Mendes, que estava na Europa, quando o senador o procurou.
Demóstenes viajou com a esposa que havia se formado em direito. Carlos Cachoeira não participou do encontro. Indagado por um jornalista sobre o encontro, dias atrás, o ministro do STF perdeu a paciência – o jornal para o qual o mesmo repórter trabalha não publicou a informação.

Já o deputado Miro Teixeira (PDT/RJ), que deixou a suspeita no ar, já tira o corpo fora. “Nunca disse que era o Gilmar Mendes”, disse ele. Ao receber a confirmação de que o encontro em Berlim realmente aconteceu, Miro Teixeira minimizou a questão. “Isso não tem nada demais”, disse ele ao 247. “Naquele momento, o Demóstenes era uma outra pessoa”.

Satiagraha, a volta


Seja como for, a declaração do deputado tem sido usada por um grupo de viúvas da Satiagraha. A operação, invalidada pelo STJ em razão do uso ilegal de escutas telefônicas, poderá ser ressuscitada no Supremo Tribunal Federal em breve. E colocar em suspeição o ministro Gilmar Mendes é um movimento importante nessa direção.

O pano de fundo da Satiagraha foi uma disputa entre dois grupos pelo comando das telecomunicações no Brasil: o dos fundos de pensão estatais, liderado pelo ex-ministro Luiz Gushiken, e o dos doadores de campanha de Lula, que comandavam e ainda comandam a Oi.
O que estava em jogo era a formação da supertele nacional, fruto da fusão entre Brasil Telecom, que pertencera a Dantas, e a Oi. Na disputa, arbitrada por Lula e pela então superministra Dilma Rousseff, os fundos de pensão foram derrotados – e a Satiagraha, cujos grampos foram realizados na época da criação da supertele, poderia melar o jogo.

Investigador e investigado ao mesmo tempo, Protógenes Queiroz se tornou réu por fraude processual, ou seja, por ser suspeito de ter fabricado provas, e será julgado no STF pelo próprio Gilmar Mendes.
Curiosamente, a Operação Monte Carlo também prendeu o sargento Idalberto Martins, o Dadá, que participou ativamente da Satiagraha e chegou a registrar uma empresa de inteligência com o mesmo nome, alguns anos depois.
Protógenes recolheu assinaturas para a CPI sobre as atividades de Carlos Cachoeira, mas também recebeu recados ameaçadores, dando conta de que o mesmo poderia contar tudo sobre o que realmente se passou na Satiagraha.

Gilmar está na mira dos que querem retomar a operação. Curiosamente, uma expressão que serve para designar membros do Judiciário corajosos alude à Alemanha nazista.
“Ainda há juízes em Berlim...”
Sim, Gilmar Mendes esteve em Berlim e se encontrou com Demóstenes Torres.

08 de abril de 2012

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