Estrelas da investigação, que ganharam notoriedade atacando mensaleiros, hoje estão do lado petista: a conveniência política pesou
A crise do mensalão, que abalou e colocou em risco a continuidade do governo Lula em 2005, assumiu proporções tão grandes que o Palácio do Planalto não foi capaz de manter as rédeas sobre a investigação feita no Congresso em três Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI).
Foi nessa época, especialmente sob os holofotes da CPI dos Correios, que um grupo de parlamentares de oposição ganhou projeção nacional pelo rigor e pela artilharia contra a gestão petista. Sete anos depois, às vésperas do início do julgamento do maior esquema de corrupção já montado por um governo, alguns deles estão de mãos dadas com o PT em busca de votos.
Leia também: Entenda o caso do mensalão
Um dos melhores exemplos é o ex-tucano Eduardo Paes (PMDB), que resolveu pegar carona na popularidade de Lula para se eleger prefeito do Rio de Janeiro.
Na época, Paes integrava a linha de frente da oposição nas investigações da CPI dos Correios.
Chegou a sugerir a volta dos caras-pintadas às ruas, a exemplo das manifestações pelo impeachment de Fernando Collor de Melo.
"Está na hora de os caras-pintadas da UNE (União Nacional dos Estudantes), que recebem recursos vultosos, deixarem de fazer passeatas vagas, como se o atual governo não tivesse relação com a corrupção", afirmou o então deputado de oposição Eduardo Paes, no ápice da crise de 2005.
Passado o escândalo e garantidos os dividendos políticos da sua exposição, o ex-tucano preferiu tomar outro rumo: aliou-se ao próprio Lula, em 2008, com o objetivo de disputar a prefeitura do Rio. No caminho de conversão ao lulismo, filiou-se ao PMDB pelas mãos do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
Conveniência - A CPI também projetou no cenário político outro deputado tucano: o paranaense Gustavo Fruet, sub-relator da comissão.
A ascensão foi tamanha que Fruet chegou a ser candidato à presidência da Câmara respaldado pelo chamado "grupo dos éticos" da Casa.
Derrotado, ganhou respeito no seu partido e ocupou o cargo de líder da minoria no Congresso até o final de 2010, quando tentou um voo mais alto: o Senado Federal.
Ficou em terceiro lugar, mas saiu das urnas com mais de 2,5 milhões de votos - 200 000 votos a menos que Roberto Requião (PMDB).
Sem mandato, Fruet encolheu no PSDB e não conseguiu maioria interna para encabeçar uma chapa à prefeitura de Curitiba. Decidiu, então, mudar de campo político, aderiu ao PDT e não resistiu à tentação de disputar as eleições com o PT a tiracolo.
Em maio, o ex-tucano viajou de Curitiba para São Paulo para receber pessoalmente a benção de Lula. Na saída do encontro, repetiu o discurso de Eduardo Paes:
“Na ocasião, assumi a postura que o momento exigia. Fui contundente na investigação, mas nunca entrei em desqualificação pessoal do presidente”.
A mudança de lado é usada diariamente pelos adversários de Fruet para tentar desqualificar sua candidatura. "Cada um é guardião da sua história. Exerci com total lealdade e dedicação o trabalho que fiz lá. Muito do que está sendo utilizado hoje no processo teve por base o trabalho da CPI", diz ele. "A gente tem de ter capacidade de preservar as posições", defende-se.
Fruet afirma que sua aliança com o PT foi costurada com figuras que não tiveram relação com o mensalão, como o casal de ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações).
Relator - Apontado em 2005 como um peemedebista "independente", o deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR) recebeu uma das tarefas mais árduas no turbilhão do mensalão: a relatoria da CPI dos Correios, cujo manancial de documentos e revelações poderia fazer com que o mandato do ex-presidente Lula terminasse mais cedo.
Na época, parte do PMDB ainda não havia aderido ao governo petista. Hoje, Serraglio se vê confortável na base de apoio à presidente Dilma Rousseff - a quem ele vê como mais rigorosa do que Lula no combate à corrupção.
O peemedebista trata com naturalidade a guinada de parlamentares que, após atacar enfaticamente o PT durante o mensalão, agora são entusiastas do petismo: "Não sei se é oportunismo. Eles se tornaram peças importantes polticamente, porque foram valorizados pela própria CPI, e a população identificou a luta deles contra a corrupção", analisa.
A mudança de postura dos antigos algozes do PT faz parte de um processo mais amplo: o do esvaziamento da oposição no Brasil.
Em 2005, o governo podia contar com pouco mais da metade do Congresso Nacional. Hoje, a oposição controla apenas 17% da Câmara e 19% do Senado, menos de um terço do Congresso, número insuficiente, por exemplo, para abrir uma CPI.
