Editorial da Folha
O senador Pedro Taques (PDT-MT), integrante da CPI do caso Cachoeira, está coberto de razão ao insistir na quebra dos sigilos bancário e fiscal da construtora Delta.
Até aqui, nada mais nebuloso que a Delta ocupou a pauta da inoperante comissão -que ontem viu um ex-vereador tucano deGoiânia distribuir referências que alguns interpretaram como ameaças veladas a próceres do governo federal e de fora dele.
O papel da empreiteira do Rio de Janeiro no esquema chefiado pelo empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e pelo senador goiano Demóstenes Torres (ex-DEM) segue envolto em sigilo intrigante. A CPI está cheia de dedos com a Delta, como se entre suas transações medrassem segredos capazes de abalar a República.
Não admira. A Delta se especializou em obras públicas, ponto nodal do circuito corrompedor que abastece empreiteiros, políticos e campanhas eleitorais com dinheiro do contribuinte. É a maior concessionária de canteiros do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) petista. Atua na maioria dos Estados, com destaque para o Rio do governador Sérgio Cabral (PMDB), amigo íntimo do "ex-dono" da firma, Fernando Cavendish.
A CPI resiste a investigar Cabral e, ecumenicamente, outros dois governadores -Marconi Perillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF)- colhidos na teia de relações suspeitas com Cachoeira.
No que respeita às contribuições da Delta para o caudal milionário, a estratégia de contenção desenhada pelos parlamentares tem sido circunscrever o inquérito ao braço da construtora no Centro-Oeste, comandado por Claudio Abreu, hoje ex-diretor, antes assíduo interlocutor de Cachoeira.
As pontas do novelo são tantas, porém, que o controle já lhes escapa das mãos. Veio à luz na CPI, por exemplo, que Abreu tinha procuração para movimentar uma dezena de contas da Delta, inclusive na sede fluminense, pondo por terra a versão de que o esquema só atuava em Goiás e cercanias.
Os enigmas em redor da Delta não se limitam ao passado de relacionamentos suspeitosos. Também quanto ao presente e ao futuro da empresa proliferam as incógnitas.
Por que surgiu o interesse do grupo J&F (JBS-Friboi) em administrar e prometer comprar uma empresa sob ameaça de declaração de inidoneidade pela Controladoria-Geral da União, que a tiraria do PAC? Por que os proprietários da J&F não conseguem dar versão unívoca sobre o alegado aval do governo Dilma Rousseff para a transação?
Está evidente que sobram interrogações e faltam respostas em todo esse imbróglio.
25 de maio de 2012
Folha de São Paulo
CPI do caso Cachoeira resiste à ideia óbvia de seguir trilha de dinheiro que vai de Goiás ao Rio e outros Estados, enlaçando vários partidos
O senador Pedro Taques (PDT-MT), integrante da CPI do caso Cachoeira, está coberto de razão ao insistir na quebra dos sigilos bancário e fiscal da construtora Delta.
Até aqui, nada mais nebuloso que a Delta ocupou a pauta da inoperante comissão -que ontem viu um ex-vereador tucano deGoiânia distribuir referências que alguns interpretaram como ameaças veladas a próceres do governo federal e de fora dele.
O papel da empreiteira do Rio de Janeiro no esquema chefiado pelo empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e pelo senador goiano Demóstenes Torres (ex-DEM) segue envolto em sigilo intrigante. A CPI está cheia de dedos com a Delta, como se entre suas transações medrassem segredos capazes de abalar a República.
Não admira. A Delta se especializou em obras públicas, ponto nodal do circuito corrompedor que abastece empreiteiros, políticos e campanhas eleitorais com dinheiro do contribuinte. É a maior concessionária de canteiros do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) petista. Atua na maioria dos Estados, com destaque para o Rio do governador Sérgio Cabral (PMDB), amigo íntimo do "ex-dono" da firma, Fernando Cavendish.
A CPI resiste a investigar Cabral e, ecumenicamente, outros dois governadores -Marconi Perillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF)- colhidos na teia de relações suspeitas com Cachoeira.
No que respeita às contribuições da Delta para o caudal milionário, a estratégia de contenção desenhada pelos parlamentares tem sido circunscrever o inquérito ao braço da construtora no Centro-Oeste, comandado por Claudio Abreu, hoje ex-diretor, antes assíduo interlocutor de Cachoeira.
As pontas do novelo são tantas, porém, que o controle já lhes escapa das mãos. Veio à luz na CPI, por exemplo, que Abreu tinha procuração para movimentar uma dezena de contas da Delta, inclusive na sede fluminense, pondo por terra a versão de que o esquema só atuava em Goiás e cercanias.
Os enigmas em redor da Delta não se limitam ao passado de relacionamentos suspeitosos. Também quanto ao presente e ao futuro da empresa proliferam as incógnitas.
Por que surgiu o interesse do grupo J&F (JBS-Friboi) em administrar e prometer comprar uma empresa sob ameaça de declaração de inidoneidade pela Controladoria-Geral da União, que a tiraria do PAC? Por que os proprietários da J&F não conseguem dar versão unívoca sobre o alegado aval do governo Dilma Rousseff para a transação?
Está evidente que sobram interrogações e faltam respostas em todo esse imbróglio.
25 de maio de 2012
Folha de São Paulo
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