Incorreu em grave equívoco quem pensou que o
processo do mensalão acabaria "dando em nada".
Por variados motivos hábito do descrédito,
medida preventiva contra decepções, confiança na morosidade da Justiça ou
certeza de que a composição da Corte majoritariamente formada por indicação de
companheiros de jornada dos acusados seria garantia suprema de submissão.
Concluído o julgamento inédito na duração,
quantidade de réus, número de crimes, gravidade de delitos e complexidade do
esquema montado para financiar um projeto de hegemonia política, resta aguardar
a conclusão os trâmites e daí a execução das punições.
A negativa do ministro Joaquim Barbosa ao
pedido da Procuradoria-Geral da República de prisão imediata dos condenados
talvez tenha até decepcionado os mais exaltados dos dois lados.
Não ofereceu o "sangue" esperado pelos que se
regozijam de maneira exacerbada nem forneceu argumentos aos que se revoltam de
forma desatinada com o resultado do julgamento. Estes estariam prontos para
apontar a "prova" de que Barbosa relatou o processo jogando para a
platéia.
Tudo transcorreu dentro da mais perfeita ordem
institucional e com uma vantagem de natureza moral: o STF deu um alento aos que
nos últimos tempos assistiram perplexos à escalada de impunidade de cinismo,
muitas vezes duvidando do que viam e ouviam. Não raro até pensando se talvez não
tivessem razão os que atribuíam a enxurrada de ilicitudes a uma injusta
perseguição.
Diante de toda narrativa, ficou patente que não
se tratou de mera compra de votos no Parlamento para aprovação de projetos. O
mensalão propriamente dito acabou emprestando nome ao episódio, mas não foi o
mais relevante naquilo que o ministro Marco Aurélio Mello chamou de "esse grande
todo" quando : do recebimento da denúncia, em 2007. Por "todo" entenda-se o
método do ; PT de arrecadar dinheiro e cooptar sustentação partidária para
financiar o projeto de se tornar inamovível do poder por meio do voto.
Para tanto, mandou os escrúpulos às favas e
aliou-se aos piores tipos dentro e fora da política. Imaginou que poderia
manipulá-los mediante o atendimento de seus interesses na máquina pública e
ainda sair-se ileso pelo fato de ser o sócio ideológico do esquema.
O partido foi denunciado pelos comparsas e,
assim, os ideológicos acabaram dividindo com os fisiológicos o mesmo doloroso
destino.
Fora da curva. Justiça seja feita, o
deputado Marco Maia nunca disse que esconderia parlamentares da Polícia Federal
na Câmara.
A versão prosperou por causa da declaração
ambígua dele na entrevista coletiva de quinta-feira.
Maia tanto fez para tirar o corpo fora das
perguntas sobre o tema, que terminou dando margem àquela interpretação. Indagado
se abriria as portas da Câmara para eles, saiu pela tangente: "As portas da Casa
estão abertas a todos".
Se a alma petista não tivesse falado mais alto,
poderia ter dito simplesmente que o Parlamento não é esconderijo.
Calendas. Depois que a emenda
constitucional extinguindo o voto secreto para cassação de mandatos foi aprovada
pelo Senado, a orientação para a maioria governista na Câmara era aprová-la
ainda neste ano.
Em novembro, a proposta recebeu parecer
favorável na Comissão de Constituição e Justiça e já poderia nessa altura ter
passado pela comissão especial e ido a plenário.
Diante da possibilidade de a Câmara dar a
última palavra sobre a perda de mandato dos condenados, porém, tomou um chá de
bela adormecida e descansa em berço esplêndido.
23 de dezembro de 2012
Dora Kramer
Nenhum comentário:
Postar um comentário