"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 17 de agosto de 2012

LEWANDOWSKI, O MINISTRO AMIGO DA FAMÍLIA DE LULA, AMEAÇA MELAR O MENSALÃO

Inconformado ao saber que o relator da ação do mensalão, Joaquim Barbosa, votaria em blocos, o ministro Ricardo Lewandowski ameaçou abandonar a revisão do caso, segundo a Folha apurou. Isso inviabilizaria a continuidade do julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal). No início da noite de ontem, porém, ele anunciou que seguirá a metodologia do colega, mesmo acreditando que a forma escolhida "ofende o devido processo legal".

A polêmica está na forma como irão votar os ministros. Barbosa defendeu o modelo usado quando a corte abriu a ação penal: fatiando o julgamento em base nos itens da denúncia. Depois de ler e dar seu voto para determinadas pessoas e grupos, vota o revisor Lewandowski e, em seguida, cada ministro até esgotar o capítulo. Assim, é possível que algumas sentenças saiam já na semana que vem. Ontem, por exemplo, Barbosa votou apenas na questão do envolvimento do ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT), com Marcos Valério e seus sócios.

Lewandowski discordou de Barbosa dizendo que essa forma seria um pré-julgamento e sinalizava concordância do relator com a denúncia. Citando o regimento, Lewandowski queria ouvir todo o voto do relator e só depois dar seu voto réu por réu. Disse que ficou meses estudando o processo e seu voto tinha uma sequência lógica. Por isso, não queria fatiá-lo. Convencido pelos colegas Marco Aurélio Mello e Celso de Mello, ele cedeu ao final da sessão, depois de protagonizar um bate-boca com Barbosa, e o presidente do tribunal, Carlos Ayres Britto.

A ameaça de deixar a função de revisor ocorreu minutos antes de começar os trabalhos, no cafezinho, quando Carlos Ayres Britto chamou Lewandowski e Barbosa para conversarem sobre a formatação do voto. Ao ser informado do fatiamento, Lewandowski ficou inconformado. Barbosa disse que nos últimos seis anos nunca foi procurado pelo colega para tratar do assunto. Ouviu que a recíproca era verdadeira. Foi diante desse impasse que o revisor disse que não "tinha mais condição" de seguir com a revisão.

Se o Supremo substituísse o revisor agora, o julgamento ficaria comprometido para este ano e o ministro Cezar Peluso, prestes a se aposentar, não daria seu voto. Diante da ameaça, Britto respondeu que a intenção do colega era a de não permitir que a análise fosse feita agora. Ele relatou que Lewandowski o procurou duas vezes no semestre passado pedindo que o julgamento não fosse marcado neste ano. Oficialmente, o Supremo nega.

Lewandowski reagiu. Disse que nunca disse isso. Segundo relatos, afirmou que foi "exposto" por Britto e estaria "fragilizado". O embate entre os dois não é de hoje. No fim de 2011, Barbosa afirmou que seu trabalho estava pronto, passando a responsabilidade para Lewandowski. Desde então, Lewandowski passou a reclamar da pressão. No fim do semestre passado, Britto enviou um ofício citando uma data limite para a conclusão do voto revisor, o que o contrariou ainda mais.
(Folha de São Paulo)
 
16 de agosto de 2012
in coroneLeaks

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