Nos anos 1980, o economista Edmar Bacha cunhou uma palavra brilhante para designar o Brasil: Belíndia. Éramos uma mistura de Bélgica com Índia, em parte avançados como os belgas, em parte pobres como os indianos.
Trinta anos se passaram, e nem a Bélgica é mais modelo de avanço e nem a Índia de miséria. Mas o Brasil continua a ser um país de chocante contrastes e de abjeta iniquidade.
As estatísticas mostram melhoras no combate à pobreza, sobretudo nos últimos dez anos. Mas, longe dos números, os olhos dos brasileiros continuam a ser agredidos com imagens de uma pobreza inaceitável para a sexta economia do mundo.
Você anda por São Paulo e não escapa da visão aterradora de favelas. Como uma cidade tão rica pôde deixar que habitantes seus levem uma vida tão degradante?
O mesmo tipo de cena se repete, ainda com mais intensidade, em Salvador, para onde vim em viagem de negócios. A divisão consagrada pelo Movimento Ocupe Wall Street – 1% da população na opulência, 99% na penúria – parece se encaixar à perfeição em Salvador.
Como isso pôde acontecer em São Paulo, em Salvador, enfim em todo o Brasil? Sucessivos governos centrais e estaduais foram cegos? Ou foram, de alguma forma, sequestrados pelo “1%” ?
A mídia, que deveria fiscalizar presumivelmente os governantes, não se deu conta do país absurdamente injusto que estava sendo construído ao mesmo tempo em que ela se dedicava, e se dedica ainda, a nhenhenhéns intermináveis?
Onde o interesse público? Alguém achava que a sociedade brasileira era sustentável quando tão poucos desfrutavam de tanto e tantos de tão pouco? Ninguém imaginou que da Belíndia resultariam altos índices de criminalidade, e por fim uma minoria bem de vida cercada de muros e apavorada diante de riscos como o banal ato de andar nas ruas das cidades?
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DESIGUALDADE
Os historiadores poderão responder a tais questões com mais profundidade. A mim, aqui e agora, olhando para trás, parece que o Brasil da Belíndia merecia governantes melhores e uma mídia melhor.
No mundo todo, a questão da desigualdade ocupa a prioridade nos debates dos homens públicos. É hora de o Brasil, como um todo, discutir a sério isso.
Se for formado um consenso em torno da questão da justiça social, o Brasil pode tornar muito mais veloz, e menos traumática, a marcha contra a miséria.
Na Escandinávia, com seu admirável sistema econômico em que o capitalismo aberto e competitivo recebeu o contraponto do igualitarismo social, as coisas não aconteceram por sorte.
Formou-se, lá, um consenso pelo qual a sociedade entendeu que, para ser harmoniosa, as grandes empresas e os milionários tinham que dar sua justa contribuição à comunidade, a começar pelo imposto de renda.
Por trás do consenso escandinavo estava uma geração de economistas brilhantes, como o Nobel Gunnar Myrdal. Myrdal e seus pares perceberam que o capitalismo nórdico tinha que ser protegido de capitalistas predadores, ávidos por transformar o Estado em babás deles.
No Brasil, nunca houve um consenso dessa natureza. Mas pode ser a hora. Os fatos gritam.
É chocante que um partido como o PSDB não tenha feito – anos atrás — da redução da desigualdade uma bandeira. Dada a força do partido, isso teria apressado o consenso.
O PSDB, ao cometer um erro tão monstruoso, condenou-se a ser hoje o reduto dos reacionários mais obtusos do país, sob a égide de José Serra, o homem do kit gay e da fixação quase homoerótica por José Dirceu.
Varrido (presumivelmente) Serra, as chances de um consenso antidesigualdade voltam a ser viáveis.
Que ele se torne realidade, e rapidamente – ou então de Belíndia passaremos a Dinamália, a mistura da Dinamarca com a Somália.
Trinta anos se passaram, e nem a Bélgica é mais modelo de avanço e nem a Índia de miséria. Mas o Brasil continua a ser um país de chocante contrastes e de abjeta iniquidade.
As estatísticas mostram melhoras no combate à pobreza, sobretudo nos últimos dez anos. Mas, longe dos números, os olhos dos brasileiros continuam a ser agredidos com imagens de uma pobreza inaceitável para a sexta economia do mundo.
Você anda por São Paulo e não escapa da visão aterradora de favelas. Como uma cidade tão rica pôde deixar que habitantes seus levem uma vida tão degradante?
O mesmo tipo de cena se repete, ainda com mais intensidade, em Salvador, para onde vim em viagem de negócios. A divisão consagrada pelo Movimento Ocupe Wall Street – 1% da população na opulência, 99% na penúria – parece se encaixar à perfeição em Salvador.
Como isso pôde acontecer em São Paulo, em Salvador, enfim em todo o Brasil? Sucessivos governos centrais e estaduais foram cegos? Ou foram, de alguma forma, sequestrados pelo “1%” ?
A mídia, que deveria fiscalizar presumivelmente os governantes, não se deu conta do país absurdamente injusto que estava sendo construído ao mesmo tempo em que ela se dedicava, e se dedica ainda, a nhenhenhéns intermináveis?
Onde o interesse público? Alguém achava que a sociedade brasileira era sustentável quando tão poucos desfrutavam de tanto e tantos de tão pouco? Ninguém imaginou que da Belíndia resultariam altos índices de criminalidade, e por fim uma minoria bem de vida cercada de muros e apavorada diante de riscos como o banal ato de andar nas ruas das cidades?
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DESIGUALDADE
Os historiadores poderão responder a tais questões com mais profundidade. A mim, aqui e agora, olhando para trás, parece que o Brasil da Belíndia merecia governantes melhores e uma mídia melhor.
No mundo todo, a questão da desigualdade ocupa a prioridade nos debates dos homens públicos. É hora de o Brasil, como um todo, discutir a sério isso.
Se for formado um consenso em torno da questão da justiça social, o Brasil pode tornar muito mais veloz, e menos traumática, a marcha contra a miséria.
Na Escandinávia, com seu admirável sistema econômico em que o capitalismo aberto e competitivo recebeu o contraponto do igualitarismo social, as coisas não aconteceram por sorte.
Formou-se, lá, um consenso pelo qual a sociedade entendeu que, para ser harmoniosa, as grandes empresas e os milionários tinham que dar sua justa contribuição à comunidade, a começar pelo imposto de renda.
Por trás do consenso escandinavo estava uma geração de economistas brilhantes, como o Nobel Gunnar Myrdal. Myrdal e seus pares perceberam que o capitalismo nórdico tinha que ser protegido de capitalistas predadores, ávidos por transformar o Estado em babás deles.
No Brasil, nunca houve um consenso dessa natureza. Mas pode ser a hora. Os fatos gritam.
É chocante que um partido como o PSDB não tenha feito – anos atrás — da redução da desigualdade uma bandeira. Dada a força do partido, isso teria apressado o consenso.
O PSDB, ao cometer um erro tão monstruoso, condenou-se a ser hoje o reduto dos reacionários mais obtusos do país, sob a égide de José Serra, o homem do kit gay e da fixação quase homoerótica por José Dirceu.
Varrido (presumivelmente) Serra, as chances de um consenso antidesigualdade voltam a ser viáveis.
Que ele se torne realidade, e rapidamente – ou então de Belíndia passaremos a Dinamália, a mistura da Dinamarca com a Somália.
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