Bastou que os assuntos de alcova, captados na Operação Porto Seguro, ganhassem o noticiário nacional para que surgisse uma tropa de choque midiática para defender Rosemary Nóvoa de Noronha, então chefe de gabinete do escritório paulista da Presidência e demitida na esteira da ação da Polícia Federal, e a ex-primeira-dama Marisa Letícia.
Com a eclosão do mais novo escândalo de corrupção envolvendo o PT, notícias de que Lula e Rosemary eram amantes correram o País como se rastilhos de pólvora fossem. E alguns profissionais da imprensa afirmaram sentir asco de informações como “sabia que ela era amante do Lula?”, “a informação é de fonte segura”, “ela tinha passaporte diplomático”, e assim por diante.
Sou obrigado a discordar desses escribas que saíram em defesa das duas damas, a primeira e a segunda, pois aquele que alcança um cargo público deve redobrar o cuidado na vida privada. À imprensa não cabe bisbilhotar a intimidade da autoridade, mas essa deve saber o que faz e como faz.
Alguns reclamaram que as notícias não foram claras e objetivas em relação ao suposto romance entre ambos, ficando apenas nas entrelinhas e nos eufemismos. Quem disse que Rosemary era namorada de Lula não foram setores da imprensa, mas a própria, que usava esse “trunfo” para pedir favores absurdos e desautorizar algumas autoridades da máquina federal. Ou seja, Rosemary se apresentava como segunda-dama e muitos sabiam desse detalhe explosivo.
E se ela chegou a cargo tão importante porque conheceu Lula na horizontal, isso mostra a forma canalha como o PT conduz o Brasil.
Quem acusou Rosemary de Noronha de ter cometido falcatruas não foram os jornalistas, mas a Polícia Federal, que a indiciou, junto com seus comparsas, por tráfico de influência, corrupção e outros crimes.
Ao noticiar que a segunda-dama teve, durante a era Lula, passaporte diplomático, o fiz após me certificar do fato. E por consequência produzi matéria afirmando que tal status dá direito à chamada “mala diplomática”, que pela Convenção de Viena não pode ser aberta, revistada ou retida por qualquer autoridade, exceto se há suspeita de cometimento de algum ilícito por parte do portador do passaporte especial, que é uma espécie de abre portas em quase todo o planeta.
Nas tais “malas diplomáticas”, que não têm limite de tamanho ou peso, pode-se levar de tudo, inclusive dinheiro de corrupção. O que não significa que Rosemary tenha cometido esse delito. Apenas relatei de forma sucinta acontecimentos passados, que podem ocorrer no presente e no futuro.
A notícia de que 122 telefonemas entre Rosemary e Lula foram gravados não foi invenção da imprensa, mas vazou da própria Polícia Federal, que agiu dentro da lei, independentemente dos alvos da investigação.
Quando noticiei que as conversas entre ambos eram explosivas e que o ex-presidente se complicaria no âmbito pessoal, também o fiz depois de ter certeza da informação.
Consultei diversas e variadas fontes, que uníssonas confirmaram o fato. Desde integrantes da PF a pessoas que frequentam o gabinete de Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, e outras que gravitam na segunda órbita do ex-metalúrgico.
O conteúdo das conversas é tão explosivo e comprometedor, que o Palácio do Planalto agiu rapidamente para sumir com as gravações do inquérito, pois Lula precisa continuar como a versão tropical de Messias, uma espécie de derradeiro salvador da humanidade.
Coisa de governo que prega a transparência somente da boca para fora e continua acreditando que a PF não é uma polícia de Estado.
Como era de se esperar, a tropa cibernética do PT partiu para o contra-ataque, afirmando que aqueles que escreveram sobre o tema avançaram o sinal. Foi o caso do jornalista Reinaldo Azevedo, da Veja, que foi imediatamente crucificado por causa das estripulias de Lula.
Em outras palavras, Lula apronta como e quando quer, mas a culpa é da “imprensa golpista”.
José Dirceu, mensaleiro condenado a dez anos de prisão, já afirmou que a Operação Porto Seguro é o “Mensalão 2”. Traduzindo para o bom e velho idioma dessa tresloucada Terra de Macunaíma, a Polícia Federal, que é comandada por um petista, José Eduardo Cardozo, agiu a mando da oposição.
Na versão paranóica de Dirceu, o companheiro Lula não sabia de coisa alguma, Rosemary jamais disse ser namorada do ex-presidente, o número 2 da Advocacia-Geral da União é coroinha de igreja, não houve venda de pareceres técnicos nas agências reguladoras e ninguém cobrou propina. Resumindo, a oposição além de incompetente é malvada.
Desde já esclareço que sou radicalmente contra traição, mas até na hora de pular a cerca Lula comete lambança. É fato que não se avalia uma pessoa pela aparência, mas escreveu o saudoso Vinícius de Moraes, em “Receita de Mulher”, “As muito feias que me perdoem / Mas beleza é fundamental…” Estivesse vivo, Vinícius por certo daria uma carraspana em Lula, não pela traição, mas, como ele próprio escreveu na poesia, “Não há meio-termo possível. / É preciso / Que tudo isso seja belo…”.
E nesse quesito Lula tem a ilustre companhia de Bill Clinton, que viu em Monica Lewinski o que o mundo ainda não descobriu.
Pouco importa se ambos eram amantes ou não, mas desde já é preciso que todos os brasileiros reconheçam que Lula jamais será um John Kennedy e Rosemary está longe de ser Marilyn Monroe. Até porque, “Happy Birthday, Mr. President” somente Norma Jeane Baker soube cantar com tamanha sensualidade e competência.
02 de dezembro de 2012
Ucho Haddad
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