"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 2 de dezembro de 2012

NECROLÓGIO

 

necrologioEsperei alguns dias para escrever a respeito, esperando para ver o que se dizia dele.
Um dos jornalistas que eu mais apreciava. Dizia o que devia e o que queria, sem se preocupar se agradava ou não aos poderosos.

Nunca se ouviu dizer de qualquer picaretagem sua. Não era um jornalista vendido. Joelmir José Beting (foto) nasceu em Tambaú, interior de São Paulo, em 21 de dezembro de 1936.

Em 1957, encorajado pelo respeitado Padre Donizetti Tavares de Lima, a quem se referia como “guru espiritual e profissional” – começou a estudar sociologia na USP (Universidade de São Paulo) para “fazer carreira no jornalismo”.

No jornalismo, iniciou na editoria de esportes, em 1957. Trabalhou nos jornais “O Esporte” e “Diário Popular” e também na rádio Panamericana, que posteriormente virou Jovem Pan.

Em 1962, sociólogo formado, trocou o jornalismo esportivo pelo econômico. Em 1991, nova fase no jornal “O Estado de S.Paulo”.
Em texto publicado por Joelmir em seu site, ele descreveu a coluna como o pau-da-barraca profissional. “Com ela, desbravei o economês, vulgarizei a informação econômica, fui chamado nos meios acadêmicos enciumados de ´Chacrinha da Economia´, virei patrono e paraninfo de 157 turmas de formandos em Economia, Administração, Engenharia, Agronomia, Direito”.

De acordo com a nossa senhora dona “presidenta”, foi “mestre” em uma das missões primordiais do jornalismo: a de explicar as notícias mais complexas, de uma forma simples; como colunista de jornal, TV e rádio Joelmir Beting abriu caminhos para um jornalismo econômico, sob o ponto de vista do cidadão.

Não de autoridades, nem de corporações. Ela encerrou a nota dizendo que as lições de Beting merecem ser seguidas. O corpo do jornalista Joelmir Beting foi cremado na tarde do dia 29 de Novembro, em Itapecerica da Serra, na grande São Paulo.

Beting tinha 75 anos e morreu de AVE – Acidente Vascular Encefálico. Velado no Cemitério do Morumbi, na zona sul da capital paulista. O Palmeiras, time de coração de Beting, divulgou uma nota em homenagem ao seu ilustre torcedor.
O clube enalteceu o amor que ele tinha pelo Verdão e lembrou uma frase imortalizada na voz de Joelmir: “Explicar a emoção de ser palmeirense a um palmeirense é totalmente desnecessário. E a quem não é palmeirense, é simplesmente impossível”.
Foi também o autor, não da frase mas, da placa comemorativa de gol do Pelé: Gol de Placa.

AVE, JOELMIR – (Perdoe o trocadilho. Acho que você gostaria. Como os romanos diziam, Ave Cesar – Salve, Cesar) - O profissional vai mas, a obra fica.

Confira frases marcantes dele.

 “Quem não deve, não tem”.

 “As Bolsas de Valores, como os aviões, são cem por cento seguras: todo avião que sobe, desce”.

“Temos seis calendários no mundo de hoje: o calendário gregoriano ou cristão, o calendário judaico, o calendário islâmico, o calendário japonês, o calendário chinês e o calendário brasileiro”.

 “Se não podemos melhorar o que causa a febre, pelo menos temos de melhorar a qualidade do termômetro”.

 “A natureza não se defende; ela se vinga”.

“Metade da humanidade passa fome. A outra metade faz regime”.

“Em economia, é fácil explicar o passado. Mais fácil ainda é predizer o futuro. Difícil é entender o presente”.

 “Não há soluções políticas para problemas econômicos”.

 “Você só consegue explicar aquilo que entendeu”.

“Modernizar não é sofisticar. Modernizar é simplificar”.

 “Quando os preços sobem é inflação; quando descem é promoção”.

“A gestão da economia tem apenas dois problemas: quando as políticas fracassam e quando as medidas funcionam”.

 “A verdade é que o Brasil teima em não fazer 70% do que deveria fazer, nem 50% do que já poderia ter feito. O tal de neoliberalismo nada tem a ver com isso”.

“No Brasil, fomos dopados pela cultura da abundância, irmã siamesa da cultura da ineficiência, da acomodação e da tolerância; responsável pelo nosso atávico desperdício de terra, de água, de mata, de energia, de sossego e de gente”.

“É melhor uma Ford na Bahia do que na Argentina. As isenções fiscais referem-se a impostos futuros que não existiriam sem a fábrica funcionando”.

E a última registrada, que ficará para as calendas:

“O PT é, de fato, um partido interessante. Começou com presos políticos e vai terminar com políticos presos”.

(*) Necrológio, um elogio a pessoa falecida.
02 de dezembro de 2012
magu

 

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