"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 13 de julho de 2012

PARA QUE SERVE UMA CPI?

Vou lhe fazer uma pergunta a você leitor que me acompanha quase diariamente. Será que o senhor ou a senhora assistiu ao depoimento do prefeito de Palmas esta semana pela televisão na CPI do Cachoeira? Pois bem, caso não, vou lhe fazer um resumo seguido de outra pergunta.

A questão central é: por que o Prefeito de Palmas, Raul Filho ligado ao PT, foi convocado para a CPI do Cachoeira? O prefeito, sua excelência, com todo o respeito, foi convocado após a liberação de um vídeo (foi filmado) exibido nas televisões em que o mesmo quando ainda era um pré-candidato foi flagrado conversando com Carlinhos Cachoeira (o mesmo que sozinho, sozinho continua preso – é bom destacar que ele não tem cargo politico), veja bem, conversando com o próprio Carlinhos Cachoeira combinando favorecimento para o grupo de Cachoeira. Após ser eleito a empresa Delta apontada pela Policia Federal como pertencente ao esquema do Cachoeira, foi “favorecida” com contratos sem licitação de mais de 100 milhões de reais.
Agora vem a parte mais folclórica do depoimento. Na CPI o próprio prefeito além de negar (apesar da evidência do vídeo) disse que não sabia direito quem era Carlinhos Cachoeira. Pode isso? Um candidato a Prefeito vai conversar com alguém no seu gabinete para falar de valores financeiros e diz que não conhecia o interlocutor? E o pior, ou o folclórico é que o prefeito terminou usando estas palavras na CPI, leiam: “Fui certo sem saber em que área ele atuava. Isso realmente é indecente. Eu tive a infelicidade de ser filmado”. Mas perai, como é que alguém diz “eu tive a infelicidade de ser filmado” e terminado o depoimento sai tranqüilamente para casa?

Agora eu lhe faço outra pergunta: em país sério (você pode rir e dizer com ironia, “mas este não é o caso do Brasil”. Concordo, mas vamos imaginar que sim) não era para terminado o depoimento ser chamada a policia e a mesma colocar algemas nos braços do prefeito e o levado preso? Mas isso é dinheiro do contribuinte, do povo, dinheiro suado, pelo trabalho, e que vai para os chamados “cofres públicos”, que de público não tem nada, e fica tudo por isso mesmo. Como é possível?

Muitos dizem, alguns amigos inclusive, “Laurence é inútil, esse país não muda, você está perdendo seu tempo, escreva sobre outras coisas, literatura, por exemplo,”. Bom, não sei o que você que me acompanha acha disso, mas eu não penso assim, e acho que com o silêncio a coisa é ainda pior. Utopia? Pode ser.

Agora teremos eleições novamente para prefeito das cidades. Muitos dos candidatos já foram acusados das piores coisas. Escândalos e mais escândalos. Será o que o seu candidato já foi acusado também? E se foi, você acha que o mesmo merece seu voto? Bom, alguém com um senso mais realista (nessa horas o que há de “realistas” é um caso sério) pode dizer: “é inútil o povo não sabe dessas coisas e quando quer votar não tem que o faça desistir”. Pode ser verdade. E até diria, em muito é. Mas não totalmente.

E mais: sabemos que propaganda política é uma forma de maquiagem, transformando candidatos em “produtos de limpeza”. Fazem (o marketing) uma verdadeira assepsia, ainda que a verdade sempre venha e se imponha. Não se engana a todos o tempo todo. Vender uma idéia com argumentos retóricos pode ser uma boa maneira de maquiar ou distribuir ilusões. Mas é preciso lembrar ou confiar que uma democracia não é totalitarismo (ainda que muitos queiram) com uma única opinião. Há forças outras em movimento. Quem sabe haja espaço para elas.

Laurence Bittencourt
13 de julho de 2012

(*) Fotomontagem: Raul Filho & Cachoeira

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