"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 13 de julho de 2012

A ESQUECIDA MEMÓRIA HISTÓRICA

                                 A HERANÇA MALDITA DOS DESGOVERNOS CIVIS


I
A maior diferença entre o Regime Militar e a Fraude da Abertura Democrática é que os militares (os antigos) tinham como proposta atender as necessidades do país nas suas relações internacionais e as demandas sociais internas na direção da justiça social: colocar o Brasil no cenário mundial como uma potência econômica era o seu maior propósito a par de sua luta para impedir que os canalhas do comunismo tomassem conta do país respondendo ao chamamento geral da sociedade em 1964, a mesma sociedade que hoje silencia diante da absurda falência moral do poder público.
No caso dos presidentes civis sempre foi difícil governar e acertar o passo na direção de um projeto de uma grande nação democrática e com justiça social, pois os interesses a serem atendidos eram e continuam sendo os das oligarquias políticas prostituídas e, mais recentemente, de uma burguesia sórdida nascida no pântano comuno-sindical, que chegou ao poder financeiro e político com a eleição de Lula.
Para esses patifes não existe pátria e sim um objeto do desejo do enriquecimento ilícito fundamento em um projeto de poder perpétuo, que agride frontalmente qualquer princípio de uma democracia com alternância no poder, tendo em vista o incontrolável aparelhamento partidário do Estado.
As doenças que estão acabando com o futuro do país são a prostituição da política, a corrupção e a prevaricação, que têm suas sementes plantadas e seus hediondos frutos colhidos dentro do poder público, reconhecidamente o grande responsável pela degeneração moral em que vive o país.
Milhares de funcionários públicos honestos são reféns dos núcleos de poder dominados por covis de corruptos, prevaricadores e corporativistas sórdidos.
O Estado tem se apresentando durante os desgovernos civis como a maior fonte de degeneração moral das relações público-privadas, pois a impunidade recorrente e sistemática dos corruptos e seus cúmplices da iniciativa privada – ladrões descarados do dinheiro público – passam para a sociedade que o ilícito em regra geral recompensa, a maioria das vezes, regiamente.
II
Enganam-se os que acham que a herança maldita deixada pelo desgoverno Lula para a presidente Dilma seja de caráter financeiro ou econômico diante de um cenário mundial que se aproxima de uma profunda crise econômica, situação inversa a que o presidente anterior passou durante todo o seu mandato.
O que está acontecendo no país é muito mais grave: é a miséria cultural, educacional e moral em que estamos afundados até o pescoço.
A deformação moral e ética das relações público-privadas, que nos transformou em uma sociedade degenerada, é o produto direto da miséria cultural e educacional, resultado mais relevante da fraude da Abertura Democrática.
Como subprodutos estão os desvios de comportamentos - a maioria de caráter ilícito - dos agentes do Estado, aqueles que deveriam garantir aos cidadãos o direito de ir e vir, o direito a uma moradia digna e não um gueto que somente é visitado nas épocas de eleição ou pela polícia para combater o crime organizado, o direito ao trabalho honesto, e o direito ao acesso à educação e à cultura, mas sem a perversidade e a covardia do suborno político comprador de votos.
Os poderes da República perderam sua característica de independência e se subordinam ao poder Executivo, que transformou a ocupação de cargos de primeiro, segundo e terceiro escalão, depois de cada eleição, ou durante o mandato do presidente, como o melhor instrumento de suborno das consciências daqueles que deveriam exercer a crítica construtiva e empreendedora, assim como a recusa em participar de atos lesivos ao país em todos os aspectos das relações público-privadas.
Vez por outra a OAB, que tem uma natureza não estatal, com teórica independência diante das instituições públicas, ensaia acordar de sua letargia na defesa dos princípios de Justiça – que no nosso país não merece ter mais esse nome, mas acaba retornando ao seu papel de omissão diante da degeneração moral do submundo dos ritos legais, especialmente os que envolvem os Tribunais Superiores e os Conselhos de Justiça.
O corporativismo sórdido se alastrou pelo país e na maioria de suas instituições públicas ou privadas.
III
As organizações civis, que poderiam participar da construção de uma nação que servisse de exemplo para o mundo ocidental, estão alijadas desse objetivo e entregues a um relacionamento refém do suborno financeiro e político que define suas identidades com os agentes do Estado, tudo em benefício da permanência dos desvios de conduta dos que tentam, a qualquer preço, transformar o país em um Estado Comunista de Direito, uma Cuba Continental.
A mentalidade dos que estão no poder é que o fato de terem sido eleitos pelo voto direto, mas comprado com um vergonhoso assistencialismo que está enterrando o país em uma dívida pública sem limites, lhes dá o direito de agredir de forma sistemática todos os mais elementares princípios morais nos seus relacionamentos internos entre os podres poderes da República, assim como nos externos com a sociedade, a mesma que paga o custo de um Estado que tem se caracterizado como corrupto, incompetente, irresponsável e inconsequente, depois que os civis assumiram o poder.
Se isso não fosse verdade o país não estaria imerso em uma perigosa degeneração educacional e cultural que, no final das contas, se mostra como a maior responsável pela transformação do Brasil no paraíso do ilícito sob todas as suas formas.
Se isso não fosse verdade o país não estaria sendo violentado com a ocorrência média de mais de 140 assassinatos por dia.
Se isso não fosse verdade um repórter não passaria com uma imitação metálica de um fuzil dentro de uma simples mala por todos os principais aeroportos do país sem ser molestado.
Se isso não fosse verdade as Forças Armadas não estariam subindo morros para combater o crime organizado deixando nossas fronteiras e nossas riquezas naturais absolutamente expostas aos aventureiros que enxergam nosso país como um “oásis” a ser conquistado.
Se isso não fosse verdade a segurança e a saúde pública não estariam mergulhados no caos.
As verdadeiras heranças malditas, uma delas deixada de forma cumulativa pelos desgovernos civis e as outra, deixada pelo desgoverno Lula, foram respectivamente: a desqualificação operacional e constitucional das Forças Armadas, e a permissividade prostituta da política que induz que o Estado seja reconhecido pela opinião pública como um covil de bandidos de todos os matizes.
Estamos perplexos pelo fato da miséria moral, ética, cultural e educacional ter tomado conta relações público-privadas de forma tão impune e avassaladora.
Este processo poderá levar décadas para ser desfeito, se houver alguma tentativa séria da sociedade de reverter o caos - nos aspectos citados - em que se encontra o país.
 
Geraldo Almendra
10/01/2011
 
(13 de julho de 2012)

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