"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 28 de abril de 2012

TODA UNANIMIDADE É SURPREENDENTEMENTE BURRA


 
E os índios, os verdadeiros “donos do Brasil”, vão continuar sendo excluídos à força, ministro Fux?
 
Se a nação brasileira pertencesse a algum povo em particular, esse povo seria o indígena e não o negro, como o ministro Luiz Fux insinuou ao dizer “viva a nação afrodescendente”. Mas ela não é de ninguém em particular, e sim de todos os brasileiros, esses miscigenados nos quais é quase impossível definir uma “raça”, mesmo com os mais avançados testes de DNA.
 
No entanto o índio guarani Araju Sepeti, após interromper os elogios de Fux à política de cotas para negros durante seu voto, foi expulso na tarde desta quinta-feira do plenário do Supremo Tribunal Federal, por clamar, muito justamente, para que os indígenas também fossem citados nas falas dos ministros.
 
Sepeti, que estava acompanhado de sua mulher e duas filhas, uma delas ainda bebê, resistiu e foi arrastado para fora do tribunal, gritando que seu braço estava sendo machucado. Sua filha e sua mulher também gritavam e chamavam os seguranças de “racistas” e “cavalos”. “É assim que tratam o índio no Brasil”, afirmou Sepeti.
 
Fux, após a retirada de Sepeti, limitou-se a dizer: “A democracia tem seus momentos que ultrapassam a dose”.
 
No que eu concordo com o ministro, mas por outro motivo. a democracia ultapassa a dose exatamente quando o STF se arvora de tribunal constitucional e simplesmente atropela o Artigo 5º da Constituição, aquele que assegura que todos os homens são iguais perante a lei, usurpa os poderes legislativos do Congresso e cria um apartheid em um país onde é praticamente impossível se definir com precisão a “raça” de alguém.
 
O pior de tudo é que não houve um ministro sequer com juízo para pelo menos admitir que o Supremo estava se metendo em seara alheia, o que demonstra que a demagogia e o desprezo pela Constituição por lá são endêmicas.
 
Só me resta parafrasear Nélson Rodrigues: toda unanimidade é supremamente burra.
28 de abril de 2012

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