"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 28 de abril de 2012

O PAPAGAIO DAS LIBERDADES INDIVIDUAIS

          Artigos - Conservadorismo
A última de Rodrigo Constantino foi atacar Olavo de Carvalho em vídeo. Ao que parece, a surra que levou do ilustre pensador campinense jamais foi superada.


Recentemente, vi uma reportagem de uma revista semanal, onde fala de uma “nova direita” no ar: adivinha quem foi escolhido como modelo? Rodrigo Constantino! A imprensa propaga a direita que a esquerda quer. Uma direita inofensiva, que não cheira nem fede, e que no essencial, adere alegremente às cartilhas esquerdistas.

Até o Demétrio Magnoli é citado como “direitista”! Nota-se que os nomes citados não refletem a direita, mas em alguns casos, tão somente o centro e a direita da esquerda. Alguém acharia sério o Rodrigo Constantino ser considerado “direitista”, quando ele defende toda a agendinha politicamente correta do PNDH-3 e do PT?

A única divergência que Constantino tem contra o PT é em relação ao livre mercado. Mesmo assim, a divergência é bem pequena: petistas também adoram o livre mercado, ainda que seja para tributar, criar cabides de empregos públicos e roubar o dinheiro do povo.

Malgrado o estrelismo do homem, Rodrigo Constantino, endossado por uma mídia visivelmente esquerdista, gravou um vídeo querendo “depurar” a “verdadeira direita”. Ele se declara o representante da “direita esclarecida”, iluminista, secularista, amiguinha da razão e da modernidade.
E nós, cristãos, católicos, conservadores autênticos, defensores da família, da religião, de Deus e de valores absolutos e transcendentes, somos “medievais”. E mais: somos apologetas da Idade Média e da “teocracia medieval”. Só faltou colocar a guilhotina no meio de nossas cabeças, para idolatrar a “deusa razão”.

Na Idade Média não havia "teocracia". A teoria das duas espadas, a do poder temporal e espiritual, onde se consagravam duas esferas políticas distintas, já demonstra que o mundo medieval estava longe de ser teocrático. O papa não controlava toda a Europa. Pelo contrário, havia um conflitante equilíbrio de poder entre príncipes e clero. O conceito do Estado laico surge a partir daí.

Todavia, o máximo que se percebe no discurso de Constantino é que ele não tem o menor conhecimento histórico da Idade Média. Na verdade, o rapazinho é cheio daqueles clichês de cursinho pré-vestibular, alimentados por uma mentirosa literatura iluminista.
Na cabeça do liberal secularista, o mundo anterior ao século XVIII era só trevas e escuridão. Os iluministas, tal como que recriando um novo Gênesis, declararam “fiat lux” e a luz foi feita. E o mundo se tornou lindo e maravilhoso, sem os males do irracionalismo e da religião. A Santíssima Trindade foi substituída pela deusa natureza e deusa razão.

Óbvio. Antes do século XVIII não havia universidades, catedrais e filósofos. Não havia Santo Tomás, Santo Agostinho e Aristóteles. Não havia Palestrina, Monteverdi, Tomás de Victoria, Corelli, a ópera e a música renascentista e barroca. Não havia artistas, pintores, escultores ou poetas.

O mundo era obscuro, senil, enlouquecido. Era dominado pelo fanatismo religioso e pelas arbitrariedades do Antigo Regime. Sem contar que em priscas eras, as fogueiras santas da Inquisição dominavam todo o continente europeu, queimando bruxas. Era um fogaréu tremendo em cada esquina. Eis o fantástico mundo de Bobby idealizado por Constantino e pelos liberais. Apesar de sua completa ignorância sobre história, o pupilo sectário da Ayn Rand ainda rotula os conservadores autênticos de “direita tacanha”. Ou mais, contraditoriamente, ainda se autoriza a falar por eles.

Que raios afinal significa o “autêntico conservador”, nas palavras de Constantino? Simples: significa aprovar toda a pregação da revolução cultural, em nome da liberdade individual. Em suma, significa apoiar casamento gay, aborto, eutanásia, liberação das drogas, degradação familiar e todos os esquemas mentais da esquerda. Constantino admite uma exceção, um único acréscimo não inscrito no patacoada petista: transformar o livre mercado num objeto de culto idolátrico e acima dos valores essenciais da moral.

Divertida é a defesa que Rodrigo Constantino faz do aborto. Ele diz que a definição do início da vida é mera concepção religiosa. Porque, nas palavras do próprio, embora a vida comece pela concepção, não quer dizer que haja uma vida humana.
A contradição lógica aí não chega nem mesmo ser absurda. É simplesmente esquizofrênica. Se a vida humana tem um começo, ela não pode ser não-humana. Mas se a vida, no ventre da mãe, não é humana, o que então? É o capeta do bebê de Rosemary, do filme de Polansky?
Lembremos: não é a religião que afirma que a vida começa pela concepção. É a ciência. Os católicos apenas defendem o que é conforme à realidade. Constantino demonstra uma clareza racional digna dos protozoários: a vida começa pela concepção, mas, ali não há vida humana ou ser humano.

