"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 22 de julho de 2012

A FRAGILIDADE DE RICARDO TEIXEIRA E APROXIMAÇÃO DE ROMÁRIO

Protocolar, política e educadamente, Romário argumenta que foi ao encontro de Ricardo Teixeira atendendo a convite do amigo – agora porta-voz da CBF – Ronaldo. Pode dizer que o encontro foi, também, para interceder pelos segmentos sociais, como o dos deficientes, que ele defende.
           
Porém, continuo com a pulga atrás da orelha. Romário é a voz do futebol, no Congresso Nacional, que repercute na mídia. E este não é o melhor momento para Ricardo Teixeira tê-lo como opositor.
É sintomática a aproximação, justamente na semana em que RT se afastava da assembléia da FIFA e da liderança – temporária, diz o cartola – do Comitê Organizador da Copa.
Fora dessas frentes, Ricardo Teixeira se fragiliza e facilita a articulação para ressuscitar a proposta de uma CPI da CBF.
Deve ser por isso que o senador mineiro, Zezé Perrela, o eterno líder do Cruzeiro, faz campanha velada para lançar um possível candidato à CBF. Ninguém fala oficialmente sobre isso, mas o experiente cartola movimenta-se neste sentido. Bem ao estilo mineiro, trabalhando em silêncio.
É neste panorama que vejo mais um motivo para a aproximação de Romário à CBF. Mas a realidade desse encontro só saberemos em 2012, durante a atuação parlamentar do Baixinho – com o devido respeito, excelência.
Enquanto isso...
Relendo o relatório da CPI da CBF Nike, realizada em 2011, encontrei a seguinte preciosidade, com informações a partir da quebra de sigilos bancário e fiscal:
A CBF efetuou transferências para o exterior no mercado flutuante, tipo 04, no período de novembro de 1995 a março de 2001, no valor de US$9.738.423,02, sendo US$ 2.123.850,55 a título de Capital Brasileiro de Curto Prazo – Operações com ouro, representando 21,81% das transferências no mercado flutuante.
“Essas operações trazem informações incompletas, pois não indicam qual o país de destino nem o nome do recebedor no exterior. Chama atenção também o fato de serem os únicos contratos da CBF, ao longo do período janeiro/1995 a março/2001, a serem realizados na moeda dólar-ouro.
“Cabe, portanto, solicitar ao banco que efetuou a operação, (o HSBC Bank Brasil S.A., na época Banco Bamerindus) e à própria CBF, através de seus representantes, informar o país de destino desses recursos, assim como o recebedor no exterior.
“Ricardo Teixeira, ao depor, não soube explicar o motivo dessas transferências em dólar-ouro. Posteriormente, em correspondência de 19 de abril último (2001), informou apenas que “os saldos da conta corrente da CBF no Bamerindus eram automaticamente aplicados sem risco, já que extratos anexos demonstram que as taxas anexas eram prefixadas”. Continuou sem explicar os motivos de a CBF ter feito essas transferências para o exterior e para quem” – encerra o capítulo sobre o assunto.
Entenderam?
A CBF, entidade “sem fins lucrativos”, fazia aplicações e remessas para o exterior já em 2001 !!! Mas não se sabe para onde nem para quem.
E o dinheiro dessas remessas e aplicações foi obtido em nome de uma instituição do nosso patrimônio cultural, a “Seleção Brasileira”, que é a galinha de ovos de ouro da CBF. Apresenta-se com as cores nacionais, desfila com a Bandeira Nacional Brasileira e entoa o Hino Nacional de nosso país. Mas nenhuma parte dos lucros que obtém reverte em favor de projetos para projetos sociais infantis que usem o futebol como instrumento. Ao contrário, parte da grana foi parar no exterior...
O relatório da CPI, cujo trecho transcrevi aí em cima, é assinado pelo atual ministro do Esporte, Aldo Rebelo, então deputado federal, e por Silvio Torres, à época também deputado.
Cópias do documento foram enviadas à Polícia Federal, Banco Central, Receita Federal, Ministério Público, Tribunal de Contas, Procuradoria Geral da República, Presidência da República, enfim. Há 10 anos, uma década. E nada aconteceu.
Agora, com RT sob fogo cruzado e fragilizado politicamente, são argumentos assim que incentivam alguns parlamentares a recriar a CPI da CBF. Se isso acontecer, vamos ver qual será a atuação do deputado Romário, principalmente.
22 de julho de 2012
josé cruz

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