A frase é emblemática e em si exprime, em síntese, uma realidade. O tema começa com a iniciativa da brasileira de Santa Catarina Ingrid Migliorini, que colocou em leilão sua virgindade por 780 mi dólares. Encontrou comprador, que venceu a disputa. Para evitar complicações legais, o sexo deverá ser praticado a bordo de um avião sobre águas internacionais. O assunto, pelo inusitado de que se reveste, despertou interesse geral.
Tudo por dinheiro…
A Veja que está nas bancas publica a opinião de dois juristas, Richard Posmer, que considera legítima a transação e de Michel Sandel, que a condena em face de ultrapassar barreiras éticas. Ambos são renomados juristas. Mas a questão não se restringe ao aspecto jurídico. E sim projeta-se no plano social e político.
Não se trata de algo legal ou ilegal, mas sim ilegítimo como manifestação de interesse coletivo. Afinal de contas, no mundo nem tudo pode se encontrar à venda. Se assim fosse, não existiria limite para coisa alguma. Nem na vida privada, que no caso de Ingrid se tornou público, tampouco diante da visão coletiva. Não se trata somente de um exemplo de conduta e sim de uma realidade das mais amplas.
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MUITOS EXEMPLOS
Os exemplos conduzem ao insucesso do poder ou do dinheiro como instrumento supremo de solução. Pelo contrário. Os exemplos são muitos. A começar pelas guerras, pelo comércio de armas, pela corrupção, que esbarrou em limites do Supremo Tribunal Federal e na Justiça das Ilhas Jersey. Mas não são apenas estes os limites. Os limites encontram-se na divisão entre o ser e o existir.
A existência, com sua essência, impõe barreiras. Não somente as que separam a religiosidade da vida humana, terrena. Não se pode esquecer que todas as religiões, sem exceção, impõem as mais fortes barreiras do poder do metal como regente do comportamento em geral.
Colocada esta questão, há de existir motivo para tal convergência. Um convergência que aproxima o divino do terreno, uma vez que não se pode comprar passagem para a vida eterna, a não ser com o próprio esforço honesto e legítimo de cada um.
Não quero dizer que Ingrid e o japonês que se propõe ao ato sejam desonestos, embora tais comportamentos sejam reprováveis. Desonesto é pensar que o dinheiro é a fonte de tudo e de todas as coisas. Assim fosse, o mundo não teria chegado ao progresso a que chegou. Sim. Porque a honestidade não está apenas no dinheiro, mas sobretudo no uso do conhecimento científico, das ações políticas, dos princípios sociais.
A venda de uma virgindade feminina, talvez por sua raridade, já que a partir da plena juventude ela foi deixando de existir, consequência dos anticoncepcionais que surgiram na décda de 60. O que no passado na mulher solteira era quase uma regra, inclusive no Brasil, ou mesmo no Brasil, para assinalar uma diferença cultural, transformou-se em exceção.
Como a de Ingrid Migliorini que justamente em função disso, alcançou, através de um leilão internacional, o valor que está publicado nas páginas dos jornais, das revistas, nas telas da televisão. Um caso isolado, ao mesmo tempo um exemplo que colide com a ética quando expõe um comportamento privado a uma transação pública.
20 de novembro de 2012
Pedro do Coutto
Tudo por dinheiro…
A Veja que está nas bancas publica a opinião de dois juristas, Richard Posmer, que considera legítima a transação e de Michel Sandel, que a condena em face de ultrapassar barreiras éticas. Ambos são renomados juristas. Mas a questão não se restringe ao aspecto jurídico. E sim projeta-se no plano social e político.
Não se trata de algo legal ou ilegal, mas sim ilegítimo como manifestação de interesse coletivo. Afinal de contas, no mundo nem tudo pode se encontrar à venda. Se assim fosse, não existiria limite para coisa alguma. Nem na vida privada, que no caso de Ingrid se tornou público, tampouco diante da visão coletiva. Não se trata somente de um exemplo de conduta e sim de uma realidade das mais amplas.
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MUITOS EXEMPLOS
Os exemplos conduzem ao insucesso do poder ou do dinheiro como instrumento supremo de solução. Pelo contrário. Os exemplos são muitos. A começar pelas guerras, pelo comércio de armas, pela corrupção, que esbarrou em limites do Supremo Tribunal Federal e na Justiça das Ilhas Jersey. Mas não são apenas estes os limites. Os limites encontram-se na divisão entre o ser e o existir.
A existência, com sua essência, impõe barreiras. Não somente as que separam a religiosidade da vida humana, terrena. Não se pode esquecer que todas as religiões, sem exceção, impõem as mais fortes barreiras do poder do metal como regente do comportamento em geral.
Colocada esta questão, há de existir motivo para tal convergência. Um convergência que aproxima o divino do terreno, uma vez que não se pode comprar passagem para a vida eterna, a não ser com o próprio esforço honesto e legítimo de cada um.
Não quero dizer que Ingrid e o japonês que se propõe ao ato sejam desonestos, embora tais comportamentos sejam reprováveis. Desonesto é pensar que o dinheiro é a fonte de tudo e de todas as coisas. Assim fosse, o mundo não teria chegado ao progresso a que chegou. Sim. Porque a honestidade não está apenas no dinheiro, mas sobretudo no uso do conhecimento científico, das ações políticas, dos princípios sociais.
A venda de uma virgindade feminina, talvez por sua raridade, já que a partir da plena juventude ela foi deixando de existir, consequência dos anticoncepcionais que surgiram na décda de 60. O que no passado na mulher solteira era quase uma regra, inclusive no Brasil, ou mesmo no Brasil, para assinalar uma diferença cultural, transformou-se em exceção.
Como a de Ingrid Migliorini que justamente em função disso, alcançou, através de um leilão internacional, o valor que está publicado nas páginas dos jornais, das revistas, nas telas da televisão. Um caso isolado, ao mesmo tempo um exemplo que colide com a ética quando expõe um comportamento privado a uma transação pública.
20 de novembro de 2012
Pedro do Coutto
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