Preocupado com a reforma da Constituição Brasileira, no final do Estado Novo de Vargas, Graciliano Ramos fez em artigo de jornal uma denúncia por demais atual, uma denúncia ao Poder Político.
A seguir, são citados fragmentos dessa escrita, parecendo que o escritor alagoano já tinha consciência de fatos que até hoje existem em nosso país.
BURACO NA CONSTITUIÇÃO
“A Constituição da República tem um buraco. É possível que tenha muitos, mas sou pouco exigente e satisfaço-me com referir-me a um só. Possuímos, segundo dizem os entendidos, três poderes – o Executivo, que é o dono da casa, o Legislativo e o Judiciário, moços de recados, gente assalariada para o patrão fazer figura e deitar empáfia diante das visitas.
Resta ainda um quarto poder, coisa vaga, imponderável mas que é tacitamente considerado o sumários dos três
Aí está o rombo na constituição, rombo a ser preenchido quando ela for revista, metendo-se nela a figura interessante do chefe político, que é a única força de verdade. O resto é lorota… Todos eles são mais ou menos chefes. Não se sabe bem de que, mas é certo que o são. Graúdos, risonhos, nutridos, polidos, escovados, envernizados, lá estão inchando, inchando. São os grossos batráquios da lagoa republicana.
Muito menos volumosos, coaxam pelos cantos chefitos incolores, numerosos, em chusma, minúsculas pererecas de poças d’água… São, a um tempo, intendentes ou prefeitos, juízes, promotores, advogados e jurados, conselheiros municipais, comissários de policia e inspetores de quarteirão. Realizam a pluralidade na unidade! E ainda há quem duvide do mistério da Santíssima Trindade…
Ponha-se, pois, o chefe político no galarim (NR – ápice) e mande-se à fava o resto. Metam-no, honestamente, em letra de forma. Entre ele, triunfante, com armas e bagagens, em nosso magno estatuto.
Peguemos o chefe político, agitemo-lo no ar e berremos o estribilho com que a imprensa, há tempos, nos anda a amolar – a Constituição da República precisa de uma revisão.
BURACO NA CONSTITUIÇÃO
“A Constituição da República tem um buraco. É possível que tenha muitos, mas sou pouco exigente e satisfaço-me com referir-me a um só. Possuímos, segundo dizem os entendidos, três poderes – o Executivo, que é o dono da casa, o Legislativo e o Judiciário, moços de recados, gente assalariada para o patrão fazer figura e deitar empáfia diante das visitas.
Resta ainda um quarto poder, coisa vaga, imponderável mas que é tacitamente considerado o sumários dos três
Aí está o rombo na constituição, rombo a ser preenchido quando ela for revista, metendo-se nela a figura interessante do chefe político, que é a única força de verdade. O resto é lorota… Todos eles são mais ou menos chefes. Não se sabe bem de que, mas é certo que o são. Graúdos, risonhos, nutridos, polidos, escovados, envernizados, lá estão inchando, inchando. São os grossos batráquios da lagoa republicana.
Muito menos volumosos, coaxam pelos cantos chefitos incolores, numerosos, em chusma, minúsculas pererecas de poças d’água… São, a um tempo, intendentes ou prefeitos, juízes, promotores, advogados e jurados, conselheiros municipais, comissários de policia e inspetores de quarteirão. Realizam a pluralidade na unidade! E ainda há quem duvide do mistério da Santíssima Trindade…
Ponha-se, pois, o chefe político no galarim (NR – ápice) e mande-se à fava o resto. Metam-no, honestamente, em letra de forma. Entre ele, triunfante, com armas e bagagens, em nosso magno estatuto.
Peguemos o chefe político, agitemo-lo no ar e berremos o estribilho com que a imprensa, há tempos, nos anda a amolar – a Constituição da República precisa de uma revisão.
(in Jornal de Alagoas – Maceió, março de 1945).
Nenhum comentário:
Postar um comentário