Rússia e China vetaram a Resolução sobre a China patrocinada por EUA, França, Alemanha e Portugal no Conselho de Segurança da ONU. Não surpreende, posto que Moscou e Pequim mantêm-se coerentes na oposição a qualquer forma deliberada de mau uso ou má interpretação que as potências ocidentais deem a alguma mandado do Conselho de Segurança, para tentar justificar uma eventual intervenção militar na Síria – como aconteceu na Líbia há um ano.
A posição de russos e chineses manifesta claramente que a crise síria só pode ser resolvida pelos sírios, ficando o papel da comunidade internacional limitado a facilitar a organização de um diálogo nacional dos sírios com os sírios, entre grupos sírios e governo.
O mais recente veto de russos e chineses foi provocado pelo projeto de resolução dos países ocidentais, que invocavam o Capítulo 7º da Carta da ONU, que permite ao Conselho de Segurança autorizar ações que vão de sanções econômicas e diplomáticas até a intervenção armada.
Evidentemente, se aprovada, a resolução teria aberto as portas para uma intervenção pelo Ocidente, à moda do massacre ocorrido contra a Líbia, mas desta vez contra a Síria.
A INCOERÊNCIA DA ÍNDIA
O que estarrece é que algum país tenha apoiado o Ocidente, na crise síria. A Índia – e eu sou indiano – assumiu posição muito dúbia ao justificar seu voto. Fez saber, que o voto indiano a favor da Resolução teria o objetivo de “facilitar uma ação unida do Conselho de Segurança em apoio ao Enviado Especial Conjunto [Kofi Annan].” É argumento falacioso, viciado de sofismas.
A justificativa do voto, lida pelo embaixador Hardeep Puri no Conselho de Segurança, finge que não sabe que o projeto ocidental invocava o Capítulo 7º da Carta da ONU. Em resumo, a Índia fugiu da questão central, escapou por uma saída lateral e, afinal, na realidade, votou a favor da Resolução.
Esse voto não é coerente com a oposição da Índia a intervenções militares onde se trate de resolver conflitos internos. Até há pouco tempo, a Índia ter-se-ia oposto com unhas e dentes a qualquer movimento de intervenção militar estrangeira, na região disputada da Caxemira.
Portanto, o voto da Índia é especialmente controverso, porque a comparação com a Líbia aí está à vista de todos, e o que aconteceu na Líbia depois da intervenção da OTAN foi um banho de sangue.
A Índia tampouco pode ignorar que, como na Líbia, a agenda ocidental é “mudança de regime” na Síria; e as condições de guerra civil que o país enfrenta foram e continuam a ser orquestradas por ação clandestina de agentes de vários países.
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OPORTUNISMO
Por que a Índia assumiu essa posição flagrantemente desonesta, contra todos os princípios nacionais e tão altamente oportunista? A resposta é simples: a Índia quer posicionar-se “do lado certo da história”, como diria a secretária de Estado Hillary Clinton. Em palavras claras, a Índia optou por se posicionar no eixo EUA-Israel-Arábia Saudita-Qatar, na geopolítica do Oriente Médio.
Talvez nunca saibamos o que realmente explica essa negociata faustiana – a menos, talvez, que haja alguma mudança de governo depois das eleições gerais de 2014 – dados os abismais níveiS de corrupção hoje vigentes na vida pública, sob o governo do primeiro-ministro Manmohan Singh.
Por hora, basta saber que a posição da Índia não foi motivada por nenhum tipo de ideologia. Ironicamente, tudo isso acontece num momento em que os ‘especialistas’ e a imprensa do establishment proclamam que a Índia teria (re)inventado um “Não Alinhamento.2”.
Indispensável, aqui, uma nota de rodapé. Os dois países que se abstiveram de votar no Conselho de Segurança foram África do Sul e Paquistão. Significa que, dos cinco países emergentes atualmente representados no Conselho de Segurança da ONU, a Índia é estarrecedora exceção, no identificar-se com o projeto de resolução cerebrado pelo ocidente, para a Síria. A abstenção do Paquistão explica-se por princípios: o país não pode aprovar que se faça contra a Síria o que não quer ver feito contra ele mesmo. A Índia deveria ter-se abstido de votar, como o Paquistão.
