Foto: Parbul
TV/REUTERS_Divulgação
Na Inglaterra, um escândalo semelhante, mas menos grave do que o esquema Cachoeira-Veja, já provocou prisões, o fechamento de um jornal, demissões e até a renúncia de James Murdoch, filho do maior magnata da mídia global; no Brasil, há um pacto de silêncio em torno de Roberto Civita
247 – Em julho do ano passado, a
Inglaterra foi palco de um dos maiores escândalos de mídia em todos os tempos,
quando se descobriu que um jornal do magnata australiano Rupert Murdoch, o News
of the World, mantinha um esquema de pagamento de propinas a membros da Scotland
Yard para ter acesso exclusivo a grampos telefônicos e investigações policiais.
Desta maneira, o tabloide publicava furos de reportagem relacionados a
celebridades e membros da família real, além de pessoas comuns. Até vítimas do
ataque terrorista a uma estação de metrô tiveram suas ligações interceptadas por
jornalistas do News of the World, com a conivência dos policiais.
O escândalo provocou consequências drásticas tanto na mídia como na área pública.
Rupert
Murdoch fechou o jornal, publicou um anúncio de página inteira pedindo desculpas
pela postura antiética e se viu forçado a demitir vários executivos. Três dias
atrás, seu filho, James Murdoch, também renunciou ao cargo de presidente da
BSkyB, um dos principais grupos de mídia da Inglaterra, para não prejudicar as
investigações. E o premiê David Cameron também demitiu autoridades da área de
segurança pública. Em função do escândalo, Murdoch hoje responde a processos
tanto nos Estados Unidos como no Reino Unido.
Do lado de baixo da linha do Equador, a revista Veja protagoniza um escândalo que guarda semelhanças com o do News of the World, mas é mais grave.
Na Inglaterra, a aliança do veículo de
comunicação se dava com policiais. No Brasil, o pacto se deu com um dos maiores
contraventores do País, o bicheiro Carlos Cachoeira, que pretendia legalizar o
jogo em todo o País.
Nesta parceria, que durou mais de uma década, Veja publicou
diversos “furos” de reportagem fornecidos pelo bicheiro.
Num grampo, Cachoeira
chegou a se jactar de, através de Veja, ter derrubado vários corruptos. “Tudo
via Policarpo”, disse ele, referindo-se ao jornalista Policarpo Júnior, diretor
da sucursal brasiliense da revista Veja.
Com as informações já disponíveis, surgem indícios cada vez mais consistentes de que Cachoeira produziu diversos vídeos ilegais utilizados pela revista Veja. O mais recente seria o do Hotel Naoum, em Brasília, onde o ex-ministro José Dirceu se encontrou com o ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, e com o ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. As imagens realizadas, segundo o inquérito policial, não eram do circuito interno do hotel, mas sim de equipamentos de espionagem privados.
Silêncio absoluto
Até agora, Veja tem preferido varrer o assunto para debaixo do tapete, apostando que tudo cairá no esquecimento. No Congresso, o único parlamentar a se manifestar sobre o caso foi o deputado Fernando Ferro (PT/PE), que defende a CPI sobre a Operação Monte Carlo e um capítulo dedicado à associação de Veja com o crime organizado.
Nas últimas semanas, o 247 tentou obter uma posição da Abril, da revista Veja e do próprio jornalista Policarpo Júnior sobre a parceria com Cachoeira. Todos se omitiram. O único que falou pela Editora Abril foi o blogueiro Reinaldo Azevedo, que exaltou a conduta de Veja, afirmando que as reportagens de Veja, independentemente dos métodos, pouparam alguns milhões aos cofres públicos.
Se é assim, temos argumentado, no 247, que
Cachoeira deveria ser solto, condecorado e nomeado diretor-geral da Polícia
Federal. Afinal, se faz tão bem ao País...
No entanto, se a revista Veja fosse publicada na Inglaterra, as cobranças seriam muito maiores. Lá, onde se preza o conceito de accountability, ou seja, de todos que prestem contas por seus atos, o silêncio não seria uma alternativa possível. A esta altura, Roberto Civita já estaria sendo convocado a prestar explicações.
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