Essa é uma crônica imaginária, fictícia, que poderia ser real.
Mano Menezes, um homem racional, autossuficiente, tem tido ansiedade, insônia, o que nunca havia ocorrido. Pressionado por familiares, procurou ajuda psicológica. Não sabia se ia a um psicanalista ou ao Analista de Bagé, personagem de Luís Fernando Veríssimo, incorporado por um cidadão da cidade.
Falam no sul que o Analista de Bagé, com sua técnica do joelhaço, dá melhores resultados. Como é um homem convencional, Mano procurou um psicanalista. Deitou-se no divã e sentiu-se ridículo. Quase foi embora.
Começou o diálogo.
- Fale tudo o que estiver em seu pensamento.
- Estou tenso, inseguro. Nunca fui assim. A responsabilidade de dirigir a seleção, em uma Copa e no Brasil, é absurda. As pessoas acham que o Brasil tem a obrigação de vencer. Se perder, serei massacrado, mais ainda do que foi Dunga. Falam ainda que convoco por outros interesses. Isso é uma ofensa. Sou um homem sério.
- Já pensou em desistir?
- Várias vezes, mas isso não vai acontecer. Sou um homem de luta. Estou tentando inovar, jogar com a bola no chão, trocar muitos passes, marcar por pressão, ter dois volantes que defendem e atacam, atuar sem centroavante fixo e sem um meia de ligação, único responsável por toda a criação de jogadas.
Quero Kaká, Oscar, Hulk e Neymar jogando de meias e de atacantes, e que todos deem passes e façam gols. Na primeira derrota, vão me criticar e pedir alguns jogadores. Muitos jornalistas gostam de fazer média com os torcedores e com os clubes, para aumentar a audiência.
- Por que não conversa com alguns treinadores? Percebo que você só dialoga com seu auxiliar, durante o jogo, e que ele concorda com tudo, sempre abanando a cabeça. Não morra agarrado às suas convicções.
- Tenho várias dúvidas. Não sei se uso a mesma estratégia ofensiva contra seleções mais fortes. Se escalar mais um marcador no meio-campo, no lugar de um dos quatro da frente, e o time perder, vão dizer que sou retranqueiro. Se não fizer isso, e o time perder, dirão que faltou um brucutu no meio-campo.
- Todos temos dúvidas. A vida é feita de escolhas, que podem estar certas ou erradas.
- Já li isso em algum livro de autoajuda. Mas o que mais me preocupa é a escolha de Felipão para assessor do Ministério do Esporte. Isso parece um recado para o Marín, presidente da CBF, que o técnico preferido do governo e do povo é Felipão.
- Hummm… Acabou o tempo. Quero que fale também de você, e não somente da seleção. Te espero na próxima semana.
- Nossos encontros têm de ficar em segredo. Se descobrirem, vão dizer que sou um homem fraco, depressivo.
15 de outubro de 2012
Tostão (O Tempo)
Mano Menezes, um homem racional, autossuficiente, tem tido ansiedade, insônia, o que nunca havia ocorrido. Pressionado por familiares, procurou ajuda psicológica. Não sabia se ia a um psicanalista ou ao Analista de Bagé, personagem de Luís Fernando Veríssimo, incorporado por um cidadão da cidade.
Falam no sul que o Analista de Bagé, com sua técnica do joelhaço, dá melhores resultados. Como é um homem convencional, Mano procurou um psicanalista. Deitou-se no divã e sentiu-se ridículo. Quase foi embora.
Começou o diálogo.
- Fale tudo o que estiver em seu pensamento.
- Estou tenso, inseguro. Nunca fui assim. A responsabilidade de dirigir a seleção, em uma Copa e no Brasil, é absurda. As pessoas acham que o Brasil tem a obrigação de vencer. Se perder, serei massacrado, mais ainda do que foi Dunga. Falam ainda que convoco por outros interesses. Isso é uma ofensa. Sou um homem sério.
- Já pensou em desistir?
- Várias vezes, mas isso não vai acontecer. Sou um homem de luta. Estou tentando inovar, jogar com a bola no chão, trocar muitos passes, marcar por pressão, ter dois volantes que defendem e atacam, atuar sem centroavante fixo e sem um meia de ligação, único responsável por toda a criação de jogadas.
Quero Kaká, Oscar, Hulk e Neymar jogando de meias e de atacantes, e que todos deem passes e façam gols. Na primeira derrota, vão me criticar e pedir alguns jogadores. Muitos jornalistas gostam de fazer média com os torcedores e com os clubes, para aumentar a audiência.
- Por que não conversa com alguns treinadores? Percebo que você só dialoga com seu auxiliar, durante o jogo, e que ele concorda com tudo, sempre abanando a cabeça. Não morra agarrado às suas convicções.
- Tenho várias dúvidas. Não sei se uso a mesma estratégia ofensiva contra seleções mais fortes. Se escalar mais um marcador no meio-campo, no lugar de um dos quatro da frente, e o time perder, vão dizer que sou retranqueiro. Se não fizer isso, e o time perder, dirão que faltou um brucutu no meio-campo.
- Todos temos dúvidas. A vida é feita de escolhas, que podem estar certas ou erradas.
- Já li isso em algum livro de autoajuda. Mas o que mais me preocupa é a escolha de Felipão para assessor do Ministério do Esporte. Isso parece um recado para o Marín, presidente da CBF, que o técnico preferido do governo e do povo é Felipão.
- Hummm… Acabou o tempo. Quero que fale também de você, e não somente da seleção. Te espero na próxima semana.
- Nossos encontros têm de ficar em segredo. Se descobrirem, vão dizer que sou um homem fraco, depressivo.
15 de outubro de 2012
Tostão (O Tempo)
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