Leia também:
Marcos Valério volta a chantagear Lula e o PT
Procuradoria deve ignorar decisão sobre valerioduto
22 de julho de 2012
VEJA
Gabriel Castro
Sérgio Cabral e Eduardo Paes visitam Lula (Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
Foi nessa época, especialmente sob os holofotes da CPI dos Correios, que um grupo de parlamentares de oposição ganhou projeção nacional pelo rigor e pela artilharia contra a gestão petista. Sete anos depois, às vésperas do início do julgamento do maior esquema de corrupção já montado por um governo, alguns deles estão de mãos dadas com o PT em busca de votos.
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Um dos melhores exemplos é o ex-tucano Eduardo Paes (PMDB), que resolveu pegar carona na popularidade de Lula para se eleger prefeito do Rio de Janeiro.
Na época, Paes integrava a linha de frente da oposição nas investigações da CPI dos Correios.
Chegou a sugerir a volta dos caras-pintadas às ruas, a exemplo das manifestações pelo impeachment de Fernando Collor de Melo.
"Está na hora de os caras-pintadas da UNE (União Nacional dos Estudantes), que recebem recursos vultosos, deixarem de fazer passeatas vagas, como se o atual governo não tivesse relação com a corrupção", afirmou o então deputado de oposição Eduardo Paes, no ápice da crise de 2005.
Passado o escândalo e garantidos os dividendos políticos da sua exposição, o ex-tucano preferiu tomar outro rumo: aliou-se ao próprio Lula, em 2008, com o objetivo de disputar a prefeitura do Rio. No caminho de conversão ao lulismo, filiou-se ao PMDB pelas mãos do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
Conveniência - A CPI também projetou no cenário político outro deputado tucano: o paranaense Gustavo Fruet, sub-relator da comissão.
A ascensão foi tamanha que Fruet chegou a ser candidato à presidência da Câmara respaldado pelo chamado "grupo dos éticos" da Casa.
Derrotado, ganhou respeito no seu partido e ocupou o cargo de líder da minoria no Congresso até o final de 2010, quando tentou um voo mais alto: o Senado Federal.
Ficou em terceiro lugar, mas saiu das urnas com mais de 2,5 milhões de votos - 200 000 votos a menos que Roberto Requião (PMDB).
Sem mandato, Fruet encolheu no PSDB e não conseguiu maioria interna para encabeçar uma chapa à prefeitura de Curitiba. Decidiu, então, mudar de campo político, aderiu ao PDT e não resistiu à tentação de disputar as eleições com o PT a tiracolo.
Em maio, o ex-tucano viajou de Curitiba para São Paulo para receber pessoalmente a benção de Lula. Na saída do encontro, repetiu o discurso de Eduardo Paes:
“Na ocasião, assumi a postura que o momento exigia. Fui contundente na investigação, mas nunca entrei em desqualificação pessoal do presidente”.
A mudança de lado é usada diariamente pelos adversários de Fruet para tentar desqualificar sua candidatura. "Cada um é guardião da sua história. Exerci com total lealdade e dedicação o trabalho que fiz lá. Muito do que está sendo utilizado hoje no processo teve por base o trabalho da CPI", diz ele. "A gente tem de ter capacidade de preservar as posições", defende-se.
Fruet afirma que sua aliança com o PT foi costurada com figuras que não tiveram relação com o mensalão, como o casal de ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações).
Relator - Apontado em 2005 como um peemedebista "independente", o deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR) recebeu uma das tarefas mais árduas no turbilhão do mensalão: a relatoria da CPI dos Correios, cujo manancial de documentos e revelações poderia fazer com que o mandato do ex-presidente Lula terminasse mais cedo.
Na época, parte do PMDB ainda não havia aderido ao governo petista. Hoje, Serraglio se vê confortável na base de apoio à presidente Dilma Rousseff - a quem ele vê como mais rigorosa do que Lula no combate à corrupção.
O peemedebista trata com naturalidade a guinada de parlamentares que, após atacar enfaticamente o PT durante o mensalão, agora são entusiastas do petismo: "Não sei se é oportunismo. Eles se tornaram peças importantes polticamente, porque foram valorizados pela própria CPI, e a população identificou a luta deles contra a corrupção", analisa.
A mudança de postura dos antigos algozes do PT faz parte de um processo mais amplo: o do esvaziamento da oposição no Brasil.
Em 2005, o governo podia contar com pouco mais da metade do Congresso Nacional. Hoje, a oposição controla apenas 17% da Câmara e 19% do Senado, menos de um terço do Congresso, número insuficiente, por exemplo, para abrir uma CPI.
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