Aos 62 anos, o desembargador Walter Maierovitch se alinha entre as pessoas
que mais conhecem os bastidores do tráfico de drogas no País. Foi natural,
portanto, que ocupasse pioneiramente o cargo de secretário da Secretaria
Nacional Antidrogas.
O profundo conhecimento do assunto levou Maierovitch para o patamar dos especialistas em crime organizado, já que os dois temas são intimamente ligados. Nessa condição ele é hoje consultor da União Europeia, dividindo seu tempo entre Roma, onde está assentada sua base na Europa, e São Paulo, onde mora.
Nesta matéria da revista Digesto Econômico, o desembargador propicia um impressionante roteiro pelos meandros das máfias internacionais, mostra que muitos países são dependentes da economia gerada pelo narcotráfico e critica a posição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de descriminalização da maconha .
Digesto Econômico – A sociedade vem perdendo a batalha contra as drogas. Qual a sua opinião sobre isso?
Walter Maierovitch – Pouca gente consegue entender a geopolítica e a geoestratégia das drogas. Se pensarmos em termos de geoeconomia, se numa pessoa a droga gera dependência, na economia ocorre fato semelhante. Temos países dependentes da economia movimentada pelas drogas, que tem participação importante no PIB. Se pegarmos, por exemplo, o Vale do Bekaa (Líbano) há mais de 400 mil pessoas envolvidas no plantio da erva canábica e na produção de derivados, como o haxixe e o óleo. A economia do Marrocos é dependente dessas atividades. Pouca gente se preocupa com este tipo de problema.
DE – Há maiores dados sobre isso? No Marrocos, que o senhor comentou, sabe-se qual a participação das drogas no PIB desse país?
WM- Evidentemente, os dados não são oficiais. Há uma estimativa com dados do Banco Mundial e do FMI de que o mercado das drogas movimentaria de US$ 200 bilhões a US$ 400 bilhões dentro do sistema financeiro internacional. Imagine a crise se tirarem este montante do sistema financeiro.
O ex-presidente George W. Bush bateu na porta da Suprema Corte para conseguir uma decisão de que era inconstitucional um Estado federado legislar sobre drogas, uma vez que a competência legislativa para assuntos de drogas é federal.
Ele fez isso porque vários Estados legislaram, admitindo o uso terapêutico da maconha, condicionado a uma receita médica. Começou pela Califórnia. Houve um caso de uma senhora com um tumor na cabeça, com dores horríveis, que só era inibida quando ela fumava maconha. Hoje, nos EUA, já são oito Estados federados com essa legislação.
O objetivo de Bush era quebrar essa legislação. Como a Suprema Corte foi chamada para decidir sobre a constitucionalidade, ela decidiu que a competência era federal, mas não disse que as legislações dos Estados eram inconstitucionais. O Bush ganhou, mas não levou.
E o que fez o presidente Barack Obama há alguns meses? Ele determinou ao FBI para que não prendesse pessoas que fizessem uso terapêutico da maconha, pois o Bush havia determinado que essas pessoas fossem presas. Essa permissão de uso para fins terapêuticos do Obama está sendo vista como um primeiro passo para a liberação para uso lúdico. É o que se espera dele. Há 40 anos se discute a liberalização do uso da maconha, embora o (ex-presidente) Fernando Henrique tenha começado agora e ache que é iniciativa dele. Essa discussão foi retomada por Barack Obama e agora todo mundo fala disso.
O grande ponto que vejo aí, e com preocupação, é que não se está levantando aquela velha discussão de liberdade individual, do direito de autolesão – ninguém é condenado por tentar o suicídio ou por se automutilar, isso não é crime. O uso de droga é uma autolesão, não há dúvidas. E por que seria crime o uso de droga? Mas não é essa a discussão agora. O que se quer hoje é salvar as economias.
DE – Na sua opinião, o mundo pode prescindir do mercado de drogas?
WM- Se a movimentação chega a US$ 400 bilhões e há países dependentes, além de Estados que estão buscando fonte de renda na droga … Há 40 anos, o discurso era o da liberdade individual, hoje fala-se em salvação da economia. Isso é apresentado com a tese de legalização de drogas leves, no caso a maconha. Como se faz isso? O Estado teria o monopólio e estabeleceria o porcentual permitido de tetrahidrocanabinol (THC)
Veja o que aconteceu no pós-guerra, com economias quebradas. Em alguns países europeus, como a Itália, o que o Estado guardou para si? O monopólio do tabaco. Na Itália, nos lugares que vendem cigarros tem um “T”, de tabacachaio, na parede. Depois do tabaco entrou o sal e os selos. Notem como as coisas estão voltando.
