"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 22 de julho de 2012

RENÚNCIA DE SÉRGIO CABRAL PREJUDICA PAES NO RIO

Ao anunciar, em julho de 2012, que vai renunciar ao governo do Rio em dezembro de 2013, portanto com uma antecedência de doze meses, Sergio Cabral tomou uma atitude drástica difícil de compreender e, com ela, enfraqueceu a campanha de Eduardo Paes à reeleição para a Prefeitura. A soma dos dois aspectos deixa o panorama político estadual mais complicado ainda.

Reportagem de Paulo Celso Pereira, O Globo de quinta-feira 19, focalizou reflexos que logo emergiram. As fotos são de Hudson Pontes e Pablo Jacob. O ato, segundo o próprio governador, anunciado por ele à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula, há dois meses, fez o relógio eleitoral acelerar. E abalou a aliança, por si frágil, entre PMDB e PT em favor de Eduardo Paes.
Isso porque Sérgio Cabral destacou que vai renunciar com data marcada para transmitir o governo ao vice Luiz Fernando Pezão, no sentido de fortalecê-lo na sucessão de 2014 para o Palácio Guanabara.

Essa vontade detonou logo a contradição que se encontrava oculta entre as duas siglas. É que o senador Lindberg Farias, do PT, é candidato do Partido dos Trabalhadores às eleições de daqui a dois anos. Seu adversário é exatamente Luiz Fernando Pezão. Sentindo-se previamente atingido, sem tempo para aprofundar qualquer articulação, Lindberg reagiu frontalmente ao plano do atual governador.

Mas o que poderá fazer? Nada. Renúncia, como ficou claro no episódio Jânio Quadros, tese sustentada pelo senador Afonso Arinos, é ato unilateral de vontade. Em relação a ele não cabe apreciação, apelo ou votação. O titular dá adeus às armas e a comédia é finita.

Se não cabe apreciação, o governador Sergio Cabral, nesta altura dos acontecimentos, não poderá recuar do propósito que espontaneamente anunciou de público. Seria pior, seu candidato Eduardo Paes perderia os votos que conquistou na luta para reeleger-se. Como reagiria o eleitorado? Depois de antecipar a renúncia, recua? A confusão já grande, tornar-se-ia maior.

Afinal de contas para prestigiar Pezão, Cabral poderia renunciar no início de abril de 2014, seis meses antes do pleito. O vice assumiria firme no rumo das urnas. O mesmo princípio legal se aplicaria em relação ao seu filho que, segundo O Globo, está cogitando ser candidato a deputado.
Ele mesmo, Sergio Cabral, renunciando até seis meses antes das eleições, poderá disputar o Senado ou a Câmara Federal. Nesta segunda hipótese, aliás a mais lógica, nada mudaria em relação ao vice Luiz Fernando, a seu filho e a si próprio. Mas o enigma continua. Cabral não consultou os que o elegeram e reelegeram.

Pois se de dezembro de 2013 a abril de 2014, são apenas quatro meses, diferença mínima, qual o motivo que levou Sérgio Cabral a anunciar sua saída do Palácio Guanabara, agora, em julho de 2013? Politicamente se enfraquece na medida em que as perspectivas naturalmente voltam-se para Pezão, fortalecendo-o. Sérgio Cabral está abrindo mão do poder em troca de nada. Estaria se retirando da política partidária?

Uma surpresa ainda maior. Bem, a motivação pessoal do chefe do executivo é algo, no momento, insondável. Sim. Porque o que apresentou como explicação não convence a ninguém. Seu gesto, estilo Jânio Quadros, acredito que não convença nem a ele mesmo. Só o passar do tempo será capaz de traduzir.

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