A Grécia quer permanecer na zona do euro, mas luta contra as medidas de austeridade. Do outro lado, a Europa teme uma saída grega, mas também se apavora com a possibilidade de contágio da crise
A formação de um governo na Grécia depois dos divididos resultados das últimas eleições parlamentares teria dado ao país a chance de respirar em meio a sua interminável crise econômica e de buscar as reformas de que tanto precisa, como a recapitalização de seus bancos e o aumento da privatização, que ajudariam a restaurar sua credibilidade com seus parceiros europeus e os mercados financeiros. Ao invés disso, os gregos voltarão às urnas no dia 17 de junho, e até lá estarão sob os cuidados de Panagiotis Pikrammenos, o juiz mais veterano em atividade no país.
De acordo com as pesquisas, o apoio da população grega à permanência na zona do euro aumentou de 70 pra 80% nos últimos três meses. No entanto, há temores de que a instabilidade política que continua a assolar o país possa provocar uma saída da Grécia do bloco monetário. Três bilhões de euros foram sacados de contas gregas na última semana, depois que a nova formação do Parlamento não conseguiu estabelecer um governo de coalizão. “O povo está tomando medidas preventivas”, diz um banqueiro veterano. “Se você tem nas mãos uma pilha de euros, certamente se sentirá rico caso o dracma seja reestabelecido”.
Além disso, embora queiram continuar na zona do euro, os gregos estão cansados das medidas de austeridade, colocadas pelos alemães como pré-requisito para a permanência. O Syriza, coalizão de esquerda que teve a segunda maior votação nas últimas eleições, parece concordar com essa visão, defendendo a permanência grega, desde que haja uma revisão das reformas impostas pela troika (União Europeia, Banco Central Europeu, e Fundo Monetário Internacional).
Essa é uma mensagem que parece atrair os eleitores gregos, e pesquisas indicam que o Syriza pode vencer as próximas eleições com 20,5% dos votos, o que ainda não lhe garantiria a maioria, mas que já deixaria à frente de partidos tradicionais como A Nova Democracia e o PASOK.
Líderes querem políticas de crescimento
No resto do mundo, os saques nos bancos gregos também causaram preocupação em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, que já estão em alerta para uma possível saída da Grécia da zona do euro. “Ou a Europa colocará em ação uma zona do euro compromissada, estável e bem sucedida, ou entraremos todos em um território perigosíssimo com enormes riscos para todo mundo”, afirmou o primeiro-ministro britânico David Cameron nesta quinta-feira, 16. No entanto, nem todos estão tão pessimistas. Charles Dallara, chefe do Instituto Internacional de Finanças, acredita que a Grécia se estabilizará assim que formar um novo governo comprometido com a ideia de permanecer na zona do euro. “O dano pra o resto da Europa, caso a Grécia deixe a zona do euro, seria algo entre uma catástrofe e o completo Armageddon”.
Esperava-se que no encontro do G8, que começa nesta sexta-feira, 18, nos arredores de Washington, Barack Obama – seguindo os passos do novo presidente francês, François Hollande – fosse pressionar a chanceler alemã Angela Merkel a adotar uma abordagem mais relaxada, e considerar um pacote de crescimento para a Europa, deixando de lado as medidas de austeridade rejeitadas pelos eleitores gregos. Mas fontes ligadas ao governo norte-americano afirmam que o governo de Obama decidiu evitar envolvimento direto com as questões da economia europeia.
“Desequilíbrios entre os países da zona do euro criaram credores e devedores, e em algum momento as perdas de crédito terão que ser reconhecidas, absorvidas e divididas”, diz Ser Mervyn King, chefe do Banco da Inglaterra. “Até que isso aconteça, não haverá resolução alguma”.
“Aqueles que dizem que uma saída da Grécia não será grande coisa não sabem do que estão falando, ou têm motivos escusos”, afirma Sony Kapoor, da usina de ideias ReDefine, de Bruxelas. “Os danos sociais, políticos e econômicos à União Europeia serão incalculáveis”.
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