Inúmeras vezes, incontáveis vezes, tenho ouvido de amigos essa frase,
proferida como suma expressão de bom gosto e de elevada sensibilidade moral e
estética. É como se estivessem acrescentando: “Prefiro Thomas Morus, prefiro
Chopin, prefiro os pintores impressionistas…”
Sistematicamente respondo tal observação com um comentário: “E quem te pediu
para gostar?”
Gostar ou não gostar de política é absolutamente irrelevante, como
irrelevante é gostar ou não gostar de inúmeras coisas indispensáveis à vida
cotidiana no mundo em que vivemos.
E note-se, muitas delas são tão decisivas
para nossa existência que, apreciando ou não,nos empenhamos em fazer bem feito
o que nos corresponde.
A política é uma dessas coisas decisivas, realidade irremovível da vida de
quem se recuse a viver no mato. E é uma realidade com fortíssimo poder de
determinação sobre a qualidade da vida social e econômica, sobre os valores,
sobre a dignidade da pessoa humana e sua concretude, sobre o progresso e a
civilização.
Boa parte do que podemos relacionar como especificamente individual, e
praticamente tudo o que se abriga com o agasalho social, depende da política.
Portanto, repito: gostar ou não é uma questão apenas sensorial. Já o
desinteressar-se é atitude moralmente irresponsável.
Ninguém dirá que, por não gostar, se afasta, desdenhoso, do trabalho que faz,
dos filhos cujas fraldas precisam trocar e dos pais enfermos que precisam ser
cuidados. Da mesma forma, estamos irrevogavelmente condicionados por preceitos e
realidades determinados pela política. A política é uma das várias dimensões
naturais da pessoa humana. Entramos nela pela concepção e não saímos dela nem
depois do enterro porque, é pela via política, que nossas disposições
testamentárias encontram base legal e vigência.
Formulo então para os leitores uma confidência: eu também não gosto da nossa
política. Aliás, estou convencido de que para gostar da política nacional, com a
temos hoje, se requer uma absoluta ausência de bom gosto. Quase tudo, nela,
causa engulhos aos estômagos mais sensíveis.
E é exatamente por isso que ela me
interessa, que procuro estudar e conhecer as causas determinantes de seus
incontáveis descaminhos e que me dedico a
apontar novos rumos institucionais
capazes de fazê-la servir como deveria ao bem comum.
Cidadão que me lê. Saiba que você é cidadão porque vive numa sociedade
política. Queira ou não queira. Pode fazê-lo de modo mais abrangente, inclusive
como participante do jogo eleitoral na condição de dirigente partidário,
candidato, detentor de mandato ou cargo político. Mas não escapa de participar,
ainda que em forma de inserção menos proativa (para usar uma expressão da moda),
como eleitor.
No entanto, ainda que apenas como eleitor, você tem imensa responsabilidade
moral em relação ao seu voto e ao interesse que aloca na formação de seu
discernimento e de seus critérios de decisão. Se você, como tantos, vota em
qualquer um (e qualquer um costuma ser o tipo do sujeito que faz qualquer coisa)
ou vota em alguém pensando no seu próprio interesse, não se surpreenda quando
aquele em quem votou passar a cuidar do interesse dele mesmo. Tal conduta estará
apenas reproduzindo a sua. Ou não?
(Transcrito do blog de Puggina)
24 de julho de 2012
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