A FLOR E O ÓDIO
Nestor Rocha, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, e sua bela mulher Liliana Rodrigues, vieram, algum tempo atrás, passar o fim-de-semana aqui em Buenos Aires.
Talvez de emoção por este encanto de cidade, uma Paris falando espanhol, ou por conta dos cansaços brasileiros, teve um enfarte, socorrido a tempo.
No Rio, seu fraterno amigo Murilo Barbosa Lima foi avisado, pegou rápido um avião e desceu em Buenos Aires para ver como estavam as coisas.
Passou no hotel. Nestor havia saído de lá para o hospital e não voltara. E deram o nome do hospital. Murilo correu para o hospital:
- Dr. Nestor esteve aqui com um enfarte grave, mas já não está mais.
- Foi para onde?
- Para o Cemitério da Recoleta.
- Quem autorizou a saída dele daqui para o Cemitério?
- A mulher dele que o estava acompanhando.
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EVITA
Murilo saiu desesperado para o Cemitério da Recoleta. Foi à portaria, não havia registro nenhum. Ficou andando e suando pelas alamedas pensando como é que o Nestor poderia ter sido enterrado em Buenos Aires se o normal é que o corpo fosse levado para o Rio.
Na porta solene do túmulo de Evita Peron, lá vinha Nestor, pálido, cabeça baixa, olhar triste, olheiras de Carlos Gardel, acabando de visitar sua heroína Evita . Murilo deu-lhe um abraço e uma bronca:
- Você não tinha lugar melhor para vir do que um cemitério e logo para visitar esta mulher? Quem é que pôs a Evita na sua cabeça?
- O Brizola. Ele adorava a Evita. O hospital é aqui perto.
Murilo ficou com raiva da Evita Peron até hoje. O argentino é mesmo uma mistura de Andaluzia e Sicilia. Tem o fascínio da morte. Foi Evita, depois Peron, agora é Nestor Kirchner. Três mitos.
Entre o amor e o ódio
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CRISTINA
A caminho do hotel, com a cidade de longas alamedas vazias mas cheia de brasileiros, converso com o motorista, um jovem cabeludo, elegante, terno e gravata, bem falante como um baiano de Salvador:
- Que tal sua presidente, a Cristina Kirchner?
- Senhor, não temos só uma presidente. Temos uma flor. Toda manhã, abro a janela e agradeço a Deus por nos ter dado uma flor que cuida de meu país.
A presidente Cristina não é só uma mulher. É uma flor. Por isso foi reeleita. Se pudesse ser candidata de novo, seria eleita pela terceira vez. O marido morreu, está de luto até hoje. Candidata, derrotaria os outros todos.
Desço no hotel, vou à banca pegar os jornais, bem em frente ao hotel Alvear. O jornaleiro, também jovem, também cabeludo, também bem falante, irrita-se quando lhe pergunto sobre o governo da Presidente:
- Essa Cristina precisa ir embora. Pode vir qualquer um menos ela. Chega de Kirchner. Pode querer um terceiro mandato, mas não terá.
A Argentina é isso. Uma paixão coletiva, entre a flor e o ódio
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“CLARIN”
Abro, ali mesmo na banca, o ‘El Clarin’, o mais furioso contra a Presidente. Mais irado ainda do que ‘La Nación”. O “Clarin” trava uma batalha na Justiça para manter um escandaloso monopólio que nem a “Globo” tem no Brasil. E o “Globo”, para defendê-lo, mente: – “Cristina dá ultimato para retomar licenças do “Clarin”. A Argentina quer suspender concessões de rádio e TV em dezembro”.
É o antijornalismo. Quem conta a verdade é a “Folha”:
1 – “O Clarin terá até 7 de dezembro para cumprir a clausula anti monopólio da lei aprovada em 2009. Pela lei os grupos de mídia poderão ter, no máximo 24 licenças de TV a cabo e 10 concessões abertas de TV.”
2 – “Dono do maior jornal do pais, com 240 (!) canais de TV a cabo,10 frequências de rádio e 4 emissoras de TV aberta, dona de 64% do mercado, depois de uma batalha de anos no congresso e na justiça, afinal o “Clarin” perdeu na Suprema Corte, que lhe deu o prazo de 7 de dezembro.
3 – “Para a ONG “Repórteres sem Fronteiras” a lei é necessária e valente diante dos grupos menos dispostos a dividir o mercado.” (Folha)
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“GLOBO”
Toda semana a Rede Globo (jornal e televisões) solta sua matilha gráfica para morder os calcanhares da presidente argentina por causa daquilo que aqui se chama de “a guerra do monopólio”. Provectos jornalistas e colunistas são obrigados pelo monopólio global a mentir vergonhosamente, dizendo que não há liberdade de imprensa na Argentina.
O “Globo” devia ter ao menos o pudor de informar corretamente, como fez a “Folha”. A “TV Globo” morre de medo de perder seu inexplicável latifúndio da comunicação que, diga-se a bem da verdade, não chega a ser como o do “Clarin”.
Está na hora de o Brasil ter fibra e uma legislação contra monopólios de imprensa, como têm os Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Espanha, os países que se respeitam.
