"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 13 de outubro de 2012

A VISÃO CONSTITUCIONAL DE UM GÊNIO CHAMADO GRACILIANO RAMOS

 

Preocupado com a reforma da Constituição Brasileira, no final do Estado Novo de Vargas, Graciliano Ramos fez em artigo de jornal uma denúncia por demais atual, uma denúncia ao Poder Político.
A seguir, são citados fragmentos dessa escrita, parecendo que o escritor alagoano já tinha consciência de fatos que até hoje existem em nosso país.



BURACO NA CONSTITUIÇÃO

“A Constituição da República tem um buraco. É possível que tenha muitos, mas sou pouco exigente e satisfaço-me com referir-me a um só. Possuímos, segundo dizem os entendidos, três poderes – o Executivo, que é o dono da casa, o Legislativo e o Judiciário, moços de recados, gente assalariada para o patrão fazer figura e deitar empáfia diante das visitas.
Resta ainda um quarto poder, coisa vaga, imponderável mas que é tacitamente considerado o sumários dos três

Aí está o rombo na constituição, rombo a ser preenchido quando ela for revista, metendo-se nela a figura interessante do chefe político, que é a única força de verdade. O resto é lorota… Todos eles são mais ou menos chefes. Não se sabe bem de que, mas é certo que o são. Graúdos, risonhos, nutridos, polidos, escovados, envernizados, lá estão inchando, inchando. São os grossos batráquios da lagoa republicana.

Muito menos volumosos, coaxam pelos cantos chefitos incolores, numerosos, em chusma, minúsculas pererecas de poças d’água… São, a um tempo, intendentes ou prefeitos, juízes, promotores, advogados e jurados, conselheiros municipais, comissários de policia e inspetores de quarteirão. Realizam a pluralidade na unidade! E ainda há quem duvide do mistério da Santíssima Trindade…

Ponha-se, pois, o chefe político no galarim (NR – ápice) e mande-se à fava o resto. Metam-no, honestamente, em letra de forma. Entre ele, triunfante, com armas e bagagens, em nosso magno estatuto.

Peguemos o chefe político, agitemo-lo no ar e berremos o estribilho com que a imprensa, há tempos, nos anda a amolar – a Constituição da República precisa de uma revisão.

(in Jornal de Alagoas – Maceió, março de 1945).

Nenhum comentário:

Postar um comentário