"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 29 de setembro de 2012

JUDITH BUTLER: NOVA VÍTIMA DO LOBBY ISRAELENSE NA ALEMANHA


Campanhas de difamação contra pessoas que não obedeçam a pauta estreita, ‘politicamente correta’, e respectiva retórica, no que tenham a ver com expor as repetidas violações de direitos humanos e a opressão brutal, por Israel, do povo palestino, são rotina na ação do lobby israelense pró-sionistas na Alemanha.

A mais recente vítima do lobby israelense pró-sionistas na Alemanha é a judia Judith Butler, professora do Departamento de Retórica e Literatura Comparada e co-diretora do Programa de Teoria Crítica na Universidade da California, Berkeley. Judith Butler também é militante ativa da luta contra preconceito de gênero, pelos direitos humanos, contra a guerra, e participa do movimento Voz Judaica pela Paz. Esse ano, recebeu o Prêmio Adorno, da cidade de Frankfurt, distribuído a cada três anos, no valor de 50 mil euros.

Por que Judith Butler foi massacrada? Seu ‘crime’ é incluir o Hamás e o Hizbollah como parte ativa da esquerda global, e apoiar a campanha BDS (Boicote, Desinvestimento, Sanções) contra o consumo de produtos israelenses provenientes dos Territórios Palestinos Ocupados. Imediatamente depois de divulgada a notícia de que lhe fora conferido o Prêmio Adorno, abriram-se contra ela as portas do inferno.

A procissão de detratores foi chefiada pelo Secretário Geral do Conselho dos Judeus na Alemanha, Stephan Kramer; ao seu lado apareceram imediatamente o embaixador de Israel na Alemanha, seguido dos suspeitos de sempre.

Kramer acusou Butler de ser “odiadora confessa de Israel” e “cúmplice” do Movimento BDS, apesar da abordagem nuançada de Butler sobre a campanha BDS; classificar o Hamás e o Hizbollah como parte da esquerda global ignoraria a visão de mundo fundamentalista arcaica dos dois grupos, sobretudo contra as mulheres. Mas Kramer não rotulou a crítica que Butler construiu contra a política de governo de Israel como “antissemitismo”.
A controvérsia em torno do Prêmio Adorno revelou a tensão existente dentro do judaísmo entre a ética universalista e as tendências nacionalistas, autoritárias, do sionismo.

Na furiosa campanha movida contra ela, Butler manteve-se inabalável. Recebeu apoio, dentre outros intelectuais alemães, do professor Micha Brumlik da Universidade de Frankfurt e do professor Neve Gordon da Universidade Ben-Gurion, em Beer-Sheva. Gordon escreveu:
“A bem orquestrada caça às bruxas, iniciada pelos autoproclamados “Intelectuais pela Paz no Oriente Médio” contra Judith Butler é sórdida tentativa – baseada em mentiras e meias verdades – para silenciar uma vigorosa crítica contra a política de abuso de direitos que Israel pratica nos Territórios Ocupados.”

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DIFAMAÇÃO

Campanhas de difamação promovidas pelo “Lobby israelense” na Alemanha acontecem periodicamente. Antes da atual campanha contra Butler, houve a campanha contra Gunter Grass, prêmio Nobel, que se atreveu – no poema “O que tem de ser dito” – a sugerir que o governo israelense é maior ameaça à paz mundial que o Irã. Embora o Conselho dos Judeus na Alemanha tenha iniciado a campanha, as calúnias foram publicadas em toda a grande imprensa alemã, com a única exceção do semanário “der Freitag” de Jakob Augstein.

Há dois anos, a famosa advogada e militante da defesa de direitos humanos Felicia Langer, que vive na Alemanha, foi também massacrada pelo “lobby israelense” e seus infames apoiadores, imediatamente depois de receber a prestigiada medalha da “Ordem do Mérito de Primeira Classe da República Federal da Alemanha”. Alguns caluniadores não se envergonharam sequer de tentar chantagear o presidente da Alemanha, ameaçando-o de devolver as próprias medalhas, no caso de o presidente não cancelar a condecoração de Langer.

O modo como as instituições alemãs e seus representantes tratam os professores palestinos é exemplificado pela caso da conhecida professora britânico-palestina Dra. Ghada Karmi, da Universidade de Exeter. Em fevereiro de 2012, a professora Karmi foi convidada para falar sobre a Palestina, numa conferência na Universidade de Bremen. No último minuto, o convite foi cancelado, e a universidade declarou que as ideias da professora não seriam “adequadas”.

Depois se descobriu que um aluno dos cursos de pós-graduação, israelense, havia protestado contra a conferência ter convidado a professora Karmi, que teria ideias “antissemitas”. As mesmas acusações infundadas foram feitas contra o professor Ilan Pappé, judeu israelense, para impedi-lo de falar em público na Alemanha.

O pior aconteceu, no caso da professora Karmi, quando ela participava de uma conferência Na Universidade Livre de Berlim, organizada pelo Research College da mesma universidade em colaboração com o Conselho Alemão de Relações Internacionais. Nas palavras da professora Karmi: “O que aconteceu ali foi deprimente manifestação da hipocrisia alemã diante dos israelenses presentes e mal disfarçado incômodo com a minha presença, como se lamentassem a autorização para que se ouvisse uma voz palestina.”

A professora Karmi foi apresentada à conferência por um representante do Conselho Alemão de Relações Internacionais, como alguém que, segundo “alguns israelenses” é “terrorista palestina”. O público não protestou nem a universidade pediu desculpas à professora. Se algum representante do Conselho Alemão de Relações Internacionais se atrevesse a apresentar algum professor israelense como alguém que segundo “alguns palestinos” é “terorista israelense”, sua carreira acadêmica estaria imediatamente terminada.

Essas campanhas de difamação são retrato claro da desoladora paisagem política na Alemanha, hoje.

(Artigo enviado por Sergio Caldieri)

29 de setembro de 2012
Ludwig Watzal (Palestine Chronicle)

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