"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

COM WILTON FRANCO, O POVO PASSOU A SER PERSONAGEM DA TV

 

A Rede Globo, no Jornal Nacional de sábad,o deu grande destaque à morte de Wilton Franco, não só um dos pioneiros da televisão brasileira, mas também o homem, pode-se dizer assim, que tornou o povo, além de espectador, também personagem da tela mágica.

Dominava sua linguagem e sua estética, conhecia seus gostos e suas emoções. Foi o criador dos Trapalhões, que se mantiveram com sucesso incontestável durante muitos anos. Mas eu disse que ele tornou o povo personagem.



Foi isso mesmo, a partir do programa Aqui e Agora, na fase final da antiga TV Tupi. Estamos falando em 1979. Dali saltou para o SBT de Sílvio Santos, alterando o nome do programa para o expressivo título de O Povo na TV. Para dar uma ideia do êxito de audiência, basta dizer que alcançava uma média de 14 pontos, só perdendo, na faixa vespertina, para os 20% da Rede Globo.

Lançou personagens de êxito, de apelo popular, como Wagner Montes, sucesso até hoje, atualmente na tela da Record, Cristina Rocha, Ana Davis, além de Roberto Jeferson, cuja popularidade o levou à política. Em 1982, pela legenda do PTB, Jeferson, por coincidência, foi eleito deputado federal com pouco mais de 82 mil votos.Naquela eleição, Brizola elegia-se governador.

Foi ele, Wilton Franco, quem realizou o primeiro debate reunindo Brizola, Moreira Franco, Miro Teixeira, Sandra Cavalcanti e Lisâneas Maciel. O confronto promovido pela Globo veio depois.
E foi decisivo para a vitória de Brizola.


O Povo na TV, apesar de seu sucesso de audiência, saiu do ar não se sabe por que, já que acentuava e se ajustava à trilha marcadamente popular, linha traçada e razão do sucesso de Sílvio Santos. Meses depois retornou, mas se manteve por pouco tempo.
Wilton Franco passaria a dirigir novamente Renato Aragão em Os Trapalhões, na Globo. Na sequência, o destino o levou ao Parque Beto Carreiro, Santa Catarina. Integrava sua direção até poucos dias.

Hoje, seu nome passa ao universo da memória e da lembrança. Deixa uma forte memória e uma forte lembrança, vale frisar. Foi um desbravador, um simplificador de mensagens, mas sobretudo deu voz, vez e inclusive voto à população pobre do Rio de Janeiro.
Foi o homem que chamou atenção para um mercado de opinião e informação que não recebia atenção à altura de sua importância social e econômica. Muitos programas surgiram percorrendo a trilha que descobriu, descortinou e iluminou com seu talento.

É sempre assim. Alguém surge abrindo uma perspectiva nova. Foi exatamente este o caso de Wilton Franco, de quem fui amigo e também de seu filho André.
Diretor de Comunicação da antiga Legião Brasileira de Assistência, participei de vários de seus programas, através dos quais pudemos mobilizar as comunidades carentes para o acesso ao registro civil, alimentação, à rede de creches e assistência a crianças com necessidades especiais.

Neste adeus a Wilton Franco, desejo apenas lhe fazer justiça como um dos comunicadores importantes da televisão brasileira.

15 de outubro de 2012
Pedro do Coutto

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