Se acontecer uma intervenção ocidental na Síria, como parece ser cada dia mais provável, a Índia terá sangue nas mãos – e no que ainda lhe reste da consciência de civilização milenar que conheceu os horrores do mando colonial.
MK Bhadrakumar (Indian Punchline)
A posição de russos e chineses manifesta claramente que a crise síria só pode ser resolvida pelos sírios, ficando o papel da comunidade internacional limitado a facilitar a organização de um diálogo nacional dos sírios com os sírios, entre grupos sírios e governo.
O mais recente veto de russos e chineses foi provocado pelo projeto de resolução dos países ocidentais, que invocavam o Capítulo 7º da Carta da ONU, que permite ao Conselho de Segurança autorizar ações que vão de sanções econômicas e diplomáticas até a intervenção armada.
Evidentemente, se aprovada, a resolução teria aberto as portas para uma intervenção pelo Ocidente, à moda do massacre ocorrido contra a Líbia, mas desta vez contra a Síria.
A INCOERÊNCIA DA ÍNDIA
O que estarrece é que algum país tenha apoiado o Ocidente, na crise síria. A Índia – e eu sou indiano – assumiu posição muito dúbia ao justificar seu voto. Fez saber, que o voto indiano a favor da Resolução teria o objetivo de “facilitar uma ação unida do Conselho de Segurança em apoio ao Enviado Especial Conjunto [Kofi Annan].” É argumento falacioso, viciado de sofismas.
A justificativa do voto, lida pelo embaixador Hardeep Puri no Conselho de Segurança, finge que não sabe que o projeto ocidental invocava o Capítulo 7º da Carta da ONU. Em resumo, a Índia fugiu da questão central, escapou por uma saída lateral e, afinal, na realidade, votou a favor da Resolução.
Esse voto não é coerente com a oposição da Índia a intervenções militares onde se trate de resolver conflitos internos. Até há pouco tempo, a Índia ter-se-ia oposto com unhas e dentes a qualquer movimento de intervenção militar estrangeira, na região disputada da Caxemira.
Portanto, o voto da Índia é especialmente controverso, porque a comparação com a Líbia aí está à vista de todos, e o que aconteceu na Líbia depois da intervenção da OTAN foi um banho de sangue.
A Índia tampouco pode ignorar que, como na Líbia, a agenda ocidental é “mudança de regime” na Síria; e as condições de guerra civil que o país enfrenta foram e continuam a ser orquestradas por ação clandestina de agentes de vários países.
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OPORTUNISMO
Por que a Índia assumiu essa posição flagrantemente desonesta, contra todos os princípios nacionais e tão altamente oportunista? A resposta é simples: a Índia quer posicionar-se “do lado certo da história”, como diria a secretária de Estado Hillary Clinton. Em palavras claras, a Índia optou por se posicionar no eixo EUA-Israel-Arábia Saudita-Qatar, na geopolítica do Oriente Médio.
Talvez nunca saibamos o que realmente explica essa negociata faustiana – a menos, talvez, que haja alguma mudança de governo depois das eleições gerais de 2014 – dados os abismais níveiS de corrupção hoje vigentes na vida pública, sob o governo do primeiro-ministro Manmohan Singh.
Por hora, basta saber que a posição da Índia não foi motivada por nenhum tipo de ideologia. Ironicamente, tudo isso acontece num momento em que os ‘especialistas’ e a imprensa do establishment proclamam que a Índia teria (re)inventado um “Não Alinhamento.2”.
Indispensável, aqui, uma nota de rodapé. Os dois países que se abstiveram de votar no Conselho de Segurança foram África do Sul e Paquistão. Significa que, dos cinco países emergentes atualmente representados no Conselho de Segurança da ONU, a Índia é estarrecedora exceção, no identificar-se com o projeto de resolução cerebrado pelo ocidente, para a Síria. A abstenção do Paquistão explica-se por princípios: o país não pode aprovar que se faça contra a Síria o que não quer ver feito contra ele mesmo. A Índia deveria ter-se abstido de votar, como o Paquistão.
Se acontecer uma intervenção ocidental na Síria, como parece ser cada dia mais provável, a Índia terá sangue nas mãos – e no que ainda lhe reste da consciência de civilização milenar que conheceu os horrores do mando colonial.
MK Bhadrakumar (Indian Punchline)
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