"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 18 de novembro de 2012

AS COISAS GENIALMENTE SIMPLES

 

 Nos inícios dos anos 1960, conheci uma jovem, marcamos ir ao cinema e depois ele me convidou para ir à sua casa tomar alguma coisa. Morava num quitinete em Botafogo (RJ). Logo que entramos, como havia sujado a mão de sorvete, pedi para ir ao banheiro. Ao entrar assustei-me, numa prateleira estavam limpos arrumados mais de 20 açucareiros de botequim. Não resisti em perguntar do que se tratava e ela ingenuamente me contou:
 
- É que eu sempre esqueço de comprar açúcar, por isso vou até um bar, peço um cafezinho, jogo o açucareiro cheio dentro da minha bolsa e tudo fica resolvido.
 
 
Essa fato me fez lembrar outro acontecido, 10 anos antes. Morava no subúrbio carioca do Jacaré, tinha um colega cujo pai era dono do bar, o açucareiro era uma cuia descoberta, sempre cheia de moscas e com uma colher imunda para servir-se.
Minha mãe tinha uma fábrica de cerâmica, onde trabalhava como pintor seu Hermínio, ele tinha feito escolas de belas artes e era um grande contador de histórias, por isso eu sempre estava rondando sua mesa.
Pontualmente às 3 da tarde ele tirava o guarda-pó, vestia um paletó e ia tomar um café. De uma feita ele me convidou a ir com ele, lhe disse que não tomava café e ele retrucou:
- Mas um guaraná caçula você toma?
 
Claro que eu tomava, assim saímos os dois, automaticamente fui entrando no bar do meu colega, mas seu Hermínio disse que lá ele não ia e assim fomos em outro um pouco mais adiante, então ele me disse, que ia nesse porque tinha açucareiro de vidro, daqueles que tem uma tampinha que se abre quando é virado.
Eu não conhecia aquele apetrecho e seu Hermínio me explicou, que na outra fábrica que ele havia trabalhado, uma vez o patrão o chamou, e lhe disse para ajudar um moço que estava a seu lado, este contou que havia pensado em um novo tipo de açucareiro, tinha feito um esboço mas não sabia desenhar.

- Assim desenhei esse açucareiro que você me viu usando. – completou seu Hermínio.
Jamais fui um bebedor de café, mas quando mudei para a Itália, o balcão onde se serve o vinho serve-se também o café. Notei que não tinha açucareiro, há um pote de louça, cheio de envelopinhos de uma dose, pode-se escolher aquele mascavo de cana, o branco de beterraba, ou o adoçante.
 
Um dia num dos subúrbios da cidade, calhou que entrasse num velho e pequeno bar, qual não foi minha surpresa ao ver um açucareiro de vidro, tem alguma diferença daqueles usados no Brasil, a cada virada e derrama somente uma dose, querendo-se mais deve-se repetir a operação. (foto dos dois).
 
Interessei-me sobre o que acabar de ver e fiquei sabendo que fora inventado em 1956 pelo alemão Theodore Jacob.
 
Depois fiz uma relação de coisas simplesmente geniais que usamos e passam a fazer parte de nós. Se parecem palavras de nossa linguagem quotidiana, as usamos e chega, não se pensa muito. Com o tempo pouco mudaram, todavia quase não se sabe quem foram os inventores Seguem algumas e seus respectivos criadores:
 
Fecho Éclair (zíper): Foi inventado em 1913 pelo engenheiro sueco Gideon Sundback, que ele chamou de fecho à relâmpago, devido a velocidade em relação aos antigos botões.
 
Caneta esferográfica (Bic): No Brasil é chamada de Bic, este nome vem de Marcel Bich, que em 27/12/1950, lançou uma caneta esferográfica que chamou de BIC Cristal.
Todavia na Europa e conhecida como Biro, devido ao nome de seu inventor, o jornalista húngaro Lászió József Biró, que em Buenos Aires começou a produzir sua invenção, que foi patenteada em 1938.
 
Suporte para fita Durex: Os primeiros era de ferro fundido e pesavam 3 kg., foi projetado por John Bordem em 1932, ele era o responsável pelas vendas da 3M, fabricante da fita adesiva marca Durex. O modelo plástico foi lançado em 1940.
 
Chapinha de garrafa: Antes do advento da tampa a coroa (chapinha), no Brasil produziam-se cervejas de alta fermentação, também conhecidas como “barriguda”, a rolha da garrafa era amarrada com barbante para que não saísse empurrada pela pressão.
Quando surgiram as tipo pilsen (baixa fermentação) serviam-se do barril, como chopp e era muito superior à outra, portanto uma coisa de baixa qualidade, seja o que seja, até hoje é chamada “marca barbante”.
Essa tampa foi inventada em 1892, pelo estadunidense Willian Painter e imediatamente foi usada no mundo inteiro.
 
Calculadora ET66: Seguindo as regras básicas do bom “design”, que deve tornar um produto útil agradável esteticamente e que o ajude a ser entendido, Deter Rams da Apple, em 1987 inventou a calculadora portátil ET66. Uma pequena jóia de tecnologia, simples, descomplicada e econômica.
 
Alfinete de fraldas: Cujo nome certo é alfinete de segurança. Deixei-o para o final pois é uma dos melhores exemplos da simplicidade genial. Foi inventado em 1849, pelo estadunidense Walter Hunt, que além disso projetou a máquina de costura, a campainha de bonde, o velocípede etc…
 
O material do primeiro era o latão, mas o resto permanece imutável; 20 cm. de fio enrolado com uma extremidade em ponta e outra com uma cápsula de proteção, que resolve tantos pequenos problemas de todos os dias.
Existe toda uma poesia escondida nesses objetos, é só descobri-la.

18 de novembro de 201
Giulio Sanmartini

(1) Fotomontagem: Açucareiros (brasileiro e italiano), fecho éclair, ceneta Bic, suporte para fita Durex, chapinha, calculadora ET66 e alfinete de fraldes.

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