"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 7 de novembro de 2012

VIOLÊNCIA DESVAIRADA




O problema da violência urbana que o Rio, se não resolveu, pelo menos equacionou está se apresentando na pauliceia como uma onda desvairada de crimes.

Enquanto a PM fluminense registrou nos primeiros nove meses de 2012 a maior queda no número de vítimas de homicídios no estado em 21 anos, a polícia de SP contabilizou em setembro, na capital, um aumento de 96% em relação ao mesmo período do ano passado.

Foram 135 casos ou quatro por dia. Para isso, contribuíram as ocorrências de PMs executados e mortes suspeitas de civis. Até o último fim de semana, mais de 90 policiais tinham sido assassinados desde janeiro. Apenas na madrugada de ontem, sete pessoas foram mortas, e três ônibus, incendiados.

Estranho que só agora as autoridades resolveram aceitar a ajuda oferecida pelo governo federal. Antes, a Secretaria de Segurança atribuía ao “exagero” da imprensa e à “coincidência” essa sucessão de mortes com características semelhantes: homens armados em carros ou motos disparando e fugindo em seguida.

Negava a escalada até quando, em três noites seguidas em fins de outubro, na Grande SP, houve uma série de ataques, boatos de toque de recolher, viaturas da polícia alvejadas e 38 mortes.

Ao mesmo tempo em que a população indefesa assistia a essa guerra entre policiais e bandidos, com os primeiros sendo perseguidos, em vez de perseguir, uma outra de palavras, um bate-boca, acontecia entre o governo estadual e Brasília.

O desentendimento se deu quando o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, propôs um plano de ação integrada que consistia na criação de uma força-tarefa e na desmobilização do PCC, transferindo seus chefes para distantes presídios federais. O primeiro a ser transferido seria Piauí, membro da facção na favela de Paraisópolis, já ocupada.

O secretário de Segurança, Antonio Ferreira Pinto, recusou a ajuda, alegando, irritado, que o Estado não precisava dos presídios nem de tropas federais. “A proposta é risível. É oportunismo barato.”

Ainda bem que o governador Geraldo Alckmin, depois de conversar por telefone com a presidente Dilma, contrariou seu arrogante secretário afirmando: “Aceitamos de bom grado a ajuda.”

E ontem, ao lado do ministro e do secretário, anunciou medidas conjuntas de combate ao crime organizado.

Só não pôde fazer nada contra vozes insensatas como a do ex-governador Alberto Goldman, que reagiu assim: “As UPPs que eles querem trazer para SP são as Unidades de Política Petista.” Uma opinião, esta sim, “risível”.

07 de novembro de 2012
Zuenir Ventura, O Globo

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