15 de abril de 2012
O profundo conhecimento do assunto levou Maierovitch para o patamar dos especialistas em crime organizado, já que os dois temas são intimamente ligados. Nessa condição ele é hoje consultor da União Europeia, dividindo seu tempo entre Roma, onde está assentada sua base na Europa, e São Paulo, onde mora.
Nesta matéria da revista Digesto Econômico, o desembargador propicia um impressionante roteiro pelos meandros das máfias internacionais, mostra que muitos países são dependentes da economia gerada pelo narcotráfico e critica a posição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de descriminalização da maconha .
Digesto Econômico – A sociedade vem perdendo a batalha contra as drogas. Qual a sua opinião sobre isso?
Walter Maierovitch – Pouca gente consegue entender a geopolítica e a geoestratégia das drogas. Se pensarmos em termos de geoeconomia, se numa pessoa a droga gera dependência, na economia ocorre fato semelhante. Temos países dependentes da economia movimentada pelas drogas, que tem participação importante no PIB. Se pegarmos, por exemplo, o Vale do Bekaa (Líbano) há mais de 400 mil pessoas envolvidas no plantio da erva canábica e na produção de derivados, como o haxixe e o óleo. A economia do Marrocos é dependente dessas atividades. Pouca gente se preocupa com este tipo de problema.
DE – Há maiores dados sobre isso? No Marrocos, que o senhor comentou, sabe-se qual a participação das drogas no PIB desse país?
WM- Evidentemente, os dados não são oficiais. Há uma estimativa com dados do Banco Mundial e do FMI de que o mercado das drogas movimentaria de US$ 200 bilhões a US$ 400 bilhões dentro do sistema financeiro internacional. Imagine a crise se tirarem este montante do sistema financeiro.
O ex-presidente George W. Bush bateu na porta da Suprema Corte para conseguir uma decisão de que era inconstitucional um Estado federado legislar sobre drogas, uma vez que a competência legislativa para assuntos de drogas é federal.
Ele fez isso porque vários Estados legislaram, admitindo o uso terapêutico da maconha, condicionado a uma receita médica. Começou pela Califórnia. Houve um caso de uma senhora com um tumor na cabeça, com dores horríveis, que só era inibida quando ela fumava maconha. Hoje, nos EUA, já são oito Estados federados com essa legislação.
O objetivo de Bush era quebrar essa legislação. Como a Suprema Corte foi chamada para decidir sobre a constitucionalidade, ela decidiu que a competência era federal, mas não disse que as legislações dos Estados eram inconstitucionais. O Bush ganhou, mas não levou.
E o que fez o presidente Barack Obama há alguns meses? Ele determinou ao FBI para que não prendesse pessoas que fizessem uso terapêutico da maconha, pois o Bush havia determinado que essas pessoas fossem presas. Essa permissão de uso para fins terapêuticos do Obama está sendo vista como um primeiro passo para a liberação para uso lúdico. É o que se espera dele. Há 40 anos se discute a liberalização do uso da maconha, embora o (ex-presidente) Fernando Henrique tenha começado agora e ache que é iniciativa dele. Essa discussão foi retomada por Barack Obama e agora todo mundo fala disso.
O grande ponto que vejo aí, e com preocupação, é que não se está levantando aquela velha discussão de liberdade individual, do direito de autolesão – ninguém é condenado por tentar o suicídio ou por se automutilar, isso não é crime. O uso de droga é uma autolesão, não há dúvidas. E por que seria crime o uso de droga? Mas não é essa a discussão agora. O que se quer hoje é salvar as economias.
DE – Na sua opinião, o mundo pode prescindir do mercado de drogas?
WM- Se a movimentação chega a US$ 400 bilhões e há países dependentes, além de Estados que estão buscando fonte de renda na droga … Há 40 anos, o discurso era o da liberdade individual, hoje fala-se em salvação da economia. Isso é apresentado com a tese de legalização de drogas leves, no caso a maconha. Como se faz isso? O Estado teria o monopólio e estabeleceria o porcentual permitido de tetrahidrocanabinol (THC)
Veja o que aconteceu no pós-guerra, com economias quebradas. Em alguns países europeus, como a Itália, o que o Estado guardou para si? O monopólio do tabaco. Na Itália, nos lugares que vendem cigarros tem um “T”, de tabacachaio, na parede. Depois do tabaco entrou o sal e os selos. Notem como as coisas estão voltando.
15 de abril de 2012
(Texto enviado por Milton Corrêa da
Costa)
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