No artigo publicado na edição de terça-feira 22, em O Globo, o professor Marco Antonio Vila afirmou que a Comissão da Verdade, instituída pela presidente Dilma Rousseff será um rotundo fracasso.
Ao mesmo tempo, duvida que seja capaz de promover a reconciliação nacional.
Colocou assim a questão precipitadamente: o historiador antes da História.
Pois para uma análise objetiva, é indispensável aguardar pelo menos o desenrolar dos trabalhos. O jogo acontece no campo, não no tapete da véspera. Isso de um lado. De outro, não é tarefa da Comissão promover a reconciliação nacional.
Sua missão se esgota na busca de fatos ainda nebulosos. A reconciliação pertence à política de governo. Agora a iniciativa de iluminar o caminho para encontrar a verdade já é por si muito importante. E isso a presidente da República fez. Mais que isso impossível.
Marco Antonio Vila igualmente questiona a capacidade da equipe nomeada para prestar assistência às vítimas das violações de direitos humanos. Não. A reparação de tais violações é matéria da Comissão de Anistia que funciona subordinada ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Como agirá a Comissão da Verdade – indaga Vila – para assegurar a não repetição do que passou? Esta pergunta não pode ser respondida por ninguém.
Não existe no plano político bola de cristal com tal potência de previsão. Nem métodos antecipados para bloquear o percurso para o futuro. E mesmo que existisse tal instrumento mágico, sua utilização caberia aos três Poderes da República, não a um órgão isolado do Palácio do Planalto.
O historiador Vila defende a tese de que a comissão deveria ter sido criada em 1984. Por isso, debita a Dilma Roussef 42 anos de atraso. Neste ponto, então, sequer vale a pena argumentar. A atual presidente assumiu há dezessete meses. Acrescenta que entre os integrantes escolhidos figura um psiquiatra e nenhum historiador. Este é outro caso. Não é matéria do contexto político.
Num outro trecho do artigo, Antonio sustenta que Lula, no passado, década de 70, possuia bom relacionamento com o general Golbery do Couto e Silva, então chefe da Casa Civil de Ernesto Geisel. Não consigo entender como tal possível relacionamento possa influir, agora, nas pesquisas da Comissão da verdade.
O general Golbery já morreu. E se os integrantes desejarem saber do papel desempenhado por ele, basta ler a coleção monumental escrita por Élio Gáspari sobre as diversas fases da ditadura militar que emergiu em 64 e se manteve até 79, para ser exato. Acabou antes de 85.
Isso porque, a partir de 79, o presidente João Figueiredo não tinha mais o poder de cassar direitos políticos e tal realidade reduziu de muito a força do arbítrio do ciclo dos generais no poder. Aliás, a respeito do general Golbery do Couto e Silva, o jornalista e também historiador Élio Gáspari o deixa muito mal. Golbery gravava as conversas telefônicas de Geisel, inclusive as mantidas em sua residência.
Até diálogos por extenso encontram-se na obra magnífica. Golbery era, assim, uma espécie de Cássio, na peça Júlio Cesar, de Shakespeare. E que se transformou num filme da Metro de grande sucesso, década de 50. Cássio traia Júlio César. Golbery traia e abusava da confiança de Geisel. Era o chefe de sua Casa Civil.
Mas voltando ao artigo de Marco Antonio Vila, a mim pareceu um libelo com base num rancor pessoal, que pode ser compreensível, mas bloqueia a percepção, a capacidade de análise e a tradução dos fatos por um historiador, cujo compromisso consigo mesmo é tão grande quanto o que possui para a sociedade contemporânea. Mais do que isso: o compromisso, como disse Bertoldt Brecht, em relação àqueles que vierem depois de nós.
Ao mesmo tempo, duvida que seja capaz de promover a reconciliação nacional.
Colocou assim a questão precipitadamente: o historiador antes da História.
Pois para uma análise objetiva, é indispensável aguardar pelo menos o desenrolar dos trabalhos. O jogo acontece no campo, não no tapete da véspera. Isso de um lado. De outro, não é tarefa da Comissão promover a reconciliação nacional.
Sua missão se esgota na busca de fatos ainda nebulosos. A reconciliação pertence à política de governo. Agora a iniciativa de iluminar o caminho para encontrar a verdade já é por si muito importante. E isso a presidente da República fez. Mais que isso impossível.
Marco Antonio Vila igualmente questiona a capacidade da equipe nomeada para prestar assistência às vítimas das violações de direitos humanos. Não. A reparação de tais violações é matéria da Comissão de Anistia que funciona subordinada ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Como agirá a Comissão da Verdade – indaga Vila – para assegurar a não repetição do que passou? Esta pergunta não pode ser respondida por ninguém.
Não existe no plano político bola de cristal com tal potência de previsão. Nem métodos antecipados para bloquear o percurso para o futuro. E mesmo que existisse tal instrumento mágico, sua utilização caberia aos três Poderes da República, não a um órgão isolado do Palácio do Planalto.
O historiador Vila defende a tese de que a comissão deveria ter sido criada em 1984. Por isso, debita a Dilma Roussef 42 anos de atraso. Neste ponto, então, sequer vale a pena argumentar. A atual presidente assumiu há dezessete meses. Acrescenta que entre os integrantes escolhidos figura um psiquiatra e nenhum historiador. Este é outro caso. Não é matéria do contexto político.
Num outro trecho do artigo, Antonio sustenta que Lula, no passado, década de 70, possuia bom relacionamento com o general Golbery do Couto e Silva, então chefe da Casa Civil de Ernesto Geisel. Não consigo entender como tal possível relacionamento possa influir, agora, nas pesquisas da Comissão da verdade.
O general Golbery já morreu. E se os integrantes desejarem saber do papel desempenhado por ele, basta ler a coleção monumental escrita por Élio Gáspari sobre as diversas fases da ditadura militar que emergiu em 64 e se manteve até 79, para ser exato. Acabou antes de 85.
Isso porque, a partir de 79, o presidente João Figueiredo não tinha mais o poder de cassar direitos políticos e tal realidade reduziu de muito a força do arbítrio do ciclo dos generais no poder. Aliás, a respeito do general Golbery do Couto e Silva, o jornalista e também historiador Élio Gáspari o deixa muito mal. Golbery gravava as conversas telefônicas de Geisel, inclusive as mantidas em sua residência.
Até diálogos por extenso encontram-se na obra magnífica. Golbery era, assim, uma espécie de Cássio, na peça Júlio Cesar, de Shakespeare. E que se transformou num filme da Metro de grande sucesso, década de 50. Cássio traia Júlio César. Golbery traia e abusava da confiança de Geisel. Era o chefe de sua Casa Civil.
Mas voltando ao artigo de Marco Antonio Vila, a mim pareceu um libelo com base num rancor pessoal, que pode ser compreensível, mas bloqueia a percepção, a capacidade de análise e a tradução dos fatos por um historiador, cujo compromisso consigo mesmo é tão grande quanto o que possui para a sociedade contemporânea. Mais do que isso: o compromisso, como disse Bertoldt Brecht, em relação àqueles que vierem depois de nós.
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