Confesso que não li o livro “Privataria Tucana”, lançado recentemente por um ex-jornalista a serviço da causa petista. Não estava disposto a gastar o dinheiro que não tinha nem perder tempo com uma obra vulgarizada na essência pela indigência moral do autor e, de acordo com a opinião de jornalistas de verdade, pelo caráter vergonhosamente tendencioso e eleitoreiro do conteúdo.
A adesão explícita do título a desmoraliza desde o nascedouro. Ademais, o júbilo ostensivo que invadiu os blogs mantidos com recursos do governo federal estrategicamente perfilados para repercutir a empulhação, agravada pela reação imediata de um deputado abaixo de todas as suspeitas clamando por uma CPI, despertou meu instinto de preservação, que me aconselhou a manter uma distância prudente. E eu, que não sou tatu, obedeci, de pronto!
No entanto, o que me impressiona, mas não surpreende, é a má fé política explícita acompanhada pela manifestação mais sórdida de desonestidade intelectual. A súcia petista se modernizou e deixou no passado a prática da criação de dossiês forjados na mentira para prejudicar seus adversários políticos. Agora, usa de sofisticada produção editorial como o meio mais eficaz para atingir seus objetivos.
Apesar da inovação, a metodologia indecente continua a mesma: desconstruir as candidaturas dos seus oponentes e jogar a honra e a dignidade dos seus desafetos na mesma lama que chafurda. Sempre terá à disposição uma corja que viceja no rodapé da ética e da decência, disfarçada de jornalistas, escritores, deputados, senadores, ministros e funcionários públicos para executar o serviço sujo.
Talvez por um descuido dos revisores, talvez traído pelo deslumbramento, o autor, que originariamente se predispunha a denunciar o tucanato corrompido, acabou por escancarar as entranhas do petismo imbecilizado.
Não me dediquei a nenhum extenuante exercício de raciocínio para chegar à conclusão intrigante: se realmente eram proprietários de um material altamente explosivo, capaz de abalar as estruturas do PSDB, por que optaram por falsificar dossiês sobre seu adversário direto nas últimas eleições para governador de São Paulo, tramoia cujos desdobramentos lhes impuseram uma derrota humilhante ainda no primeiro turno?
Duas alternativas justificariam esse comportamento no mínimo estranho: compaixão ou descrédito dos documentos. Até onde eu sei, o PT sempre se sobressaiu pela intolerância, na maioria das vezes violenta, de suas campanhas eleitorais e por jamais ceder à frivolidades como a condescendência.
Se tivesse oportunidade e dinheiro, escreveria um livro sobre a falência ideológica e o descenso ético do PT. Embora os temas propostos sejam instigantes, eu me cercaria de cuidados para não permitir que descambasse para um medíocre calhamaço de papel impresso. Centraria toda a minha capacidade literária na tarefa de revelar como Lula usurpou programas de governo lançados na administração presidida por Fernando Henrique Cardoso. O Plano Real e o Bolsa Família são dois exemplos típicos de apropriação indevida.
O primeiro, que proporcionou a reestruturação econômica do Brasil ao encerrar um longo período inflacionário que inviabilizava o seu crescimento, foi criado por uma equipe de economistas notáveis chefiada pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e encampada pelo ex-presidente Itamar Franco.
Ainda se mantém fresca em minhas lembranças a reação mesquinha do PT, que, priorizando seus interesses políticos, procurou desesperadamente diminuir a amplitude do Plano Real, embora internamente reconhecesse seu largo alcance social inquestionável e sua importância vital para ao menos minimizar os efeitos devastadores dos 80% de inflação mensal que sacrificava principalmente os mais pobres, para depois apoderar-se dele e jamais se preocupar em dar o devido crédito aos seus criadores.
O segundo, apesar do nome emblemático, jamais deixou de ser o ajuntamento dos vários programas sociais implementados sob a inspiração da eterna primeira-dama Dona Ruth Cardoso, concebidos desde a sua origem para proteger o setor mais vulnerável da sociedade e rebaixado por Lula à condição de mero reduto confortável da conveniência política.
Não me esqueceria de assinalar, também, que se tivesse vingado o indecoroso plano de um terceiro mandato para presidente, engendrado e muito bem avaliado nos porões da inconseqüência petista, Lula necessitaria de menos da metade desse tempo para tornar sua a biografia de Fernando Henrique Cardoso.
É quase certo que eu colocaria o título de “Pirataria Petista”. Acho que cairia bem.
17 de agosto de 2012
Mauro Pereira
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