ERAM QUATRO AMIGOS, TRÊS PAULOS
Era um grupo de amigos da Rua Rodrigo Otávio, na Gávea, no Rio dos anos 60. Numa sexta-feira, sem programa, quatro deles resolveram ir a Petrópolis, arriscar alguma aventura. Pegaram a litorina, um trem que fazia Rio-Belo Horizonte, desceram em Petrópolis, hospedaram-se no Hotel Comercial, perto da estação, quatro camas em um quarto só.
Saíram para curtir a cidade. Fazia um frio do cão, ninguém pelas ruas.
Deixaram o programa para o dia seguinte, voltaram para o hotel. De madrugada,
“uma voz arfante, nervosa e solitária, gemia”. Na janela, com um enorme lenço
branco, um deles tentava respirar o ar frio de Petrópolis.
Os outros acordaram, foram socorrê-lo:
– O que é que você tem?
– Asma. Sou asmático e às vezes não consigo dormir por falta de ar.
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PAULO COELHO
Bombeava seu remédio na boca, tomava fôlego, gemia e se maldizia:
– Vejam vocês. Que futuro posso ter, se nem consigo respirar, feio, tímido e inseguro como sou e ainda por cima doente, quase tuberculoso?
“Tossia, levava o lenço à boca, cuspia do alto da janela, fazendo lembrar os poetas tísicos que morreram moços, muito moços. Naquela janela, pernas encolhidas, queixo nos joelhos magros, era a fotografia da desesperança. Custava-lhe muito falar. A impressão é que não chegaria vivo ao amanhecer”.
Os amigos tentavam animá-lo e ele ali sofrendo. Eram quatro, três Paulos: Paulinho, hoje coronel da reserva da Aeronáutica; Paulo César, hoje o artista plástico Mendes Faria, e o terceiro Paulo, o asmático, tossindo e cuspindo na janela, “frágil, inseguro e amedrontado como um filhote sem mãe, queixava-se de ser muito feio, raquítico, sem nenhum charme para as garotas e predizia para si mesmo um destino infeliz. Seu sonho era ser rico, famoso e membro da Academia Brasileira de Letras”.
O nome dele era Paulo Coelho, hoje rico, famoso, membro da Academia Brasileira de Letras e o maior fenômeno mundial do livro.
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MENDONÇA NETO
O quarto amigo, que contou esta história em um primoroso livro de crônicas (O Ministro Que Virou Garçon), é o veterano jornalista Mendonça Neto, mineiro que passou por algumas das mais importantes redações do Rio, como o Diário de Notícias, O Cruzeiro, a Manchete, Tribuna da Imprensa e foi duas vezes deputado estadual e duas vezes federal pelo PDT e pelo PMDB de Alagoas.
Além de Paulo Coelho, seu livro tem numerosos outros brilhantes perfis: dom Helder, Carlos Lacerda, Prestes, Brizola, Jânio Quadros, Adolfo Bloch, Castelo Branco, Teôtonio Vilela, Fernando Henrique, etc. Imperdível.
Sebastião Nery
15 de abril de 2012
Os outros acordaram, foram socorrê-lo:
– O que é que você tem?
– Asma. Sou asmático e às vezes não consigo dormir por falta de ar.
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PAULO COELHO
Bombeava seu remédio na boca, tomava fôlego, gemia e se maldizia:
– Vejam vocês. Que futuro posso ter, se nem consigo respirar, feio, tímido e inseguro como sou e ainda por cima doente, quase tuberculoso?
“Tossia, levava o lenço à boca, cuspia do alto da janela, fazendo lembrar os poetas tísicos que morreram moços, muito moços. Naquela janela, pernas encolhidas, queixo nos joelhos magros, era a fotografia da desesperança. Custava-lhe muito falar. A impressão é que não chegaria vivo ao amanhecer”.
Os amigos tentavam animá-lo e ele ali sofrendo. Eram quatro, três Paulos: Paulinho, hoje coronel da reserva da Aeronáutica; Paulo César, hoje o artista plástico Mendes Faria, e o terceiro Paulo, o asmático, tossindo e cuspindo na janela, “frágil, inseguro e amedrontado como um filhote sem mãe, queixava-se de ser muito feio, raquítico, sem nenhum charme para as garotas e predizia para si mesmo um destino infeliz. Seu sonho era ser rico, famoso e membro da Academia Brasileira de Letras”.
O nome dele era Paulo Coelho, hoje rico, famoso, membro da Academia Brasileira de Letras e o maior fenômeno mundial do livro.
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MENDONÇA NETO
O quarto amigo, que contou esta história em um primoroso livro de crônicas (O Ministro Que Virou Garçon), é o veterano jornalista Mendonça Neto, mineiro que passou por algumas das mais importantes redações do Rio, como o Diário de Notícias, O Cruzeiro, a Manchete, Tribuna da Imprensa e foi duas vezes deputado estadual e duas vezes federal pelo PDT e pelo PMDB de Alagoas.
Além de Paulo Coelho, seu livro tem numerosos outros brilhantes perfis: dom Helder, Carlos Lacerda, Prestes, Brizola, Jânio Quadros, Adolfo Bloch, Castelo Branco, Teôtonio Vilela, Fernando Henrique, etc. Imperdível.
Sebastião Nery
15 de abril de 2012
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