O mais interessante de tudo é que Constantino afirma que não cabe ao Estado reconhecer a personalidade civil ou os fenômenos característicos que descrevam, dão origem ou reconheçam a vida humana.
Ou seja, se eu quiser definir Constantino como um macaco e colocá-lo numa jaula para jogar uma banana para ele, será tão legítimo quanto as diretrizes legais do Estado que afirmam o contrário.
Aliás, até antes da infame decisão do Supremo Tribunal Federal sobre os anencéfalos, o Código Civil resguardava os direitos do nascituro. Embora a personalidade civil se inicie a partir do nascimento com vida, a lei então reconhecia os direitos de quem estava pra nascer. E por quê? Porque a ciência, a lógica e o bom senso reconhecem que o início da vida se origina pela concepção.
Constantino vai afirmar que o Código Civil segue valores religiosos? Não se pode dissociar a vida humana de seu início. Constantino não consegue perceber que a vida humana não se define por um formato visível ou ideal de pessoa, ou por meros aspectos formais da lei, e sim por um processo real e concreto da existência, que se inicia com a fecundação e termina com a morte.

A pergunta que fica no ar é: o que se define como um ser humano, na cabecinha vazia de Constantino? Uma hora ele diz que o Estado não tem o poder de definir o que é ser humano. Por outro lado, ele afirma justamente o contrário: quer ele próprio definir o que é um ser humano, embasado num critério formal de aparência do que ele acha que é humano. Ou mais, apelando à definição da personalidade civil como característico do que é humano!

No final das contas, Constantino reduz a humanidade a um complexo arbitrário de achismos. Recordemos que a lei, quando invoca a proteção legal da vida, não o restringe a quem nasce. Estende essa defesa a algo mais além, que é o seu início, na concepção, até a morte, embasada na realidade.
Quem quer bancar o deus, decidindo quem deve viver ou morrer, é o STF e Rodrigo Constantino.

O economista ficou revoltado quando o acusaram de eugenista, já que estava negando a humanidade dos anencéfalos e aos defeituosos, porque estes não teriam uma “vida plena”. Porém, o que é uma “vida plena”? O sujeito repete ad nauseam os chavões da “razão”, quando na prática, apenas destila uma subjetividade inócua e vazia, além de irracional. Na prática, Constantino faz uma confusão mental entre a realidade e suas preferências pessoais.

Esse achismo não se reduz tão somente às questões pessoais em relação à vida. Um defeito fatal visível, tanto em Rodrigo Constantino, como em seus acólitos libertários, como o vlogueiro Daniel Fraga, é a exploração oca do discurso da liberdade individual.
Eles idealizam a liberdade fora da esfera de qualquer ordem moral. A liberdade, por assim dizer, é um fim em si mesmo. Não me surpreendo quando vejo a defesa caricatural do “direito de morrer” ou qualquer outra prática perversa, em nome da liberdade.
Alguém tem o poder de impedir a morte? Nem mesmo a lei impede um sujeito depressivo de se matar. A questão é: por que o culto da morte? Por que a vontade de morrer seria necessariamente superior à própria vida?
A pregação do libertário é aquela que acha que destruir um ser humano é um direito. É a falsa liberdade que idolatra a corrupção, a destruição e a morte acima da vida, invertendo toda uma escala de valores.
A liberdade é reduzida a um fetichismo de palavras, numa notória moralidade de esterco.
E ainda Constantino quer nos ensinar o que é verdadeira liberdade! Lembremos que ele se considera muito “racional”.

Há um culto do niilismo, um relativismo moral grosseiro, prostituindo a liberdade e reduzindo-a a mero capricho de vontades ou de desejos. Constantino empobrece a concepção da liberdade e do próprio liberalismo. Esvazia-a de sentido. Inverte as hierarquias que legitimam a própria liberdade. Ou mais, o conceito de liberdade se barbariza. Tudo o que prega é a arbitrariedade do seu umbigo, que confunde com a "sua" liberdade e seus caprichos.

Por que alguém se espantaria que Constantino, adepto da Ayn Rand, e agora, pupilo de Nietzsche, queira pregar a “vontade da potência” e a exterminação dos fracos, porque eles não têm “vida plena”? A lógica do libertário é tão somente a destruição. Não é uma defesa sincera da liberdade, mas da supremacia do egocentrismo e do autismo.

A última de Rodrigo Constantino foi atacar Olavo de Carvalho em vídeo. Ao que parece, a surra que levou do ilustre pensador campinense jamais foi superada. Também pudera. Pode-se falar de muitas coisas sobre Olavo de Carvalho. Criticá-lo, brandi-lo como espantalho da “direita tacanha”, rotulá-lo, ridicularizá-lo. Eu mesmo já presenciei as piores palavras de ódio contra ele. Entretanto, é inegável a sua soberba erudição sobre grande parte de seus detratores. Constantino, perto de Olavo, é como uma criancinha birrenta esperneando contra um velho, porque não ganhou o Playstation do papai. A disparidade intelectual entre os dois é assustadora.

Constantino é um papagaio de pirata do liberalismo. Pura canja de galinha. Idiota útil das esquerdas e a direita que qualquer esquerdista sonha em ter como rival.

28 de abril de 2012
Leonardo Bruno  

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