29 de setembro de 2012
Sebastião Nery
Nestor Rocha, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, e sua bela mulher Liliana Rodrigues, vieram, algum tempo atrás, passar o fim-de-semana aqui em Buenos Aires.
Talvez de emoção por este encanto de cidade, uma Paris falando espanhol, ou por conta dos cansaços brasileiros, teve um enfarte, socorrido a tempo.
No Rio, seu fraterno amigo Murilo Barbosa Lima foi avisado, pegou rápido um avião e desceu em Buenos Aires para ver como estavam as coisas.
Passou no hotel. Nestor havia saído de lá para o hospital e não voltara. E deram o nome do hospital. Murilo correu para o hospital:
- Dr. Nestor esteve aqui com um enfarte grave, mas já não está mais.
- Foi para onde?
- Para o Cemitério da Recoleta.
- Quem autorizou a saída dele daqui para o Cemitério?
- A mulher dele que o estava acompanhando.
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EVITA
Murilo saiu desesperado para o Cemitério da Recoleta. Foi à portaria, não havia registro nenhum. Ficou andando e suando pelas alamedas pensando como é que o Nestor poderia ter sido enterrado em Buenos Aires se o normal é que o corpo fosse levado para o Rio.
Na porta solene do túmulo de Evita Peron, lá vinha Nestor, pálido, cabeça baixa, olhar triste, olheiras de Carlos Gardel, acabando de visitar sua heroína Evita . Murilo deu-lhe um abraço e uma bronca:
- Você não tinha lugar melhor para vir do que um cemitério e logo para visitar esta mulher? Quem é que pôs a Evita na sua cabeça?
- O Brizola. Ele adorava a Evita. O hospital é aqui perto.
Murilo ficou com raiva da Evita Peron até hoje. O argentino é mesmo uma mistura de Andaluzia e Sicilia. Tem o fascínio da morte. Foi Evita, depois Peron, agora é Nestor Kirchner. Três mitos.
Entre o amor e o ódio
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CRISTINA
A caminho do hotel, com a cidade de longas alamedas vazias mas cheia de brasileiros, converso com o motorista, um jovem cabeludo, elegante, terno e gravata, bem falante como um baiano de Salvador:
- Que tal sua presidente, a Cristina Kirchner?
- Senhor, não temos só uma presidente. Temos uma flor. Toda manhã, abro a janela e agradeço a Deus por nos ter dado uma flor que cuida de meu país.
A presidente Cristina não é só uma mulher. É uma flor. Por isso foi reeleita. Se pudesse ser candidata de novo, seria eleita pela terceira vez. O marido morreu, está de luto até hoje. Candidata, derrotaria os outros todos.
Desço no hotel, vou à banca pegar os jornais, bem em frente ao hotel Alvear. O jornaleiro, também jovem, também cabeludo, também bem falante, irrita-se quando lhe pergunto sobre o governo da Presidente:
- Essa Cristina precisa ir embora. Pode vir qualquer um menos ela. Chega de Kirchner. Pode querer um terceiro mandato, mas não terá.
A Argentina é isso. Uma paixão coletiva, entre a flor e o ódio
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“CLARIN”
Abro, ali mesmo na banca, o ‘El Clarin’, o mais furioso contra a Presidente. Mais irado ainda do que ‘La Nación”. O “Clarin” trava uma batalha na Justiça para manter um escandaloso monopólio que nem a “Globo” tem no Brasil. E o “Globo”, para defendê-lo, mente: – “Cristina dá ultimato para retomar licenças do “Clarin”. A Argentina quer suspender concessões de rádio e TV em dezembro”.
É o antijornalismo. Quem conta a verdade é a “Folha”:
1 – “O Clarin terá até 7 de dezembro para cumprir a clausula anti monopólio da lei aprovada em 2009. Pela lei os grupos de mídia poderão ter, no máximo 24 licenças de TV a cabo e 10 concessões abertas de TV.”
2 – “Dono do maior jornal do pais, com 240 (!) canais de TV a cabo,10 frequências de rádio e 4 emissoras de TV aberta, dona de 64% do mercado, depois de uma batalha de anos no congresso e na justiça, afinal o “Clarin” perdeu na Suprema Corte, que lhe deu o prazo de 7 de dezembro.
3 – “Para a ONG “Repórteres sem Fronteiras” a lei é necessária e valente diante dos grupos menos dispostos a dividir o mercado.” (Folha)
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“GLOBO”
Toda semana a Rede Globo (jornal e televisões) solta sua matilha gráfica para morder os calcanhares da presidente argentina por causa daquilo que aqui se chama de “a guerra do monopólio”. Provectos jornalistas e colunistas são obrigados pelo monopólio global a mentir vergonhosamente, dizendo que não há liberdade de imprensa na Argentina.
O “Globo” devia ter ao menos o pudor de informar corretamente, como fez a “Folha”. A “TV Globo” morre de medo de perder seu inexplicável latifúndio da comunicação que, diga-se a bem da verdade, não chega a ser como o do “Clarin”.
Está na hora de o Brasil ter fibra e uma legislação contra monopólios de imprensa, como têm os Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Espanha, os países que se respeitam.
29 de setembro de 2012
Sebastião Nery
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